Lúgubre
Por mais que eu tivesse anseios em sair de lá, sabia que minha alma pertencia àquele lugar tenebroso onde o odor escarlate emanava de cada puído tijolo, onde a escuridão chegava a ser tangível.
Após o empurrão, me afastei do salão principal, mas permaneci estática diante daquela figura horrífica, enquanto os musicistas dedilhavam seus dedos sangrentos sob as cordas de aço do violino que lamentava a cada acorde tocado.
— Senhorita! Perdoe minha indelicadeza, permita-me recomeçar por favor, meu nome é Conde Nickollas, disse ele, seus lábios moviam com elegância, e os olhos azuis, apesar de vazios, iluminaram aquele pálido rosto, as maçãs do rosto eram protuberantes, seus lábios sedutores eram um convite à luxúria, emoldurando seu fino rosto. Cabelos lisos, penteados para trás em tons castanhos, ele se portava como um verdadeiro lord, seu vocabulário era riquíssimo.
— Me chamo Rose — minha voz soou trêmula como um sussurro, ele me convida novamente para dançar, aceito seu convite. Enquanto caminhava, o imenso salão tornou-se vazio, tal qual numa dança nupcial, o que causou desconforto, pois era uma lembrança dolorosa, não sei como sobrevivi àquele casamento... foram anos terríveis ao lado daquele crápula, ainda carrego marcas, imersa naquele poço lamacento de lembranças. Ele me conduz de forma gentil, assim como fizera mais cedo.
Meus cachos ruivos bailam no ar, ao som daquele nefasto quarteto de cordas que agora executava a fúnebre peça de Bach: Toccata and Fugue. Enquanto bailo, questiono minha sanidade, tudo isto é real? Quem será o dono deste colossal castelo? O castelo é real? Devo estar em algum sonho, ou em alguma realidade paralela. Meu par, percebeu minha inquietação, envolveu seus braços em volta da minha cintura, sorriu e disse: — Senhorita Rose, o que lhe aflige? — Meu busto palpitava, olho em volta, sinto a volúpia através das máscaras, sussurros se intercalam com sorrisos.
— Não há o que temer... — em seguida ele sorriu, então, vislumbrei o que seus lábios de seda escondiam, eram caninos pontiagudos brilhantes. Desviar o olhar se tornou uma árdua tarefa.
Uma leve vertigem apoderou-se de mim, disse-lhe que não me sentia bem, então fomos em direção a uma das inúmeras janelas. Chegando lá, fomos agraciados com uma túrgida e lânguida lua, brilhava soberana sob a temível escuridão. Fui arrebatada por aquela visão, fui tomada por um inominável terror, mas não consegui emitir nenhum som. Ao abri a janela, uma impetuosa lufada de vento nos abraça, se não fosse a rapidez do meu par, estaria ao chão.
Olhando em meus olhos ele disse: — Notei que você está fraca, suponho que esteja faminta, vamos alimente-se. — Ele, então, ergueu seu punho sob a luz do lúgubre luar, era possível ouvir o pulsar de suas veias, sem pensar, cravo minhas presas com vigor em seu braço, sinto o rasgar de sua pele, e finalmente vejo a vida escorrendo do braço, o líquido viscoso e amargo desce por minha garganta, estava faminta, por mais que o gosto fosse repulsivo, eu precisava.
Espasmos percorriam meu corpo, acompanhados de gemidos inaudíveis, meus lábios e busto estavam manchados de escarlate, assim como meu lindo vestido.
Experimentei um profundo torpor, foi mais devastador do que a primeira vez, olhei ele e agradeci, após isto, sucumbi em seus braços.
Acordei nos meus aposentos com uma forte dor de cabeça e náuseas. Eu ainda estava de vestido, o vestido com manchas escarlate, e aquele estranho gosto na boca. Pouquíssimo me recordo da noite anterior, então permaneço deitada e tento entender o que ocorrera.
Pablo é um escritor nascido no Nordeste do Brasil, em João Pessoa. Possui uma escrita bastante carregada em angústia, com a essência do terror, horror e ultrarromantismo. Sua paixão pela Literatura Gótica começou na infância. Algumas de suas referências literárias são: Mary Shelley…
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