Atenção! Esta obra pode conter cenas sexuais explícitas e linguagem sexual.

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Enquanto guardo minha obsessão em meu íntimo, um pensamento sorrateiro surgiu, causando-me calafrios: será que mais alguém achou o temível livro? Abro a porta, olho em volta e, aparentemente, não há ninguém. Perambulando, encontro um dos muitos corredores existentes; conforme atravesso, lembro do encontro interessantíssimo que tive com o professor Monm, uma figura distinta. Dificilmente esqueceria o brilho em seus olhos, pois ele é semelhante ao meu... gostaria muito de ser uma de suas alunas, tenho certeza de que seu conhecimento seria de valor inestimável para mim. Espero que o Castelo proporcione nosso reencontro.

Ao final do corredor, encontro o grandioso salão, palco de uma noite memorável. Foi exatamente aqui onde ocorreu o primeiro baile de máscaras. As lembranças que pareciam estar adormecidas despertam com mais intensidade. Imediatamente, vislumbrei o vazio se materializar através de memórias fantasmagóricas.

Com clareza, vi o lugar sendo ocupado por mulheres e homens em trajes de gala, ostentando suas exuberantes máscaras. Reverberava em meu ouvido as funestas notas da peça Toccata and Fugue (música tocada pelo quarteto naquela ocasião). Contemplo os vultos em longos vestidos rodopiando em tonalidades diferentes, sem contar aquele vertiginoso encontro com aquela criatura lúgubre de olhos azuis, tão enigmáticos quanto a vastidão do universo.

Defronte para o silêncio, sussurro seu nome com a delicadeza de quem assopra a chama de uma vela: “Nickollas”. Meus caninos sobressaltam; não consegui disfarçar o desejo sombrio. Fito a janela onde ele me levou naquela noite para observar a túrgida lua — lembro de como a veia em seu pulso resplandecia à penumbra do luar e do excitante som ao rasgá-lo.

Mas algo me trouxe à tona: um brilho arcano de tonalidade magenta surgia pelos arredores do Castelo. Conforme ia se aproximando, clareava o recinto. O que será isto? Assustada, vou até a janela e a atravesso. O frescor da brisa toca minha tez ávida (não lembro a última vez que saí do Castelo).

Era impressionante a dimensão da névoa. Via-se pouquíssimo do firmamento, assim como a vasta e verdejante vegetação composta por exuberantes carvalhos com suas belas folhas, altas faias, baixos arbustos e, pelo chão, gramíneas cresciam desenfreadamente. Avisto uma esguia trilha que se estendia mata adentro; decido segui-la.

Nos primeiros passos, um frescor inexplicável invade meus pulmões, como se ali tivesse caído uma forte chuva. Tive a nítida sensação de que a vegetação se movia, como se estivesse respirando. Abaixo e inspiro aquele cheiro melancólico; então, enterro meus dedos sob aquele solo úmido, deixo escapar um gemido inaudível, acompanhado de intenso salivar. Retiro-os ainda úmidos (isso foi intenso) e sigo em frente.

A bruma que outrora era magenta adquiriu tons em escarlate e também ficou mais densa. Após muito caminhar, tenho um vislumbre espetacular: perante a mim, erguia-se um arco esculpido em mármore branco, de altura considerável. Os galhos das faias abraçaram aquela estrutura com afinco.

Estava perplexa com este lugar. Será que acessei outra realidade? Um brilho longínquo surgia dentro da mata. Munida de curiosidade e excitação, atravesso e, mais alguns passos à frente, encontro uma ampla piscina. Parece ser profunda, sua borda feita do mesmo material do arco. As águas eram serenas e sombrias, de mesmo tom da névoa, porém a cor escarlate era predominante.

Um incontrolável desejo de mergulhar se apoderou de mim. Estava prestes a realizar tal ato quando ouço passos em meio à névoa. Sem dúvidas, uma visão espantosa, semelhante a uma aparição fantasmagórica, movia-se com espantosa graça. Parou em frente à borda; então, tive um vislumbre estupendo.

Uma figura feminina, de altura média, sua pele lívida, semelhante a uma boneca de porcelana, dona de uma beleza arrebatadora. Seus olhos eram um excitante enigma o qual adoraria desvendar. As sobrancelhas eram arqueadas, o nariz afilado, emoldurando aquele rosto, longos cabelos negros com duas mechas brancas, chegando na altura dos quadris.

Usava um vestido translúcido; havia rendas francesas tanto na barra como no provocativo decote, ressaltando ainda mais os esplendorosos e firmes seios. Caminhava naquela névoa, tal qual uma bailarina.

Mesmo sem saber a natureza daquela aparição, anseio ardentemente possuí-la. Assisto-a andar pela borda com muita destreza. Em certo momento, ela mergulha a ponta do seu pé direito na água, espalhando gotículas vermelhas no ar, maculando o vestido, assim como a borda. Vi nascer de seus lábios um sorriso tão enigmático quanto o da Mona Lisa.

É impressionante o poder que ela exerce sobre mim. Seus gestos suaves afloram meu lado selvagem, atiçando uma luxúria quase obscena. Um desejo ancestral floresce do meu âmago; nunca pensei que fosse sentir tais sentimentos.

Desenvolvo uma certa obsessão, beirando ao voyeurismo. É excitante pensar na possibilidade dela estar me vendo... Depois de andar, ela senta com elegância e toca suavemente as águas com os dedos indicador e médio em movimentos circulares, criando calmas ondas. Hipnotizada, contemplo seu reflexo distorcido; então, escuto um sussurro vindo da criatura:

— Me chamo Olívian d’Nehr — finalmente pude ouvi-la. Sua voz era doce e irresistível, como o licor das maçãs sangrentas.

O movimento circular se intensificou, deixando a água cada vez mais agitada. Aquele som fez meu corpo contorcer em espasmos libidinosos. Das minhas entranhas escapam gemidos, até que os movimentos cessam (mas as águas permaneceram inquietas, assim como meu âmago). Em seguida, fitou-me e sorriu, enquanto meu colo pulsava em descompasso. Das águas, ergueu os dedos e me chamou silenciosamente; assim o fiz, caminhei ao seu encontro, sem questionar.

Olívian estava de pé, parada. Seus cabelos bailavam com muita leveza ao som dos ventos. Então, fechou os olhos e despiu-se. Fui acometida por um estado febril intenso; abracei a volúpia com fervor. Neste momento, éramos como Adão e Eva na imensidão do Éden e estávamos prestes a morder o fruto proibido. Gostaria de ter pincéis, tintas e um quadro para eternizá-la; seria uma pintura digna de filas quilométricas, sua beleza era assustadora.

Me despi com uma certa rapidez. Vi seus olhos castanhos escuros brilharem diante do meu corpo nu. Finalmente, estou face a face. Sua respiração tranquila, porém quente, toca meu rosto. Ela tinha as mesmas expressões da pintura “Deusa Vênus” feita pelo talentoso pintor italiano, Sandro Botticelli.

— É um prazer inefável conhecê-la, Olívian — as palavras foram silenciadas pelo desejo. Meneou a cabeça cordialmente, seguido do sorriso enigmático. Ouço novamente mais um sussurro: — Acompanhe-me.

Caminhamos por algum tempo até que avistamos uma frondosa árvore a qual me era familiar. Reconheceria aqueles frutos até de olhos vendados. Daquela árvore vinham as afrodisíacas maçãs sangrentas. Olívian pegou uma das inúmeras maçãs, olhou ardentemente em meus olhos e mordeu com avidez, espalhando pelo ar gotículas. A espessa seiva também serpenteou por entre dedos, mãos, queixo, pescoço, passando por entre o colo, cessando em suas pernas.

Ela me oferece a maçã; mordo com vontade, sinto novamente aquele gosto sombrio, porém inesquecível. Deixo a maçã escapar de minhas mãos. Banhadas pela bruma e pelo tênue luar, nossos corpos ardentes se entrelaçam, tornando-se um só. Sob o úmido chão, me entrego ao oceano de prazeres e libertinagem inimagináveis.

Noctígeno
Rose, uma jovem de espírito sensível, adentra o Castelo Drácula em busca de respostas para os mistérios que a cercam. Lá, ela se depara com um livro encadernado em pele humana, cujas páginas parecem proteger verdades inomináveis. À medida que mergulha nas profundezas do castelo, Rose enfrenta visões perturbadoras e enigmas que desafiam sua sanidade. Em sua jornada, ela descobre que a verdade pode ser mais sombria do que jamais imaginou, e que o conhecimento tem um preço que talvez não esteja disposta a pagar. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Pablo Henrique

Pablo é um escritor nascido no Nordeste do Brasil, em João Pessoa. Possui uma escrita bastante carregada em angústia, com a essência do terror, horror e ultrarromantismo. Sua paixão pela Literatura Gótica começou na infância. Algumas de suas referências literárias são: Mary Shelley, as irmãs Brontë, Agatha Christie, Edgar Allan Poe e William Shakespeare. Pablo Henrique também é artista visual... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa

Leituras recomendadas para você:
Castelo Drácula

Recanto de Literatura Gótica

Anterior
Anterior

Amor Etéreo

Próximo
Próximo

Overdose