Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Por Alana Mortensen

Amo os clássicos, porque vemos que as mesmas inquietações reverberam na atualidade. Ao mesmo tempo que tudo mudou, nada mudou. A forma de comunicação transformou-se, mais ágil e nem sempre assertiva, mas os anseios são os mesmos. A nossa insistência em tentar definir e nomear aquilo, o desconhecido que fascina e aterroriza em iguais proporções.

Lembro-me da primeira vez que li “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, a Alana de quatorze anos ainda tinha sonhos e alegrias por vir. O impacto foi repentino e indecifrável: recebi os golpes, sem saber precisar de qual direção e remetente provinham. A fascinação foi ainda maior após reconhecer que o protagonista somente conseguia ser sincero, porque o além-vida lhe proporcionava esse despreendimento. Entende o que eu quero dizer? O medo de ser rejeitado nos prende à vida cotidiana, aquela na qual todos vagam sem experienciar a Vida.

Para que continuar seguindo as convenções se tudo o que outrora era vida já não mais existe?

Para que continuar dançando a valsa da vida se não há mais parceiros e a música cessou?

Sinto que, ao adentrar o Castelo, sofri a mesma transição que Brás Cubas: já não preciso me preocupar com a minha utilidade na sociedade; já não preciso continuar lidando com as situações sufocantes; já não preciso simular.

Tornei-me transparente. Não vês os meus circuitos internos? Olha como meu coração ainda bate, em um ritmo só dele, ainda bombeando o sangue que faz irrigar cada parte seca do meu corpo.

Quando era criança adorava fingir ser quem não era: professora, médica, forte, executando a “função” com tanta seriedade que ninguém ousava dizer que eu não era uma professora ou médica, ou forte. Aos poucos fui perdendo essa autoconfiança, a adolescência sufoca qualquer voz interior que tenta afirmar que “você é capaz”, ou assim nos fazem acreditar… Falam tanto na nossa cabeça que acreditamos exatamente naquilo que elas querem.

A jovem adulta não ficou menos hesitante, só aprendeu a suprimir esses dissabores, ninguém gosta de pessoa que seja e pareça fraca. Nem eu gostava. Mas aprendi que se deixar sangrar, deixar que vejam meu escoamento também é uma forma de força.

Essa bateria de palavras é somente as divagações de hoje. Aqui eu aprendi que eu posso e serei quem eu quiser. E não me importo se tentarem cerrar as cortinas, pois eu irei transpassá-las e continuarei com a minha apresentação, custe o que custar!

Revisão por Sahra Melihssa
As Incursões de Alana Mortensen
Ao adentrar o Castelo Drácula, a protagonista é envolta por uma realidade onde arte e loucura se entrelaçam. Cada pincelada em sua tela não apenas expressa emoções, mas também convoca entidades que desafiam sua sanidade. Neste ambiente gótico e onírico, ela confronta traumas passados e descobre que a linha entre o real e o imaginário é tênue. Uma jornada introspectiva que revela os abismos da mente humana e os segredos ocultos nas sombras do castelo. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Michelle S. Nascimento

Michelle Santos Nascimento é paulistana, mãe, esposa e amante das artes, em todas as suas formas de expressão, desde que aprendeu que há todo um universo fora dela. Ama as ciências humanas, mas também tem predileção pelas exatas, porquanto é graduada em “Segurança da informação”, pós-graduada em “Gestão de TI” e “Engenharia de software” e trabalha como Analista de qualidade de software... » leia mais
18ª Edição: Theattro - Revista Castelo Drácula
Esta obra foi publicada e registrada na 18ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de agosto de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa

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