Atenção! Esta obra pode conter cenas sexuais explícitas e linguagem sexual.

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Por Alana Mortensen

Contornei as curvas do belo corpo.

Sem a urgência de término, acompanhava como observadora silente, o surgir dos poros, as moitas que adornavam o sexo e rosto pueril, os dentes alinhados, sem a brancura excessiva resultado de tratamentos estéticos. A textura e odor das flores era o que mais me aprazia — podia sentir o frescor agradável tocar minhas narinas. Os efeitos que a iluminação e perspectiva suscitavam em sua tez reforçavam o cenário onírico.

O balanço gentil do rio acalmava quaisquer perturbações. Técnica ou efeitos do Castelo na tela?

O líquido carmim, que aspergi em seu colo, realçava a beleza delicada, primal e arredia. O processo contínuo e minucioso acalmou as elucubrações daquele dia, mas garras de perturbação insistiam em se engalfinhar na obra. O êxtase era obtido sem pressa.

Éramos peças postas de forma estratégica no tabuleiro-tela.

Aquela figura suave parecia desfilar na tela, meus pincéis já sabiam acompanhar seus intentos. Desnudava-me de meus preconceitos, deslizando por entre caprichos de Eco. A forma corpórea perdia-se entre as névoas magentas; a superfície assemelhava-se a espelho d'água. Contemplava a mim?

“Venha, não tenha medo... medo... edoo... edoo”, a voz vacilante, afogada pelas águas que abarcavam suas pernas; o olhar fixado, como quem não esmorece diante de nada; a mão estendida, convidativa, exercendo influência sobre mim. Tal qual fora a minha chegada a este Castelo, fui persuadida a adentrar aquele mundo rubro-desbotado. As águas do meu interior fervilharam ao tocar a mão fria, mas macia.

Meu quarto transformou-se no cenário irretocável, irreal e plástico. Eco escancarou a porta, cujo olho-mágico era a tela. Hipnotizada, deixei-me conduzir por seus encantos, sem conseguir emitir som, pois voz não fazia parte daquele momento pictórico. Deslizamos sobre a relva úmida, recordando sensações há tempos adormecidas.

Já tiveste contato verdadeiramente íntimo com alguém, a ponto de não precisar estimular as terminações nervosas da flor que desabrocha na adolescência, mas mesmo assim, sentir-se em estado de êxtase? Conseguiria afirmar que isso é possível?

Decorreram-se horas ou dias, isso não tem importância, o tempo já me é alheio. Após esses primeiros contatos, físicos ou metafísicos, chegamos ao seu lugar de refúgio, um reservatório com águas calmas e rubras, vigiado por oito colunas, com seus capitéis dóricos suntuosos, dispostos como voyeurs das nossas tórridas aventuras. Minhas mãos percorriam ágeis, agora sem pincéis, as curvas de Eco. Sentia-me fadigada, mas não conseguia interromper o ciclo retroalimentado pelo deleite extraído e provocado.

Continuei nessa posição até sentir uma pressão no tornozelo, que logo transformou-se em agonia. Recobrei meus sentidos e percebi que Lisa cravara suas presas com afinco. Por que não gritara?

— Não era Eco, mas uma criatura maléfica. Chamei reiteradas vezes... Esta foi a forma de trazê-la de volta. Ela minaria suas forças até você ... — respondeu, hesitante, e adivinhando meus pensamentos.

Meu braço ainda exibia a marca do beijo-toque, feito ferro em brasa, que a tinta fresca imprimiu em mim. Eu não saíra daquele quarto e, agora sabia, algo maléfico viera ao meu encontro.

As Incursões de Alana Mortensen
Ao adentrar o Castelo Drácula, a protagonista é envolta por uma realidade onde arte e loucura se entrelaçam. Cada pincelada em sua tela não apenas expressa emoções, mas também convoca entidades que desafiam sua sanidade. Neste ambiente gótico e onírico, ela confronta traumas passados e descobre que a linha entre o real e o imaginário é tênue. Uma jornada introspectiva que revela os abismos da mente humana e os segredos ocultos nas sombras do castelo. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Michelle S. Nascimento

Michelle Santos Nascimento é paulistana, mãe, esposa e amante das artes, em todas as suas formas de expressão, desde que aprendeu que há todo um universo fora dela. Ama as ciências humanas, mas também tem predileção pelas exatas, porquanto é graduada em “Segurança da informação”, pós-graduada em “Gestão de TI” e “Engenharia de software” e trabalha como Analista de qualidade de software... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa

Leituras recomendadas para você:
Castelo Drácula

Recanto de Literatura Gótica

Anterior
Anterior

LXXXIII

Próximo
Próximo

Intumescer