Capítulo 14 (Final): Reconhecimento — Rubi Áurea

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Mensagem da autora
Último capítulo do rascunho inicial

Queridos leitores, com este capítulo vocês concluem a leitura do rascunho inicial de Rubi Áurea. A partir de agora, todos os capítulos passarão por um processo de reformulação, para que a história ganhe mais impacto, profundidade e coerência narrativa.

Este final — o Capítulo 14 — ainda não é definitivo. Posso reescrevê-lo, modificá-lo ou até mesmo acrescentar novos capítulos. Apesar disso, os eventos centrais permanecerão. A versão final da obra será publicada nos formatos físico e digital, não estando mais disponível para leitura no Castelo Drácula, como este rascunho esteve até aqui.

Dividir com vocês o processo de escrita deste romance foi uma dádiva. Agora, chegou o momento de lapidar a história com o cuidado que ela merece. Escrever não é tarefa fácil — exige uma entrega constante, uma dedicação amorosa. E, para mim, não há nada mais prazeroso do que me dedicar às minhas histórias.

Em breve, vocês poderão ler uma obra completamente renovada e compará-la com este primeiro esboço. Serão duas experiências literárias distintas — e igualmente especiais.

No início, eu não sabia quem era Áurea. Nem mesmo seu nome existia. Sua história foi se revelando aos poucos, capítulo após capítulo. Hoje, conhecendo melhor sua essência, posso reescrever seu caminho com mais consciência e verdade. Este rascunho é profundamente simbólico para mim, pois, enquanto minha protagonista evoluía, eu também me transformava como escritora.

Ele representa algo que só quem é artista literário pode compreender: o envolvimento intuitivo e visceral com uma história jamais antes contada.

Tenho orgulho de cada palavra escrita — foram mais de quarenta e cinco mil! Entre quatorze e dezesseis meses de empenho, noites de imersão em cenários, atmosferas e simbologias; dias inteiros dedicados a personagens que ainda terão muito a revelar — em *Rubi Áurea* e além dela.

Obrigada a você, leitor querido, por caminhar comigo até aqui.

Agora, convido você a apreciar o rascunho do último capítulo.

Sahra Melihssa

Ser soterrada por minha desumanidade fez emergir no meu peito um vazio inominável que despertou algo que outrora nunca houvera. Eu sentia a mudança, ela vinha como ondas à beira da praia, como um sussurro dos ventos pacíficos, como o fim da primavera. Eu sentia que me encontrava, reconhecendo a mim mesma dentro da imersão daquele Castelo misterioso que sempre me guiava para onde eu precisava ir, direcionando meus passos sem que eu soubesse a razão. Um alcácer, talvez, ilusório. Embora extremamente inestimável para mim.

No âmago daquele momento, caminhando pelos corredores — eu a ouvi. Sua voz era a minha voz, como fora n’outras vezes. “Eu te mostrarei”, ela disse, “Eu te mostrarei a verdade”. Não era o Deus Maior, Lúcifer ou o próprio Castelo; era eu e ela, compartilhando de um amálgama insondável — na imersão do que éramos, sem um conhecimento racional, mas instintivo. Sem a presença d’outrem, apenas nós; não havia Seth e muito menos os resquícios de um vínculo com o Oráculo — igualmente, o elo há pouco descoberto, vinculando-me ao inferno, parecia translúcido. Por instantes, nada existia, metamorfoseamos a realidade, porventura, em um invólucro da nossa própria consciência.

Então, avistei aquela porta. Tinha um tom de ouro envelhecido. Ornamentada e ornada com volutas, espirais e, principalmente, fragmentos cintilantes — como se feixes minúsculos de luz a atravessassem. N’estes limiares soldorados, uma poeira em pontos de lume pairava, entretanto, tamanha a sutileza que apenas olhos profundamente atentos poderiam enxergar. Tornavam quase tangível o ar e despertavam a nossa vontade de adentrá-la. “É aqui”, eu ouvi no eco do meu interior. Toquei seu ornato esférico, gelificado pelo tempo, volteei-o com a lentidão da infinitude. Eu poderia esperar que, em seu interior, estivesse eu, ainda menina e, diante de tal cena, uma escolha me adviesse: voltar para o passado, emergindo n’uma linha do tempo diferente em um multiverso misterioso, fingir que sou humana outra vez ou seguir com o futuro que se redige a cada novo attossegundo; ou, continuar daqui... inumana.

Eu não entendia a razão pela qual a desumanidade me feria; decerto que tal sentimento estava intrinsecamente ligado ao que eu era no passado, entretanto, parecia doer mais do que devia e diante disso, eu não sabia como agir e sequer conseguia identificar o que sentia. Sob a minha voz no cerne de mim e diante daquela porta que, mais uma vez, na medula daquele lugar sombrio, se apresentava como a verdade e a revelação, eu não tinha certezas ou esperanças, mas segurava firme em um hialino medo porque eu sabia, em certo nível de consciência, que algo mudaria de forma mais substancial do que outrora mudou. Ela estava cada vez mais perto... a mudança...

Adentrei o cômodo e o imenso umbral, pesado como não fora para abri-lo, fechou-se logo atrás de mim, quando meus pés avançaram para o centro do aposento. Era um lugar despedaçado — tal como eu. Uma vidraça arcada no alto estava quebrada e, por ela, uma névoa marfim advinha. Era a única fonte de luz, talvez vinda do sol ou de sua efígie. Por todo o ambiente, dezenas de molduras estavam destruídas nas ruínas dos espelhos que emolduraram n’algum remoto outrora. Os cacos reflexivos variavam em tamanho e forma, mas todos estavam empoeirados — o que me contava, mesmo em silêncio, uma história bastante antiga. Os reflexos da luz criavam um espectro de raios luminosos que atingiam todo o ambiente, como um caleidoscópio. O local não era grande, embora fosse alto. Onde a luz tocava, no centro do cômodo, sentei-me ao chão. Podia ver dezenas dos espelhos e tocá-los, se assim desejasse — e eu desejava. Eu sentia vontade profunda de ver minha própria imagem outra vez.

Passei, com calma e delicadeza, minha mão sobre o primeiro e mais próximo espelho quebrado. A poeira dispersou-se e o feixe de luz espargiu. O que vi fora minha face, meu olho direito era dourado, meu olho esquerdo era rubro. Meus cabelos negros e lisos, sutilmente movimentavam-se em razão de uma brisa quase indetectável. E a nutrúrnia em meu peito... cujas pétalas estavam igualmente em sutil cinesia, deveria transmitir sua escuridão abíssica, entretanto, eu a podia controlar agora — eu almejava, naquele instante, o círio do firmamento quimérico, a cintilância do caleidoscópio, e não o poço da matéria escura. Ainda sob este indelével desejo, segurei um fragmento menor e solto, de outro espelho, levando-o para mais perto de minha face. Limpei-o igualmente, a poeira reluziu pelo ar, rarefeita. Então fitei a imensidão de minha pupila, negra e profunda — eu fitei a escuridão de qualquer forma.

Eu sabia a razão pela qual fazia aquilo — e o saber era intuitivo. Eu conhecia meu poder — e o conhecimento era axiomático. Assim eu vi o meu passado e decidi não ver o meu futuro. Pois era isso que me fazia mais do que uma Illitan: ser capaz de controlar o que vejo e escolher o que quero. Mesmo depois de tanto tempo, tenho árdua dificuldade em descrever o que sentia, pois tudo era constituído de uma profunda verdade que nem mesmo os deuses ousariam sentir sobre si mesmos. A criatura em meu cerne, e toda a sua mítica existência, era capaz de me guiar tal como a lua faz com a maré do mais índigo e violento oceano. Eram as memórias, adormecidas, minhas e dela, envoltas em um véu de sono imersivo e, junto delas, uma infinidade de sentimentos e emoções. “Se eu não sou humana, o que eu verdadeiramente sou?” — murmurei, caminhando sem caminhar, pela escuridão e a luz das lembranças.

E a primeira delas foi da criatura Corphidrae, criada por Soron Vonssihren há muitos e muitos anos. No fulcro da pupila dilatada, eu vi o continente Sihren. E vi o ancestral nascer da Corphidrae — ou de seu primeiro antepassado. Sihren estava imersa por destruição mascarada em heras e musgos; uma densa flora, significativa e abundante, crescia sob o azúleo céu. As mãos do Soberano Soron, com a essência de Sirehnersí e verbo mahesihsta, vibrando a realidade por detrás da interface — eu vi. Surgira a criatura mítica e dela vieram outras e todas com o poder da vidência, entretanto, como animais míticos, não tinham fala e razão; nascidos para proteger a flora e fauna do continente perfeito, acelerando o florestamento sobre os escombros de concreto ainda visíveis. Sirehnersí lhes deu poder, para além das mãos mahesihstas de Soron, pois que Sirehnersí vem do Ente Primevo, o alvor: o Verbo.

Era lindo... e fascinante. Compreendi a história de todas as coisas desde muito antes de ter meu corpo produzido nas câmaras indheren. Vi-me criança, adolescente, jovem adulta e vi meus pés descalços sobre a neve da altíssima e obscura floresta de Amorttam, perdida na escuridão de suas entranhas, em busca de clareiras onde reluzia a lua túrgida de Selenoor, vestida em rubro tecido e, finalmente, protegida pelo lume da azulescida Phehr — a lua detrás da tão mais longeva lua Senlen. Eu vi tudo e vi Lorrt, encontrando-me e guiando-me de volta ao lar dos H. Sttrattan, aos pés da Mansão Negra. E vi seus cabelos grisalhos e seu rosto viril. E ouvi suas palavras: “Um raro rubi perdido em Amorttam!” e vi meu sorriso de medo pela imensidão arbórea e, ao mesmo tempo, aliviada por encontrar o que pensei ser um humano. Na lembrança intensa, fechei meus olhos sem que pudesse perceber — adentrei uma vastidão ainda mais escura onde todos os fragmentos de espelhos flutuavam ao meu redor. Eu sabia que eu estava em minha consciência.

Um fulgor esquálido vinha de cima, iluminando-me e refletindo nos fragmentos. A poeira pairava nívea e eu fitava lugar nenhum, com as íris perdidas no pélago da memória. O som de um triste piano me alcançou e um rosto então embaçado a princípio tornou-se vívido como um sonho e eu me observava ao seu lado, ainda tão jovem. O homem era mais velho, eu vi o contorno de seu rosto, eu vi seus olhos âmbar.

“Tu és especial pelo dom do amor” — ouvi, era a voz de meu pai Lars. “Impressiona-me tudo o que construíste aqui...” — ele falava do jardim. E ali, eu estava mostrando para ele as flores que já floresciam e as árvores que já cresciam. “Eu tenho algo que guardei para presentear-te quando fosse o momento e, acredito, este é o momento.” Do seu bolso, retirou um colar de ouro, com um pingente feito de vidro protegendo o que me parecia uma pétala opalina. “Adenium Opalinia, uma flor muito rara encontrada somente em Morttam profunda. A pétala é apenas uma réplica, entretanto, representa a raridade do teu ser e do teu dom com as plantas” — explicara, e eu desejei saber onde estava aquele colar.

Pouco depois, entre dezenas de memórias singelas, eu a vi: seu olhar brilhava, seus cabelos volumosos. Ela vinha em minha direção, com bastante empolgação.

“As luas conduzirão o vosso encontro, querida; Phehr e Selen sabem a razão.” — dissera Valeriere, minha avó. E eu cuidava do jardim nas manhãs e meus irmãos mais novos corriam entre os arbustos.

“O que queres dizer, vovó?” — perguntei, ainda confusa.

“Há algo destinado a ti, querida. Algo grande. As cartas disseram, eu as tirei hoje para ti.” — o Tarot não era bem-visto em Sihren, mas Valeriere tinha algum tipo de vínculo com o inenarrável espiritual. Eu a admirava por isso.

“Espero que não seja doloroso” — disse-lhe, de forma descontraída.

“Será” — olhei para seu rosto, senti a seriedade em sua voz. “Grandes feitos precisam de grandes sacrifícios.”

“Já está predestinado?” — perguntei, inquieta.

“Sim, pois, tu já escolheste o caminho antes mesmo de encontrá-lo.”

Rarefeita na luz e na escuridão, esta lembrança deu lugar a outra e a outra e sucessivamente, cada uma delas tocavam minh’alma com a verdade absoluta de minhas vivências. E quando eu revi a mulher da minha vida, eu lacrimejei de emoção.

“Este homem parece-me... como devo dizer... eu não sei, Áurea querida... a presença dele é... amedrontadora” — disse Dehian, minha mãe. Sua voz era veludo, sua proteção recaiu sobre mim como se eu estivesse ao seu lado, de verdade.

“Ele tem um bom coração, mamãe” — proferi, apaixonada. “Mas não te esconderei a verdade, ele foi criado para o mais terrível... e está aqui porque decidiu não seguir a lei de seu criador. Em razão de sua rebeldia, tem sido perseguido, jurado de morte por aquele que lhe deu a vida” — expliquei. Mamãe parecia preocupada.

“Se o encontrarem, o que acontecerá contigo?” — sua indagação me levou à janela, olhando para o jardim, pensativa.

“Eu não sei, mas eu lutarei por ele... por nosso amor... se preciso...” — Mamãe veio a mim, abraçando-me.

“Tenho medo de te perder, minha filha” — confessou. Toquei seu rosto, carinhosamente.

“Eu sempre estarei no jardim” — afirmei.

A compreensão me atravessara... do amor, da dedicação e o dom; uma história vivida e contada por mim mesma, na imensidão da menina dos meus olhos. Não era fácil lembrar, pois meu coração apertava-se e lacrimava dolorido; eu previ a mudança e o seu achegar silencioso através do indescritível. E elas vinham, as memórias, como sopros de tempo, como um livro aberto.

“Esta é Celehstera, a Corphidrae que usaremos no ritual” — disse Lorrt. Eu olhei os olhos dourados da criatura, perfeita e majestosa.

“É linda...” — admirei-a como nunca admirei nenhum outro animal.

“Escolhi este nome, pois, dei-lhe o significado de uma criatura fascinante” — explicara.

“Ela vai se sacrificar?” — senti-me entristecida ao questionar.

“Ela aceitou isso, em nome dos Illitan e de nossa sobrevivência; carregamos, afinal, a sua essência.” — Voltei-me a Lorrt ao ouvi-lo e, depois, novamente aos olhos da Corphidrae. Então, ela apareceu para mim, Celehstera, entre os fragmentos e a poeira. Exatamente como eu a vi naquele primeiro dia, ao lado de Lorrt.

— Tu sabias, por isso aceitaste estar no ritual... teu poder, tão imensurável, facilmente poderia te levar à fuga naquele momento. — Proferi, sem palavras.

— Sim, Áurea. Eu vi a minha morte e minha dor; eu vi a minha ressurreição em teu corpo. Era preciso acontecer.

— Tu és racional?

— Eu sou o que tu és agora, somos um único ser. Não há mais distinção entre nós.

— Então... existe destino? Como indaguei à vovó, não é sobre escolhas?

— O destino é um emaranhado, nós somos capazes de enxergar a linha mais provável do futuro, em razão de sua proximidade com a historicidade do ser qual estamos prevendo. Valeriere viu a linha mais próxima, já escolhida por ti, pois, para alguns, a alma atemporal é mais consciente do que o corpo sob o comando do tempo n’esta interface de vida.

— Se somos uma, eu é que me digo esta verdade? E a verdade de toda a Sihren? Como posso saber de tudo?

— Sim, este é o processo de racionalização tua para com a minha memória. Tudo o que vivi e tudo o que sei, agora também é teu, e a tua razão torna tangível à consciência, como se eu estivesse aqui, dizendo-te cada palavra. Tu sabes disso porque eu sei e porque tua alma sabe, ainda que tu, n’esta interface, não saiba.

— O que é a Interface? O que há de ti em mim?

— Em teu cerne eu sou uma centelha. A tua centelha metamorfoseada. A interface é o tangível, é Sihren, é o Castelo Drácula. Apenas uma miragem cobrindo o código da vida.

— Tu esteves sempre aqui... eu estive... e os enigmas? E Seth?

— Tu estiveste sempre aqui, Áurea, protegendo-se de si, escrevendo a ti mesma, afastando a possessão de Seth. Tudo o que fiz foi feito por ti, pois eu sou o que tu és, não há mais distinção.

— Compreendo... — dissemos, em uníssono. — Não existe mais eu ou tu, somos nós como se assim fôssemos desde sempre. — proferi e repetimos a frase no átimo em que retornei à sala dos espelhos.

Demorei por um tempo incalculável para reconhecer o que há tão pouco tempo me era completamente obscuro. Demorei-me no silêncio, entre os feixes de lumes refletidos, o caleidoscópio de mim mesma. Prolonguei-me n’esta estranha inércia entre saber e assimilar.

Celehstera, nome dado por Lorrt para a Corphidrae, estivera protegendo-me da possessão de Seth, por isso ele sumia e se personificava. Expulso de mim. Ela destruiu todas as maldições de Lahgura. Ela me guiou quando estive em Séttimor e, previu as más intenções do Oráculo e o surgimento de Monm, para me salvar. Com os sigilos pherhesistas e o Olho do Oráculo, intensificou o seu poder para que fosse capaz de me conduzir à verdade completa de todas as coisas, pois a minha resistência em proteger a minha humanidade a estava impedindo. Ela, que fez tudo por mim, ela sou eu.

Eu estava me guiando, me protegendo e, sobretudo, me tornando mais poderosa e forte para enfrentar quaisquer horrores e, em especial, o horror do meu próprio medo. Encontrar Lúcifer, fincar a nutrúrnia, tudo foi estritamente pensado para minha assimilação do fim da minha humanidade. A ideia de ainda ser humana era tão profunda e intensa que, muito antes do meu despertar, essa singela ideia já havia criado a maciça barreira do esquecimento.

Eu me sentia... diferente.

Abri os umbrais pesados daquele cômodo e, a partir daquele momento, eu sabia, tudo aconteceria de outra maneira. Mas uma coisa eu tinha certeza, dentre tantas e confusas decisões que eu poderia tomar naquele átimo, a principal delas era, pois, a mais estável: retornar a Sihren... mas, seria possível? Rever os que amo e abraçá-los, após tanto tempo... se assim acontecesse, eu voltaria no tempo? E se o Castelo era apenas uma interface da interface, como sair deste núcleo se mal sei como cheguei aqui? As dúvidas atravessavam minha mente e doíam. Foi então que ele veio à minha mente... Lorrt. Se eu pudesse reencontrá-lo em Somníria... olhar de novo em seu semblante... dizer-lhe que me lembro de tudo... pois, fora daqui, eu sei, não o encontrarei mais. Lorrt estava morto, eu tinha ciência d’esta mórbida verdade e saber disso, naquele instante, me doía tanto... Deixar o Castelo significava, essencialmente, perder o acesso a todos os multiversos — perder Lorrt de vez.

Indagava-me, porém, se eu seria capaz de retornar ao Inferno... e ouvir a proposta de Lúcifer outra vez. E, sendo um demônio, poderia voltar ao mundo humano? Era muito para mim, e eu não conseguia compreender tanta informação; imergia-me n’um oceano de dúvidas ainda mais mórbidas do que antes, contudo, nada era, de fato, igual... a mudança não foi uma mentira, as memórias resgatadas tinham a perfeição de uma fotografia. Eu havia mudado, como previ, e a mudança agora contornava meu medo e todos os sentimentos derivados da estranheza de estar livre de minha humanidade, sem perdê-la de mim. Era estranho, era um paradoxo, mas as coisas mais complexas são, essencialmente, as mais deslumbrantes.

Saí. Deixei meu olhar cair sobre os arredores infinitos do Castelo Drácula.

E aquele momento era o prólogo do meu novo despertar.

Revisão por Sahra Melihssa

Rubi Áurea
Áurea Lihran escrevera suas terríficas e fascinantes vivências após despertar em um antigo castelo, o Castelo Drácula. Sem memória alguma de seu passado, ela buscou encontrar respostas e sentidos que guiassem a sua existência, mas, para isso, teve de fazer escolhas sombrias e ainda lidar com a sua estranha sede por sangue e o seu desconhecido poder. Este seu manuscrito foi deixado por ela, como volume único, na biblioteca do Castelo Drácula e, agora, por razões obscuras, ele está em suas mãos. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. No túmulo da sua literatura gótica, a autora entrelaça o terror, horror e mistério com a beleza mélea, o fantástico e o botânico, como em uma valsa mórbida… » leia mais
18ª Edição: Theattro - Revista Castelo Drácula
Esta obra foi publicada e registrada na 18ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de agosto de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa

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