Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Diante de mim está o altíssimo e longínquo corredor em forma de arco. Seu comprimento é imensurável, tal qual o colossal monstro bíblico Leviatã. Assustada, contemplo-o com admiração. Infelizmente, as pedras encontram-se severamente puídas; tenho certeza de que viveram eras em que sua beleza era notada por todos que cruzassem este corredor. Elas eram de diferentes tamanhos e espessuras, mas, unidas, resultavam em um visual sublime e uniforme, apresentando uma coloração que varia entre marrom, verde musgo e, em algumas, um tom acinzentado. 

Adornando toda a extensão do corredor, delicadas, porém resistentes teias, executadas com precisão pelas habilidosas aranhas, trabalhavam com ardor sob a chama trêmula oriunda das inúmeras velas. Por estranho que pareça, senti paz observando aquela cena, mas um leve menear trouxe-me de volta. Preciso continuar — digo para mim mesma, enquanto observo as chamas desenharem vultos sobre as pedras. Minha mente voltou a assobiar terrores que vivenciei em meu quarto. Tenho numerosas dúvidas, as quais temo proferir em voz alta. É com esses questionamentos que inicio minha caminhada cautelosa; meus passos ecoam no silêncio, desviando das constantes teias que insistem em enroscar-se em meus cachos. Estou caminhando há alguns minutos. Olho para trás e já não é possível ver o começo do corredor. Conforme ando, vejo que as velas se tornam cada vez mais escassas. Antes que fique em total escuridão, apodero-me de um dos candeeiros e prossigo. 

— Parece não ter fim. — Minhas palavras são engolidas pela penumbra, que lentamente me abraça. Lembro-me com clareza deste corredor; percorri-o no dia do grande baile de máscaras, e ele não me parecia tão extenso. Mas prossigo. Estou cogitando a ideia de estar alucinando, de que estou presa em um sonho. Será tudo fruto da minha imaginação? “Não, Rose, concentre-se”, digo a mim mesma, e acabo não percebendo que as paredes se tornaram mais próximas. Sei que é algo ilógico, dada a construção sólida do castelo, mas compreendi que, neste lugar, o inimaginável se torna tão real quanto o breu lá fora. 

Meus passos se tornaram mais acelerados, e o corredor mais estreito. Algo me faz parar: uma brisa que não pertencia ao castelo surgiu como uma assombração e parece trazer consigo vida e frescor. Inspiro e vejo folhas verdejantes sendo atingidas por intensos ventos, desprendendo-se e flutuando com graça sob o céu azul até tocar o chão de terra. Reconheço aquele lugar. Volto a ser criança novamente, fecho os olhos e sinto o perfume adocicado da mangueira, o som das suculentas mangas caindo naquele jardim, exalando o cheiro inconfundível. 

Abandono a terna lembrança e, mais à frente, me deparo com algo grandioso. Elevo a vela à altura dos olhos e fico extasiada: diante de mim está um lindíssimo portão, esculpido de forma magistral em ouro velho. Em torno dele, pairam centenas de borboletas em tons de marfim, com o bater de asas muito bem orquestrado, um espetáculo, como se velassem segredos além do tempo. Hipnotizada, respiro e vou ao encontro da gélida maçaneta. Ao girá-la, liberto um odor ferruginoso; as borboletas permanecem quietas. Sou recebida por um sopro diferente, um frescor toca meu rosto, como uma leve garoa. À minha frente, encontro uma enorme estufa. O lugar é surreal, meu cérebro tenta assimilar o que vê. Estou em êxtase, parece que cruzei a toca do coelho e vim parar em outra realidade. Aqui, exala vida; a vegetação brilha misteriosamente em tons de verde, roxo e vermelho. Seu brilho se estende por toda a estufa, tal qual uma nebulosa na imensidão do firmamento. Devido à sua bioluminescência, alguns insetos sobrevoam a vegetação colorida. Gotículas de água escorrem sob a redoma de vidro. Plantas das mais variadas espécies crescem vigorosas, exibindo suas folhas e frutos suculentos. Plantas das quais eu não tinha conhecimento que existiam. Quem ficaria encantado por este lugar era meu pai, pois ele era um entusiasta da botânica. Foi ele quem me mostrou algumas obras filosóficas e ocultistas; por não ter conhecimento adequado, compreendia quase nada, mas aquele mundo misterioso me encantou. Lia tudo escondida em meu quarto, na penumbra do abajur rosa; era nosso segredo. 

Imersa na nostalgia, vejo algo que me faz suspirar. À minha frente, este lugar também é uma extensa biblioteca, repleta de inúmeros exemplares, desde livros de bolso até verdadeiros calhamaços. Realmente, este castelo não deixa de me surpreender. Abismada, me questiono se o funesto livro se encontra aqui. Atenta, observo tudo, enquanto meus delgados dedos sentem as texturas de cada livro. Noto obras sobre botânica, alquimia, matemática, esoterismo e até mesmo magia. Alguns títulos me eram conhecidos, como A Mônada Hieroglífica, O Livro da Lei, A História da Magia, O Alquimista, e alguns livros sobre botânica que estavam em latim. Sigo lendo os títulos, estou chegando quase ao final da estufa, quando percebo uma mesa vitoriana branca. Sobre seu tampo, uma singela renda do mesmo tom da mesa; havia também duas xícaras e uma chaleira de porcelana verde. Por fim, duas cadeiras, sendo uma delas ocupada por alguém. Receosa, prossigo; agora seus traços ficam mais nítidos. Suas roupas estão com resíduos de terra; era uma idosa, dona de um sorriso sereno, de olhar profundo e amoroso. Trajava uma camiseta branca, uma jardineira e, por fim, um suéter de tricô verde. Havia algumas poucas rugas sob seu rosto pálido. Aproximei-me, temerosa; ela estendeu a mão, convidando-me a sentar. Assim o fiz. Ela sorriu e disse: 

— Não tenhas medo, minha jovem. Como se chama? 

Sua doce e trêmula voz trazia uma familiaridade que não consigo explicar. 

— Me chamo Rose — minha voz soou quase inaudível. Seu olhar era acolhedor, então ela continuou: 

— Pois bem, é um prazer te conhecer, Rose-besin. Eu me chamo Ameritt. 

Minhas feições me entregaram. Percebendo que eu não havia compreendido a palavra "besin", ela explicou seu significado, contando também que a palavra deriva de povos antigos da vila de Séttimor, que fica nos arredores do castelo. Aquilo me deixou intrigada. Ela mencionou, ainda, as sete mortes e os misteriosos habitantes dessa vila. Apoiei meu pulso sob o queixo e fiquei pensando: o que seria essa tal vila? Como chegar até ela? No entanto, ela continuou falando. 

— Resido aqui há muito tempo, e posso afirmar, minha jovem, vi e vivenciei coisas inimagináveis. Mas, pelo que percebi, acredito que você também, não é mesmo, Rose-besin? 

Assenti que sim. 

— Minha querida, posso lhe oferecer um chá? Eu mesma colhi as ervas. Aliás, percebi como você ficou encantada; vi seus olhos brilhando perante a vasta flora, bem como sua bioluminescência. É prazeroso quando vejo alguém que se apaixona pelo meu jardim. 

Perguntei sobre os besouros e insetos daqui, e ela explicou que eles tinham um significado profundo. Além de polinizar, eram almas perdidas que reencarnaram. Fiquei ainda mais confusa e entrei numa espécie de delírio. Será que virarei um besouro também, dada a minha natureza? Seus lábios moviam-se com a ternura de uma avó, me tranquilizando. Então, ela abriu a tampa da chaleira, e logo um aroma peculiar pairou no ar; era único. Ela serviu o chá com tranquilidade, olhou-me e disse: 

— Beba, vai se sentir melhor. 

Um sorriso plácido surgiu em seus lábios. Elevei a xícara à altura do meu queixo, vislumbrei as especiarias em infusão. O aroma era indescritível e convidativo. Fechei os olhos, inalei e sorvi. Porém, um pensamento assustador pairou em minha mente: e se este chá estiver envenenado? 

Texto publicado na 9ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de setembro de 2024. → Ler edição completa

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