Pergaminho de sangue cósmico

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

No limiar entre mundos, onde o nevoeiro se estende, 
Ergue-se Arale Fa´yax, filha de uma felina raça distante, 
Com a cauda prateada, fina como a lua em sua ascensão, 
Olhos oblíquos de safira tão profundos quanto as cavernas do abismo ou um mar de ressaca.  

Sua pele, pálida como a neve, caindo em silêncio, sinfônica voz, 
Reflete o brilho das estrelas apagadas no vasto céu negro. 
Cabelos platinados, com fios de esmeralda entrelaçados, 
Dançam ao vento, como fios de uma tapeçaria celestial mística.  

Mas a beleza é forjada em dor, em sangue como a forja do destino, 
Onde sua carne, marcada por uma cicatriz que serpenteia, 
Revela a luta que o mundo não pode ver, sua assinatura e fardo, 
O duelo contra o último xamã de sua tribo lhe custou o exílio que a alma sofreu.  

Um sacrifício, uma missão, um braço se perdeu, apenas o vazio, um espaço que clama por cura, 
em seu lugar, a prótese cibernética de protoplasmas, biogenesis felina, futura, 
Uma obra de metal e circuito, luz fria, pulsante, seu punho de vida, sua recordação, 
um de seus legados, de sangue e promessa, 
Que brilha com a promessa de poder e de destruição.  

Na outra mão da guerreira com garras de leão, ela agarra uma máquina de escrever, feita de ossos, 
Fiel companheira de estrada galática, jornada de eras e herança amaldiçoada, 
Cada tecla, cada golpe, um feitiço de morte e destino, 
Sangue é tinta, e o papel, papiro como carne dilacerada de uma criatura do mal ali ceifada, 
Onde palavras de extermínio surgem, traçando caminhos de pulverização e purificação.  

E é neste mundo de sombras e crueldade que ela caminha e expurga, 
Onde o portal da sua dimensão se abriu, revelando um jardim, berço do Castelo Drácula. 
Entre as pedras do castelo, onde a noite nunca cede à luz, 
Ela caminha, a caça, a caçadora, armada com a verdade. 
Suas vestes, uma fusão de couro e névoa, uma vitoriana felina cyberpunk, 
Negra como a noite e dourada como o mel, a aurora de um novo mal, 
Protegem o corpo, mas não a alma, pois ela já está selada, 
Em um pacto com as forças que andam nas trevas, mas não a dominam. 
Em questão de segundos, desliza de suas costas para seu punho, uma espingarda também de ossos que em um instante se torna machado, 
Transforma-se como ela mesma, fluida, imprevisível, mortal. 
Com a lâmina cortante, como o vento no inverno sem fim, 
Ela vai à caça, onde os monstros se escondem e os demônios se amparam.  

Oh, Arale Fa´yax, filha do além, do cataclismo e da lua minguante, 
Teus passos ressoam nas cavernas do castelo, pegadas do silêncio dominante 
Onde cada palavra escrita é um feitiço antigo,  um rugido de tua ancestralidade, 
Cada página sangrenta, o próximo passo da jornada ao vazio da eternidade, 
Que o sangue que flui seja a chave, o sangue que é o guia, 
Tua missão, marcada pela dor e pela força, o amanhã ruge, 
Extirpe as ameaças que se ocultam, que se alimentam da vida, 
Que o destino de tua lâmina e tua escrita sejam o selo do exício de toda sombra.  

Oh, filha da noite e da penumbra, Clã Fa´yax, guardiã do véu, 
Teus passos ecoam pelos corredores de um castelo orgânico, 
Assim como onde vivia, uma árvore vitalícia que apodreceu, 
Onde a morte sussurra como um vento gelado,  
as almas perdidas vagam, em busca de redenção, 
Mas tu, minha guerreira, já não precisas de salvação.  
[Talvez sempre precisará, de si mesma...]  

A máquina de escrever de ossos manchados, 
de ossos amaldiçoados, seremos nós todos apenas ossos esquecidos pelo tempo vitalício e nossas ações prosperam além do osso esqueletal que nos sustenta?  
Brilhai, pungente, lacrimosa, ela grita e sangra, 
Cada tecla que tocas é um eco de um destino antigo, 
Escreves não com tinta, mas com a essência do sofrimento, 
Teus dedos dançam entre as linhas da eternidade, 
Onde o caminho se revela como um rio de sangue.  

O papel, um papiro cósmico, mágico de pó de estrelas e carne e dor, 
desvela-se diante de ti, em cada página escrita, um grito de agonia, 
Mas também um passo em direção à vitória da luz da poesia, 
Pois as páginas não mentem, Arale Fa´yax, da raça felina de tua tribo extirpada, 
Elas mostram o que a escuridão tenta esconder.  

Espingarda que se torna machado com uma lâmina tribal de ossos cravejados, 
Escorrido e manchado, 
Tu és a lâmina...  
Que ceifa e que rasga o véu do além, 
Que corta as garras das criaturas que surgem das sombras, 
Que quebra o grilhão do medo e da morte. 
Em tuas mãos, o destino é forjado em aço e vingança.  

Veste-te, guerreira de pele tão clara como a lua, 
Com o manto de veludo negro que beija o vento, 
O sangue de mil criaturas, já banhou teus pés, 
Feroz, imortal, desvaneces os sustentos de terror. 
Tuas roupas, como o silêncio do túmulo, não dizem, mas sabem.  

A cauda de prata, tão leve quanto a brisa de inverno, 
Move-se com graça, e mesmo nas trevas, ela brilha, 
Oh, criatura etérea, filha das estrelas caídas, 
Tu és o reflexo do que não pode ser tocado, 
O espírito que dança entre o real e o etéreo, 
Entre as dimensões e os reinos que o homem nunca verá. 
Nos corredores de pedra, onde as velas tremem, 
Onde os retratos dos antigos se tornam olhos, 
Tu és o caçador e a presa, o monstro e o salvador, 
Com os dedos manchados de sangue, mas o coração puro, 
Segues adiante, sem medo do que há à frente, 
Pois teu destino já está escrito nas páginas da morte.  

Arale Fa´yax, guerreira sem fim, fantasmagórica escriba da morte, 
A marcha da eternidade é a tua única música,  tua foice espiritual, 
Onde o som do teu machado cortando a escuridão, corteja o nulo, 
É mais doce que o canto dos anjos, cortejai o umbral de sangue, 
Mais profundo que os abismos que te chamam, te clamam, suspiram, 
Fatídico o horizonte que nunca se vê. 

Teu braço biônico, feito de circuitos e relâmpagos, 
Brilha na noite, como uma estrela fugaz, um punho destroçador, 
Uma cicatriz de herança, de legado, de lembrança,  
Que teu rosto carrega,  teu coração sabe o peso de tua insanidade, 
É o selo de uma alma que não pode ser quebrada. 
Para ti, Arale, não há morte que te detenha, 
Nem sombra que apague o brilho de tua jornada. 
Oh, guerreira da máquina e da carne, 
Teus olhos são espelhos da verdade que ninguém ousa olhar, 
E a escuridão se curva à tua vontade, 
Pois no abismo, tu és a luz que se ergue, 
Onde a treva reina, tu és a sentença. 

Texto publicado na Edição 11 - Somníria, do Castelo Drácula. Datado de dezembro de 2024. → Ler edição completa

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