Ecos de um Jardim Sepulcral
Adentro o campo como quem adentra um sonho,
lavandas por toda parte, um oceano roxo e calmo,
elas flutuam suaves ao toque de leves brisas,
parecendo guardar uma paz que jamais acaba.
Mas há algo aqui, algo invisível que rasteja,
um segredo escondido no doce perfume e na cor,
uma inquietude perdida no meio do silêncio
tal qual um coração que bate lentamente.
Caminho, e as flores parecem murmurar,
o som parece uma prece feita no começo da noite,
uma estranha melodia, palavras mal-ditas,
sussurrando meu nome em uma voz que nunca ouvi.
O que diz o campo que fere a minha mente?
Por que o horror se veste de algo tão belo, tão sereno?
É como se escondesse as garras sob suas pétalas.
Há algo ancestral, um toque gelado que toca minha pele.
Não é um jardim, é um túmulo em flor,
uma prisão aveludada que me convida a ficar,
e, no entanto, ao me virar, as lavandas me cercam,
o murmúrio cresce, toma conta do ar,
um canto fúnebre que desencanta a beleza.
Sinto o pavor apertar minha garganta,
e as vozes falam de dor e de sombras,
de destinos que ninguém ousa lembrar,
é como se o campo guardasse os segredos dos mortos
e a alma de que o adentra fosse um preço.
Eu corro, mas os murmúrios me seguem,
as flores balançam como dedos que apontam,
e toda a paz se dissolve em uma neblina,
me deixando só entre sussurros sombrios,
perguntando se algum dia eu estive desperto.
Texto publicado na Edição 11 - Somníria, do Castelo Drácula. Datado de dezembro de 2024. → Ler edição completa
Residente de Dom Pedrito/RS, Cláudio Borba formou-se em Contabilidade e escreve contos de terror e poemas geralmente melancólicos. Ele faz parte de diversas antologias de contos e poéticas de diversas editoras. E atualmente trabalha para lançar seus livros de contos e poemas. Cláudio se inspira em Stephen King e Clive Barker em seus contos, e é um grande fã de Bukowski. A escrita do autor é direta, rápida e de fácil leitura. Escreve escutando metal,…
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