Ecos de um Jardim Sepulcral

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Adentro o campo como quem adentra um sonho,
lavandas por toda parte, um oceano roxo e calmo,
elas flutuam suaves ao toque de leves brisas,
parecendo guardar uma paz que jamais acaba.

Mas há algo aqui, algo invisível que rasteja,
um segredo escondido no doce perfume e na cor,
uma inquietude perdida no meio do silêncio
tal qual um coração que bate lentamente.

Caminho, e as flores parecem murmurar,
o som parece uma prece feita no começo da noite,
uma estranha melodia, palavras mal-ditas,
sussurrando meu nome em uma voz que nunca ouvi.

O que diz o campo que fere a minha mente?
Por que o horror se veste de algo tão belo, tão sereno?
É como se escondesse as garras sob suas pétalas.
Há algo ancestral, um toque gelado que toca minha pele.

Não é um jardim, é um túmulo em flor,
uma prisão aveludada que me convida a ficar,
e, no entanto, ao me virar, as lavandas me cercam,
o murmúrio cresce, toma conta do ar,
um canto fúnebre que desencanta a beleza.

Sinto o pavor apertar minha garganta,
e as vozes falam de dor e de sombras,
de destinos que ninguém ousa lembrar,
é como se o campo guardasse os segredos dos mortos
e a alma de que o adentra fosse um preço.

Eu corro, mas os murmúrios me seguem,
as flores balançam como dedos que apontam,
e toda a paz se dissolve em uma neblina,
me deixando só entre sussurros sombrios,
perguntando se algum dia eu estive desperto.

Texto publicado na Edição 11 - Somníria, do Castelo Drácula. Datado de dezembro de 2024. → Ler edição completa

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