Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Condenei-me a viver entre paredes de concreto e pedra fria, quando minha mente queria fugir para as florestas, admirar a altura das árvores, respirar o ar puro, colher cogumelos e encher meus pulmões com seus esporos. Então fugi, caminhei descalça e senti, com meus pés, a maciez do musgo, enquanto o sol da manhã aquecia minhas costas. Ouvi a música dos corpos d'água, o canto dos pássaros, o rastejar lento dos insetos. E, quando me cansei, deitei-me na úmida terra, admirei o céu e me mimetizei com o verde e o marrom.

Apenas realizei a minha vontade de desaparecer na natureza e, quem sabe, nunca mais ser vista ou ouvida. E, com o tempo, fazer parte da natureza tão intrinsecamente que dificilmente saberão a diferença entre mim e ela, pois a ela eu pertenço. Deito na relva, contemplo a altura das árvores e observo o anoitecer lento, enchendo o céu de estrelas. Sinto que tudo é natureza, e eu sou da natureza. E entendo que o que importa acontece na quietude, na composição e decomposição do belo, na natureza efêmera do ser, na morte e no próximo nascer.

Ela vai me compor enquanto eu vou me decompondo, nos dias e nas noites que virão, na chuva e no calor alentador. Ela irá me aceitar e, do meu peito, farão nascer belas flores; dos meus olhos úmidos, cogumelos dos esporos que inalei. E assim, o musgo e a relva, como um cobertor reconfortante, aos poucos vão me cobrir. Então, eu me tornarei parte eternamente da natureza e ela de mim, e, quando a chuva cair para regar o solo e o sol iluminar as flores, assim, viva eu descansarei.

Texto publicado na Edição 10 - Aborom, do Castelo Drácula. Datado de outubro de 2024. → Ler edição completa

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Capítulo 6 — O Piche do Oblívio