Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Desde o fatídico dia… ou melhor dizendo, desde a fatídica noite, aquela em que fui atacado, envolvido pela estranha e irrecusável aproximação da misteriosa vampira, me vejo recluso, incapaz de mover um pé sem que duvide das minhas forças, do meu livre-arbítrio que, suponho, fora totalmente sujeito, desde então, à influência daquela mulher e sua força…

Nada de muito grave aconteceu fisicamente comigo, desde então; porém, sabendo ter sido “corrompido”, inoculado em mim algum veneno que, se não mortal, pelo menos indicador parece de que não sou mais o mesmo, sinto a necessidade de me privar de movimentos, de sair pelo Castelo e, quem sabe, me deparar com “ameaças” afins…

Pois certamente que aquele ataque, na forma de uma desconcertante mulher, não deve ter sido uma exclusiva demonstração do ambiente misterioso com que me deparo aqui…

Há poucos dias, revirando os papéis que abundam pelas mesas do lugar (a escrita compartilhada de outros convivas do Castelo), li coisas que me deixaram profundamente preocupado. A primeira e mais inquietante descoberta (será um fato?) é a presença, segundo alguns, de uma vila chamada “Séttimor”. Não que a existência de lugares vizinhos a esse ambiente seja algo excepcional; antes de chegar aqui, bem lembro, avistei casas, espécies de cabanas e alguns moradores que, ao que tudo indicava, nada tinham de anormais; porém, essa tal vila “Séttimor”, nos textos com os quais tive contato, era descrita como lar de pessoas sem rosto(!), de pessoas que, sem possuírem expressão facial, demonstravam, inquietantemente, comportamento benigno…

Qual não foi minha surpresa ao parar com essa leitura e, numa pequena reflexão, me perguntar se aquele povoado que avistei ao me aproximar do Castelo, em minha chegada aqui, não era esse descoberto e discutido em uma das crônicas…

Por certo que os outros frequentadores desse recinto sabem mais do que eu… A pergunta é se, estando aqui, estou sujeito aos mesmos fenômenos que essas pessoas já devem ter visto ou presenciado, se não como protagonistas de algo mais obscuro, além de meu entendimento, pelo menos como coadjuvantes de alguma ação — até mesmo sofrido aquilo que eu, completamente rendido, testemunhei e do qual fui alvo, agora sem saber das futuras consequências… 

Como lidar com tal testemunho, tal possibilidade de realidade fantástica ao redor desse local onde atualmente habito e que, comprovadamente, está aberto à visitação de outras enigmáticas vidas? Que segurança tenho de me manter vivo, dono de minhas vontades e sonhos, estando rodeado por forças muito além da simples compreensão natural? Mesmo sendo elas, segundo as provas lidas por mim, ainda distantes das paredes do meu quarto — e, assim espero, dos muros do Castelo —, o que já experienciei por conta própria aqui dentro (o Baile, o ataque) há muito que já me dotou da certeza de que aquele eu inicialmente chegado aqui, com vistas apenas a fazer parte de uma sociedade de práticas artísticas, não é mais o mesmo…

Texto publicado na 8ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de agosto de 2024. → Ler edição completa

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