Dúvidas
Desde o fatídico dia… ou melhor dizendo, desde a fatídica noite, aquela em que fui atacado, envolvido pela estranha e irrecusável aproximação da misteriosa vampira, me vejo recluso, incapaz de mover um pé sem que duvide das minhas forças, do meu livre-arbítrio que, suponho, fora totalmente sujeito, desde então, à influência daquela mulher e sua força…
Nada de muito grave aconteceu fisicamente comigo, desde então; porém, sabendo ter sido “corrompido”, inoculado em mim algum veneno que, se não mortal, pelo menos indicador parece de que não sou mais o mesmo, sinto a necessidade de me privar de movimentos, de sair pelo Castelo e, quem sabe, me deparar com “ameaças” afins…
Pois certamente que aquele ataque, na forma de uma desconcertante mulher, não deve ter sido uma exclusiva demonstração do ambiente misterioso com que me deparo aqui…
Há poucos dias, revirando os papéis que abundam pelas mesas do lugar (a escrita compartilhada de outros convivas do Castelo), li coisas que me deixaram profundamente preocupado. A primeira e mais inquietante descoberta (será um fato?) é a presença, segundo alguns, de uma vila chamada “Séttimor”. Não que a existência de lugares vizinhos a esse ambiente seja algo excepcional; antes de chegar aqui, bem lembro, avistei casas, espécies de cabanas e alguns moradores que, ao que tudo indicava, nada tinham de anormais; porém, essa tal vila “Séttimor”, nos textos com os quais tive contato, era descrita como lar de pessoas sem rosto(!), de pessoas que, sem possuírem expressão facial, demonstravam, inquietantemente, comportamento benigno…
Qual não foi minha surpresa ao parar com essa leitura e, numa pequena reflexão, me perguntar se aquele povoado que avistei ao me aproximar do Castelo, em minha chegada aqui, não era esse descoberto e discutido em uma das crônicas…
Por certo que os outros frequentadores desse recinto sabem mais do que eu… A pergunta é se, estando aqui, estou sujeito aos mesmos fenômenos que essas pessoas já devem ter visto ou presenciado, se não como protagonistas de algo mais obscuro, além de meu entendimento, pelo menos como coadjuvantes de alguma ação — até mesmo sofrido aquilo que eu, completamente rendido, testemunhei e do qual fui alvo, agora sem saber das futuras consequências…
Como lidar com tal testemunho, tal possibilidade de realidade fantástica ao redor desse local onde atualmente habito e que, comprovadamente, está aberto à visitação de outras enigmáticas vidas? Que segurança tenho de me manter vivo, dono de minhas vontades e sonhos, estando rodeado por forças muito além da simples compreensão natural? Mesmo sendo elas, segundo as provas lidas por mim, ainda distantes das paredes do meu quarto — e, assim espero, dos muros do Castelo —, o que já experienciei por conta própria aqui dentro (o Baile, o ataque) há muito que já me dotou da certeza de que aquele eu inicialmente chegado aqui, com vistas apenas a fazer parte de uma sociedade de práticas artísticas, não é mais o mesmo…
Wallace Azambuja vive em Porto Alegre e estuda Letras na UFRGS. Sua paixão por sonetos é intensa e sua maior produção literária atual está voltada à escrita deste clássico formato poético. Atraído pelo mistério e profundidade da Literatura Gótica, o autor participou do Desafio Sombrio 2023, onde mostrou…
Leia mais em “As Crônicas do Castelo Drácula”:
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26 de junho —Ainda tenho essa lembrança.Pareceu-me que haviam se passado horas desde que fui barrado em Séttimor. Ioam era uma figura imponente...
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854 D.C. A tempestade torrencial açoitava a pele exposta de Mericus na escuridão da noite enquanto ele fazia o caminho para seu casebre...
O jardim estava envolto em uma tranquilidade quase palpável, o ar estava fresco e carregado do aroma que as flores exalavam. A mulher, que a cada dia trazia...
Pela primeira vez, em muitos dias, resolvi caminhar pelo ambiente exterior do castelo. Estranhamente animado, de alguma forma seguro após...
O homem ao qual me assemelhava não pronunciava sequer uma palavra, e também senti que ele não era dali; não me parecia que dividíamos a...
A noite embeleza ainda mais a atmosfera deste lugar e a lua grandiosa em tom fúlvido parece brilhar na umidade da minha pele. Sorrio de maneira leve, mas...
Enquanto exploro um pouco os corredores do castelo, para esquecer os acontecimentos estranhos por aqui, sinto o frio do mármore sob meus pés...
— Nauärah? A palavra, o nome, simplesmente escorre pela minha boca, soando o mais natural e simples possível. Tenho certeza de que jamais...
No porão úmido daquela casa, o aroma mórbido de mofo consumia minhas narinas, mesmo e apesar da máscara sobre meu rosto. O corpo estendido no chão era só mais um…
O céu era de uma profunda escuridão estrelada. Eu estava próxima de um arvoredo denso cujo negrume das copas, banhadas pelo caráter do infinito acima…
31 de dezembro? — Antes que começasse a me ensinar algo, a criança de cabelos escuros veio até mim com um tecido de…
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Morte. É isso que verte pelas paredes do Castelo. […] Após escrever a carta para a minha família, deixo-a em uma espécie de escrivaninha…
Desde o fatídico dia… ou melhor dizendo, desde a fatídica noite, aquela em que fui atacado, envolvido pela estranha e irrecusável aproximação da…
Minhas mãos suadas permanecem estáticas segurando a maçaneta de ferro, enquanto meus olhos castanhos brilham perante a insondável nívea…
Meu caro amigo, te envio notícias da capital. Além desta carta, somam-se alguns jornais nossos….
Às margens de um rio próximo à sua aldeia, Nauärah brinca com uma coroa de flores ao redor da sua cabeça, quando seu pequeno amigo Tupiará se aproxima…
31 de dezembro? - Um tremular doloroso e frio me consumia, a criatura continuou lá me acalentando e esperando paciente…
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