Wallace Azambuja
Wallace Azambuja vive em Porto Alegre e estuda Letras na UFRGS. Sua paixão por sonetos é intensa e sua maior produção literária atual está voltada à escrita deste clássico formato poético. Atraído pelo mistério e profundidade da Literatura Gótica, o autor participou do Desafio Sombrio 2023, onde mostrou seu talento para o estilo obscuro e, também, na escrita de contos.
Desde cedo Wallace se apaixonou pela leitura, iniciando-a através de gibis e, depois, livros. Tem uma obra recém-publicada: “Soneto aos olhos e outras impressões”. O autor, intenso em sua escrita vinculada em suas experiências e sensações pessoais, afirma delinear em suas palavras uma desnuda sinceridade.
Convidado de honra da 8ª edição, datada de agosto de 2024. Mês de comemoração dos 30 anos da Anfitriã.
Escreveu para as Crônicas no lançamento oficial delas na edição de fevereiro de 2024.
Entrevista
Nasci e moro em Porto Alegre (RS).
Sou estudante de Letras (licenciatura em Português e Inglês) na UFRGS.
Creio que a aura de mistério, ao mesmo tempo ameaçadora e atrativa, que aplicada de maneira balanceada e magistral numa manifestação artística ou próprio estilo de vida, nos condiciona a admirá-la.
Em relação à minha prática de escrever (na maior parte, poemas/sonetos), muito se deve ao meu contato desde cedo com a leitura, desde gibis, passando por narrativas cada vez maiores, mais desenvolvidas, até chegar ao meu reconhecimento do poder da palavra, dos efeitos transmitidos por um bom livro — e escrita — e que podem impregnar o leitor de reflexões e sentidos para sua vida.
No momento, como acabo de lançar recentemente meu primeiro livro, penso apenas que, em dois anos, talvez, eu esteja com poemas suficientes para produzir um novo título…
Além de poemas, quando consigo me desprender da forma tradicional, tento enveredar pelos caminhos do conto, da narrativa curta — como se vê, não vou além da escrita.
Falando sobre a literatura, penso que meu apreço pelo soneto (estilo de poema tradicional) veio muito da minha descoberta de Augusto dos Anjos, cujos versos “mórbidos”, escritos com toda aquela musicalidade, ficaram na minha memória até hoje. Também, muitos dos meus primeiros sonetos, aqueles que eu considerei dignos de algum valor, escrevi a partir da descrição de quadros que me inspiraram, muito dos quais do estilo impressionista (Claude Monet, Henri Martin, entre outros).
Eu indicaria meus textos presentes no Desafio Sombrio 2023, no qual apliquei meu gosto por fazer sonetos desenvolvendo poemas nessa temática, algo sem precedentes na minha experiência — escrevi até um conto! Além disso, meu primeiro livro de poemas, “Soneto aos olhos e outras impressões”, está disponível desde julho para quem quiser conferir; penso haver neles uma seleta daqueles que considero meus melhores poemas feitos até aqui. Ademais, em meu perfil no Instagram (@wallace_dnb) podem ser encontrados outros poemas/sonetos/leituras de minha autoria.
No geral, penso que o clima brasileiro e sua mistura de tipos favorecem um rumo bastante peculiar para quem se interessa pela temática, podendo assim explorar diferentes formas do estilo.
Não costumo referenciar explicitamente obras e artistas brasileiros nos meus textos, mas com certeza me baseio muito no que leio deles/delas, pois a literatura brasileira é riquíssima e estou sempre com alguma nas mãos.
Sou praticante assíduo do soneto, muito mais do que de outras formas, então procuro transmitir por meio desse estilo tradicional todo sentimento que viso expressar. Estes vão desde a mais dominante paixão (onde minha escrita ressoa algo do romantismo brasileiro junto à vivência contemporânea), passando por confissões de mágoas e/ou arrependimentos do passado, chegando até mesmo à utilização do poema como tentativa de parafrasear outras obras/ideias que me inspiram (como quadros, contos, músicas etc).
Procuro sempre em meus textos — principalmente os sonetos — trazer aspectos de minha própria experiência de vida. Não fosse assim, não haveria razão de dedicar tanto esmero à procura de rimas, de métrica… Sendo assim, a quem ler minhas obras, afirmo que podem contar com a quase absoluta certeza de estarem diante da mais desnuda sinceridade.
Obras do Autor
Voltei a me encontrar com Ameritt, a convite dela e por motivos que ela mesma garantiu me mostrar. Estava em meu quarto, ocupado com a leitura e busca…
Sou acumulador destas saudades | que fazem coleção dentro de mim… | Eu guardo todas co’a maior vontade, | e ao peso que elas dão não dou um fim…
Entrevistador: Qual era sua relação com a vítima? | Amigo da vítima: Nos criamos juntos. Amigos de rua, de infância…
Buscando os lisos universitários | um passatempo que não muito exija, | retiram lá de cima do armário | um roto e velho tabuleiro ouija…
Essa massa purulenta | cuja dor e sofrimento | o meu peito, enquanto aguenta, | faz por ela um juramento, | tem por força de promessa…
Tudo começou com uma reminiscência. Caminhando pela rua, por alguma calçada que serviu de gatilho, voltei vinte anos atrás…
De bruços | amortalhado | escondo o rosto e | não rezo | há dias que me rendi | às horas | à persecução | desse uniforme humano…
De soslaio | en passant | caminho retrátil da vida | a vida | sensorialmente | num piscar de olhos |desembarque brusco | ato que rende e assalta…
Ao alcance das mãos: a rede mundial | encurtando caminhos, trazendo à tona | a promessa de um globo conectado | cada vez mais forte e necessária..
O Fim — a consequência imediata, | arauto de conversas seculares; | cometa de mil pernas que nos chega | no meio de um sábado, em notícias…
O mundo fecha-se por detrás da cortina, | Esconde de mim seu endereço. | Sozinho, | Tenho por companhia somente a angústia…
luz e sombra | vívida postura | olhar fixo | — não na ave de curvo bico —…
vozerio giratório | 90 graus de alegria | disputa acirrada na pista de pneumáticos | pela janela…
Transpus o limiar da realidade | (Lugar em que julguei haver raízes) | Pra navegar a fundo em outros mares, | Riscar o trivial da superfície…
Pobre donzela, presa nessa torre… | Refém de um soberano sufocante… | Alheio ao seu destino fulgurante, | Maior que o de sofrer a noite insone…
Sentidas notas: plange o vocalista… | Transforma a dor em coro; a sua banda | Fornece-lhe o amparo, alternativa | Saída além do choro sobre a cama…
Convicto, sei que há uma boneca | De aspecto japonês sobre o armário… | Recordo-me ter visto em outras épocas; | Suspeito ainda agora, enquanto falo,…
o abrir meus olhos, já estava amarrado… Punho e canelas; uma cinta atravessada no colo… tiras que me prendiam naquilo que parecia uma cadeira médica, de confortável estofado e inclinação…
O gosto vai de cada um: servida, | A forma é sempre a mesma sobre os pratos | — Difere-se o recorte, se por cima | O tronco destrinchado está dos braços...
Não há mais que fazer, não vejo escopo, | Me resta ser à pena obediente, | À punição por ter, sem precedentes, | Visão daquele tipo, valioso…
Visitante das mais inoportunas… | Te convido a entrar — mas não se abanque, | Nem pegue em suas mãos estas figuras | Que poucas são e deixo em minha estante…
Resumo das notícias pelo mundo: | Cidades transformadas em desertos. | Com essa informação (distante) eu durmo | Na paz que tenho e vivo sob um teto…
Mamãe pediu pra mim que a esperasse | Enquanto ia ao mercado… Estou sozinho. | Lá fora está bem frio, é muito tarde, | Cai neve… — e só o gato aqui comigo…
Beirando a hora 1 da madrugada, | Das mais humildes a cidadezinha| Se viu com suas luzes apagadas: | Sem rádio, celular, sem energia…
Visão do mar revolto, suas ondas | Gigantes, traiçoeiras… nada perto | Da verdadeira face que se encontra | Na profundeza a mais de 10.000 metros…
Dez dias de total isolamento, | E o cidadão não teve paciência; | Contra todas as dicas da ciência | Resolveu sair de seu apartamento…
Plantei-a logo cedo (era semente): | Promessa de um futuro ambicionado. | Cuidei fazer valer o fio crescente — | Em meus afetos já criando espaço…
Natureza minaz, impunemente | Fazendo as suas vítimas, tão crua | Na forma de tratá-las — a postura | Só vista em tiranias, inclementes…
Recanto de Literatura Gótica
Um orgulho para o Castelo Drácula! Conquista exclusiva de Wallace Azambuja.