Pergaminhos do caos sangrento
Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula
Na penumbra úmida do Castelo Drácula, Arale Fayax, a felina xamã viajante e hospedeira do alcácer noturno, debruçou-se sobre um diário poeirento, oculto no subsolo de uma livraria decrépita.
As páginas sussurravam segredos selados, e ao folheá-las, sentiu um torpor gelado.
De súbito, o papel dissolveu-se em névoa, e ela foi tragada por um vórtice de palavras e símbolos arcanos.
Ao emergir, viu-se diante de uma ponte tecida de arco-íris manchado de rubi. O solo fremia, e trovões retumbavam em um firmamento tingido de azul-acinzentado. Adiante, numa sala selada, repousava uma ânfora de cristal, onde um líquido rosa e espesso pulsava, reminiscente do sangue corrompido de sua linhagem ancestral.
No exílio de eras, um presságio bradava:
A xamã eleita, em rosa consumida,
Foi pela treva impura convertida,
No sangue selado, em sombra escrava.
Os ancestrais de Arale buscavam pela criatura nefasta que possuíra sua oráculo predestinada, subvertendo-lhe a alma pura. Seu sangue, antes sagrado, tornara-se néctar maldito, e nele a entidade foi selada. Agora, ali diante da ânfora, Arale sentiu um murmúrio vibrar no éter.
As sombras se contorceram, e um espelho velado se ergueu ao fundo. O manto negro que o cobria deslizou por conta própria, revelando o horror do Ttyphrssett. A criatura exsudava a essência pútrida dos famintos, sua pele lacerada por incontáveis dentes que lhe rasgavam a boca por dentro. O fenômeno Nemonium se fazia presente—o tempo quebrava-se, realidades se chocavam.
Com seu machado e lâminas em punho, Arale avançou.
Sua máquina de escrever, ela a cravou no solo enquanto ela pulsava pergaminhos de sangue e registrava a criatura em seu bestiário cósmico e de ossos...
O monstro, ágil como um trovão em queda, deslizou pelo salão, buscando envolvê-la em seus longos membros. Suas veias púrpuras pulsavam com fome ancestral.
Em riste, Arale investiu.
A lâmina rasgou a carne do ser, mas a dor era combustível para sua fúria. Num assalto cruel, Ttyphrssett enlaçou-a, puxando-a para a superfície gélida do espelho. Arale sentiu sua carne arder, a barreira entre mundos prestes a consumi-la. Mas com um último fôlego, cravou sua adaga rubra no coração pútrido da besta.
Os rugidos da criatura eram a sinfonia da ruína. Seus membros se contorceram, estilhaçando o vidro do espelho em um turbilhão de trevas e ecos de gritos esquecidos. A ânfora ressoou, vibrando como se as próprias trevas tentassem eclodir.
De aço e chamas, dançou com a fera,
Cortando sombras, desafiando a espera,
O fim sangrento, escrito e previsto.
A lâmina rasgou a carne do ser, mas a dor era combustível para sua fúria.
Num assalto cruel, Ttyphrssett enlaçou-a, puxando-a para a superfície gélida do espelho.
Arale sentiu sua carne arder, a barreira entre mundos prestes a consumi-la. Mas com um último fôlego, cravou seu machado com sua lâmina rubra no coração pútrido da besta.
O espelho explodiu em fragmentos de sombras e ecos de gritos.
A ânfora ressoou, vibrando como se as próprias trevas tentassem eclodir.
Arale sabia que o lacre se enfraquecia, o ar estava pútrido e pesado, enguias, águas vivas de sangue e bolhas de veneno e dor e escuridão pulsavam com relâmpagos de sangue pulsantes...
Um tremor abissal eclodia, a terra gritava,
o ar sufocava, o céu derretia...
Fora do castelo, uma cidade impossível erguia-se.
Figuras pálidas caminhavam entre cabras de olhos sombrios.
O canto dos Doutrinadores ecoava de uma catedral sepulcral, oferecendo-lhe absolvição.
Mas Arale não buscava salvação....
Ela buscava a verdade.
Adiante, a Ponte Sem Fim surgia em meio à tempestade.
Se a cruzasse, enfrentaria seus maiores arrependimentos.
Mas era um preço que estava disposta a pagar.
Sob o céu fendido pelo Nemonium,
Arale seguiu,
sabedora de que o véu entre realidades
jamais se fechava para aqueles que ousavam conhecer seus segredos.
Na fenda do tempo, onde a sombra jaz,
O sangue selado em ânfora persiste,
O horror renasce, o ciclo insiste,
E só a lâmina audaz a ruína traz.
Na ponte insana, o vento entoa um pranto,
Lamento frio de almas esquecidas,
São vozes tristes, dores divididas,
Segredos mortos que retornam tanto.
Avança Arale, o olhar de ferro e encanto,
A sombra ao pé, as chagas não dormidas,
No peito, as mágoas são feridas
Que sangram a cada suspiro e canto.
Mas eis que surge um vulto espectral,
Da fenda antiga, um rosto conhecido,
Olhos vazios, do pranto infernal.
A xamã caída, outrora luz, perdida,
Ergue a mão em chamado desleal,
A ânfora pulsa, sedenta, esquecida...
Em tom soturno, o vento traz um nome,
Sussurra em brisa o fado e a perdição,
Arale treme, entre dor e visão,
Pois sente a ânfora chamá-la ao seu tome.
O líquido rosa escorre em puro dome,
Goteja lento, em mágica atração,
O tempo sangra, em cruel perdição,
A felina xamã sorri, selando a fome.
Recolhe do solo sua máquina de escrever de ossos
Mágica o tomo, o machado pulsa o elixir,
Mas se beber, cairá na ruína,
Se recusar, a ponte ruirá,
Ao coexistir, mortos cantarão sua sina.
Eis o dilema, entre luz e os pesares,
Os horrores, as cores, de um obscuro passado que alumia,
Nas sombras do éter, ela há de permanecer,
Criogenia dos pergaminhos do caos sangrento...
Há de eximir tal perigrinação?
Um coração que brada sepulcral,
A neve dança em véu de funeral,
Turva o olhar em névoa carmesim,
Na noite gélida, cântico abismal,
Ergue-se ao vento, soturno e sem fim.
Trepida o solo sob o passo vil,
A sombra ri em eco abissal,
Lâminas brilham em duelo febril,
A ruína espreita em jugo infernal.
Sangue na neve, um rubro espectral,
A xamã clama, a fúria a devora,
No abraço da morte, laço mortal.
Por entre as fendas, o tempo implora,
Arale ruge, em queda final,
O gelo a cobre, a treva a chora.
“Cautela; à dor pertence tudo o que se é — e nas sombras do ser há uma angústia imorredoura. Ainda assim, há contento ao sentido. Veja-me, desvele-me na…