Capítulo 11: Pecado... — Rubi Áurea


Leitores, este capítulo contém cenas sexuais explícitas. Estejam atentos e, caso possuam alguma sensibilidade, não prossigam. Apesar do aviso, sugiro que experimentem a leitura; trago a sexualidade sempre com bastante lirismo. Apreciem! — Sahra Melihssa

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Símil a um olho, o obscuro pingente reluzia. A lótus negra decerto significava meu ainda existente vínculo com o Oráculo, como os sigilos no pulso, entretanto, eu não sabia o porquê, tampouco como aquilo se manifestaria. Por instantes pensei, ofuscada em mim, sob o mortal silêncio daquela estranha natureza... que a solidão, por muito rejeitada, talvez fosse a mais honesta escolha. Nunca estive só, eu pensava, desde que respirei sob a umidade do Castelo. Havia a criatura em meu cerne... sim... eu não a culpava ou a considerava odiosa... porém, era algo em mim que não deveria residir em minh'alma — eu nem sabia onde ela estava... no ser... no inconsciente... nas entranhas... 

E, de repente, estive nos braços de Lëvri... e, então, selei um pacto com Lahgura... como se não bastasse... veio-me Seth... e outros que encontrei por tais tortuosas veredas. E, ainda, os medos que sempre me acompanhavam como vultos em vigia. A condição de solidão esteve sempre contígua mesmo sob tal verdade inabalável — fazia-me pensar que se é para tê-la, independente daqueles ao meu redor, então que seja na totalidade, sozinha e a sós, sentindo e vivenciando a solidão. Lembrava-me que, com Lëvri, por átomos de tempo, afastara-se este exílio impertinente e ínfimo e tão... tão amargo..., mas... um poço de mágoa se estendia... tudo mudou sobre Lëvri... como se a intensa paixão fosse nada além de uma ilusão lunar... 

As minhas rubras íris, no reflexo daquelas águas, entristeciam-se. Eu esperava mais da vida logo que despertei, mesmo cingida por nada além de hialina reminiscência. Eu não sabia o que sentir sobre as vivências desde então, era como não pertencer a si mesma... atrelei isso à ausência das memórias, embora nada mudasse a cada relembrar... Antes, porém, que eu pudesse extrair alguma compreensão do mais medonho oceano que estava, no meu cerne, cada vez mais revolto, eu vi outro alguém refletido nas águas da fonte, logo atrás de mim. Respirei fundo... era Seth... 

— O que tu queres? — Indaguei, irresignada. Seth sentou-se ao meu lado na fonte. Mantive-me olhando as águas, movimentando-as com a lentidão de mil noites. As dunas do plácido intermúndio que eu almejava eram, na verdade, cada grão de areia, um incômodo. Uma flor, então, desvelou-se à minha visão. Era inenarrável... Símil às dálias, tão leve e suave... com pétalas em voluta, formando um redemoinho escarlate; o vento ali já agitado, abriam-nas com um sopro contínuo. Resplandeciam em um negror-etéreo, com nuances carmesins, como se a noite tivesse derramado nela seu próprio sangue. No âmago daquelas pétalas, havia infinitesimais veias que pulsavam de forma quase imperceptível, como se a espécie tivesse um arcano coração, palpitando lento e sutil.  

Seu aroma, um mistério adocicado e quente, invadiu-me os sentidos, evocando abstrações sentimentais que eu desconhecia possuir, arrancadas do meu mais merencório oblívio. Os espinhos grandes, como nas rosas selvagens, eriçavam-se agressivamente, curvado para cima, protegendo-a dos toques indignos, em uma beleza que se declarava proibida. O caule, negro como carvão polido, era robusto e sinuoso, morno ao toque, quase aquecido ao tom de uma tez, como se moldado na escuridão nociva do mármore negro das bordas do rio de lava, no inferno. 

Ó, pulcritude absurda! Nunca vi espécie de tamanha perfeição. Era tão majestosa e tão estranha em sua beleza lúgubre, que trouxe às janelas de minh’alma um lacrimar vestal, embaçando-me a visão. A luz ao derredor minimizara drasticamente, era como estar apenas, sob minha presença, a flor e, sob a presença dela, eu; nada mais, nem o tempo, nem o dia ou a noite. E nenhum astro na imensidão. Minhas mãos tremiam, tocadas pela solenidade desse presente impensável, enquanto eu a segurava cuidadosamente, sentindo sua lanugem e a textura sedosa das pétalas. 

Olhei para Seth, estava tudo tão escuro... meus olhos, tomados por uma emoção ambígua, entre gratidão e mágoa, contornavam meu semblante aflito. Seth era tão familiar... tão desconhecido... 

— A nutrúrnia prometida... — Disse com sua voz abíssica. Fazia tempo que eu não o ouvia. Seus dedos tocaram a lágrima que vertia pelo meu rosto e eu o fitei, com mais rancor. 

— Bela na pureza de sua constituição... tão doloroso e pungente, no entanto, é sê-la, pois, tudo o que é vestal trava encontro com a mentira e a traição... profanando a inocência... — Proferi, sem deixar de fitá-lo. Sei que minha face transbordava em amargura. Ele respirou fundo. 

—  Por que proferes tamanha complexidade? Se tens algo a me dizer, então diga. 

— Sim, eu tenho... — Estava profundamente, cada vez mais, escuro ao redor. — Tua traição, tuas mentiras... um grandioso protetor tu és, eu já disse n’um outrora não tão longínquo... tu és capaz de enganar e trair a tua protegida...  

— Do que... — Ele parecia confuso, mas eu sentia que tudo era um disfarce. 

— Cinismo agora não! — Interrompi com a voz elevada. — Já basta, Seth. Tentaste colocar a criatura mítica como uma dupla personalidade que busca me fazer mal, como se eu tivesse um transtorno psíquico. Não ias me revelar sobre o que ocorria quando ela assumia minha consciência... o que mais tens escondido, demônio? — Ares superiores curvaram seu rosto. 

— Demônio, sim... e, como tal, não tenho os mesmos princípios morais que um humano. Faço tudo para proteger a tua existência, se isso inclui mentir, será feito; não há maldade em mim, muito menos bondade... — Respondeu. Mais respirações profundas, silêncios sob o véu do vento intenso e cicioso. A feição de Seth se amainou no tempo silente. — Sentes minha falta, Aessatt? — Ele segurou-me em meu maxilar. — A criatura do teu âmago, não me permite mais possuir... possuir o teu corpo... Ela quebra nosso elo... incapacitando-me de saber onde tu estás e quando precisas de mim... Isso está me enlouquecendo... 

— Dizes, então, que estás além do bem e do mau? Dizes que Corphidrae está expulsando-te e digo, pois, que a razão é o saber que ela possui sobre a tua maldade! — Argumentei após retirar suas mãos de mim. Eu não queria seu cálido toque, já muito me bastava ter de fitar seus olhos tão azuis... 

— Sim, estou além do bem e do mal... eu não sou humano, Áurea. E Corphidrae também não é. Como um animal, ela apenas mantém protegido o seu território. 

— Então... parece que já tenho uma protetora. Pode ir embora, Seth. — O silêncio voltou... e criou imensurável barreira entre nós. Seth ainda me olhava, entretanto, uma tênue tristura se espelhava em sua fisionomia. 

— Não sentes... nenhum afeto por mim? — Murmurou, baixo e grave. Eu não esperava tal indagação, portanto, não sabia como respondê-la. 

— Qual é o valor do afeto para um demônio além do bem e do mal? — Embarguei... 

— Decerto muito maior do que para um humano... — Desviou seus olhos de mim, fitando o horizonte quase impossível de enxergar.  

— Esperas algo de mim, Seth? Que eu lhe diga apreciar tua companhia desde o primeiro momento? Enquanto sinto tanto por tuas enganações... a rispidez do teu sarcasmo... sempre vieste a mim como bênção e como maldição. 

— E sou aquele que está aqui. — Seth aproximou-se, pegando em meu rosto com suas mãos. — Eu estou aqui, Áurea, eu estou aqui... Estou buscando por ti, estou protegendo-te em teu âmago ou fora dele... usurpei uma nutrúrnia para o teu bel prazer, com um inominável risco à espreita... — Senti-o acariciar meu torso, próximo ao meu coração pulsante. — Questionas minha moral... minhas mentiras... entretanto, em nome de tuas memórias, compactuas com entidades traiçoeiras... desenvolves laços com oráculos hostis, sempre em busca do que tu eras... enquanto eu... estou em teu presente... no aqui e no agora... construindo ao teu lado uma nova história que se perde no teu saudosismo... — Seth acariciou meus cabelos. — Desejo a Áurea que vejo e não aquela que um dia existiu... nem mesmo tu, Áurea, deseja a Áurea d’este momento... sempre sondando quem ela era... e quem ela há de ser... 

— Quem tu és sem as tuas memórias, Seth? 

— Lembra-te quando despertaras? Quando me viste em Séttimor... e quando me desejaste... na biblioteca... ou quando te salvei naquela adega sombria...? — Eu lembrava, contudo, mantive-me silenciada. Seth levantou-me e segurou minha cintura, colocando meu corpo contra o seu no centro daquela escuridão. — Tem algum valor em tais memórias para ti? — Aproximou-se, beijando meu rosto, devagar... 

— Eu... — Hesitei. Era difícil resistir... Seth me envolvia tanto... e eu sentia que ele tinha razão, pois, seus argumentos me mostravam que eu não dava valor ao que o despertar n’esta existência, em tal Castelo, proporcionava... pouco a mim valia tudo o que havia ao meu redor, pois eu precisava de minhas memórias, sem elas eu me sentia incompleta. Por outro lado, Seth criou memórias ao meu lado e esteve próximo, fazendo o que lhe era possível... sendo quem ele poderia ser... e, talvez, de todos os horrores, de todas as inverdades... desde Lëvri até Lahgura... ou mesmo o preço que devo ter pagado pelas previsões do Oráculo... havia manipulação em tudo... todos... eram enganações perpétuas... lâminas cortantes, translúcidas, abscindindo meu coração. 

— O Corvo Esfaqueado: Invertida... eu sei que é sobre ti... — Murmurei. 

— Queres crer em teu oráculo... eu compreendo... mesmo havendo Monm te alertado sobre os perigos... — Seth estava tão perto... eu sentia seu hálito quente... 

— Tu esteves lá... — Lamurei já enlevada... 

— Sim... preso pela Corphidrae, digno apenas de observar e temer... — Seth apertou-me a cintura, beijou o canto de meus lábios quando sua mão direita guiava minha nuca. 

— Ah... o teu perfume mescla-se à nutrúrnia... — Sussurrou, beijando-me o pescoço; minha tez arrepiara e senti medo. — Um bálsamo ardente... almiscarado e doce... 

— Eu não... eu não sei... — Tentei dizer algo que sequer sabia... balbuciando palavras em busca de alguma lídima racionalidade. 

— Ah... mas eu sei... — A mão de Seth conduziu-se aos meus cabelos... — Eu sei... — Seus lábios tocaram nos meus... Seth era ardente, parecia possuir uma temperatura verdadeiramente mais elevada que a de qualquer outro corpo. 

Sseri morttiss ssamor ssinnihcuoss emtriss humaniss, esspussess erebriss daemoniss ssaeiva enssnura, ssaeiva enssnura voluass.” — Ouvi, não vinha de Seth, mas a voz amedrontadora estava nele; meus olhos que outrora se fecharam pelo que emergia em meu imo, abriram-se assustados. 

— O que é isso? De quem é essa voz? Seth? — Ele me olhou, seus olhos brilhavam como fogo e sua respiração era ofegante... 

— Hum...Tu ouviste... 

— Sim! E não é a primeira vez! — Seth levou as mãos à sua cabeça, parecia transtornado. N’um impulso, pegou a flor do inferno e logo voltou-se a mim, puxando meu corpo contra o seu com mais força. Seu beijo, n’este instante, tornou-se voraz, intenso e promíscuo. Segurava-me os cabelos, a cintura, levando-me a caminhar para onde eu não via. Caímos em um monte de folhas secas, ao que parecia, ainda no jardim; mas tudo se mantinha muito escuro. 

Sseri morttiss ssamor ssinnihcuoss emtriss humaniss, esspussess erebriss daemoniss.” — Ouvi outra vez e tremi, em medo irrompente. Seth beijou meus seios, abrindo meu vestido... meu oceano íntimo desaguou por volúpia no instante em que o medo aflorou ainda mais em minha tez. 

— Áurea... pulso tanto... por ti... — Murmuraram as sete vozes do abismo, ascendendo-me mais ao temor e ao prazer. 

“Inuoss ssor Lussifferr!” — ouvi, mais alto, mais horrendo e austero. Meus olhos lacrimejaram de pavor dilacerante. Seth agitou sua cabeça, como se tentasse afastar o que ouvia. 

— Seth... isso... estou amedrontada... — Confessei. 

— Eu sei... — Disseram as sete vozes do abismo. Desde aquele momento anterior, Seth só se comunicava com elas. Era como o eco de sua própria voz, sete vezes se repetindo, um eco profuso e tétrico. — Eu sinto o teu medo... e também sinto o teu desejo... e quero sentir a tua boca... — Fui levada, ainda sendo segurada pelos cabelos, a ficar sobre o peito de Seth. Dominados pelo breu absoluto, eu mal podia enxergá-lo, pois, sempre que a luz adentrava ao derredor, pouco depois era consumida na escuridão. Ainda que privada de visão em razão d’esta estranha manifestação que pensei se tratar advir de Seth, as trevas pareciam nos proteger na intimidade apavorante. — Sinta o meu verdadeiro inferno... — Seth murmurou e levou meu rosto à tua plenitúrgida intimidade... abri meus lábios, um instinto perverso que não era meu, mas vinha de mim. “Abnaesss! Sserpen! Abnaesss!” — ouvi, o maldito som da voz, pior que a de Seth; o medo me consumia violento. 

As mãos dele ordenavam minha cabeça, forçando-a contra seu membro que eu sorvia e me engasgava. Era tão quente... tão errado... de sabor sedutor... aroma viril... olhei para sua face de regozijo. Eu o desejava e senti-me profundamente envergonhada por isso. Eu não conseguia compreender. Seth me puxou para seu peito outra vez, e logo se colocou sobre mim, beijando-me e beijando mais. Senti-o subir meu vestido, tocando minhas pernas. Arrepiava a minha pele, em profundo temor e volúpia. Então... tocou o cimo de minha vulva, quente e, naquele momento, inundado por minha saliva. E lentamente foi se penetrando... devagar... bem devagar... seus olhos queimavam, assim, de forma literal havia fogo em suas retinas... e seu membro, se entrando em minha arculva, pronta para envolvê-lo... abraçá-lo... e tão pulsante, ele e eu... “Ssattaessatt erebriss esspussess daemoniss” — tremulei e vibrei. 

Ainda cingida pela aflição do medo, entretanto, muito mais pelo deleite. Assim que o membro de Seth se escondeu em mim, tocando-me o ventre; seu ritmo ascendeu rápido, tanto quanto a exultação. E seus movimentos, entrando e saindo do meu íntimo, como um animal, gemendo e lamuriando demoníaco, faziam-me curvar meu corpo, enquanto suas mãos apertavam-me a cintura e as costas; minhas unhas cravavam-se novamente, agora por outras razões, em seu dorso, relembrando de nosso recente confronto.  

— Ah... isso... ah... mais... mais... — Eu o ouvi, entre nossos gemidos e o terror. Eu estava descontrolada... perdida... minha cabeça volvia e volvia, embriagada, extasiada... e ele... dentro de mim... tão intenso... tão sensível... minha respiração completamente desorientada. Sua pele em minha carne... rígido, forte, deslizante... Eu sentia uma energia bizarra extraída do corpo de Seth e penetrando meu ventre, subindo pelos meus órgãos vitais. — Ah... ttssorr... — Ele dizia, tomado pela insanidade... eu sequer sabia o que aquilo significava... e cada vez mais agressivo, teso... obsceno em mim. 

Naquele instante, vi minhas marcas em seu pescoço... vi suas veias... belíssimas... qual era a cor de seu sangue? Eu não me lembrava... segurei seu pescoço... cravei-lhe meus dentes e o ouvi ranger de dor. O sangue dele tocou minha língua como uma febre causada pela peste mais horrenda, como lava me queimou, ardeu! Tinha o sabor de um pecado oculto em veludo escarlate... era picante como uma planta maldita, amargo como vinho seco guardado há eras sob as colunas de mármore negro do inferno. E, no fundo, uma nota de morte... e o gosto de promessas quebradas, de mentiras seladas na dor e no prazer. Gota a gota... inundando-me os lábios e a garganta... 

O sangue de Seth não alimentava — ele incendiava. Despertava. Corrompia e elevava ao mesmo tempo. Estava acima do sangue humano: não era vida, era poder. E, ao consumi-lo, minha alma sibilou: “sserssattua” — o significado era evidente à minha consciência: “pecado”. Seth me retirou do meu delírio ao ouvir-me, o seu sangue escorreu, pingando sobre meus seios. Ele segurou meu rosto; fitou-me com um sorriso mórbido. Suávamos tanto... e após sorvê-lo, eu me sentia mais tórrida... 

Perssattua ssorn aessatt... — murmurou. “Minha possuída... para sempre” significava. Contrações intensas em todos os meus músculos, um orgasmo súbito me governara. Arranhei o torso de Seth. Ele se abaixou, sussurrando em meu ouvido. — Sinta... — Eu queria mais. Puxei-o, pelo lado esquerdo, e cravei meus dentes no outro lado de seu pescoço; sorvi... deliciosamente... e tão logo enquanto sorvia, eu o senti tremer muito... bradar um prazer inumano... e o seu liquor demoníaco e fértil, banhou-me como uma onda obscura do oceano azul-gris. Seth vociferou horrores na língua dos demônios, parecia enfraquecido de tanto que fora sorvido por mim, e eu não parava. Novamente fui empurrada por ele; afastando-me de seu pescoço. Ele estava muito fraco. Prostrou-se ao meu lado, incapaz de se levantar... parecia dizer algo, mas eu não o ouvia bem... seu corpo começou a queimar como papel, algo nunca visto por mim, entretanto, meus sentidos estavam aguçados para tudo, eu podia enxergar em toda aquela escuridão e entendia que Seth estava indo para o inferno. 

A nutrúrnia, por sua vez, também estava diferente, caída ao nosso lado, parecia mais viva... e eu podia ouvi-la sussurrar o ininteligível, como um canto feminino sôfrego. Em minhas pernas escorria um líquido denso, eu estava nua e tudo era preto e vermelho. Peguei a flor, fechando-a na palma de minha mão, de modo célere, fui ferida pelos espinhos; eu não me importava, pois, estava em uma afrodisíaca overdose. Finquei o caule da nutrúrnia em meu peito... sim... e senti profundo enlevo arrebatador, como doses absurdas de dopamina... eu senti... muito além da dor estarrecedora. Caminhei, cheia do poder demoníaco... e o desejo sexual ainda aflorado... meus passos na escuridão... uma escuridão que pertencia a mim... sozinha... imunda de sêmen... manchada de pecado. 

Eu compreendi muitas coisas... sorver o sangue de Seth me fez uma daemoniss, em alguma instância... em alguma profundidade. Compreendi que a nutrúrnia consumia toda a luz ao seu redor, tornando qualquer pálido lume em um ponto opaco no breu absoluto. Compreendi que sua seiva causava o mesmo êxtase que o sangue de Seth, se sorvida... e que, regada de sangue e luz, ela propagava sua escuridão onde apenas os daemoniss eram capazes de enxergar. Compreendi o idioma de Lussifferr, entendi que ele alertava Seth a todo o instante, com sua voz de imponente horror, dizendo que o expulsaria do inferno se ele ousasse possuir uma humana..., mas eu... eu não me sentia humana... era, mesmo assim, vista como uma.  

Eu tinha o poder de Seth... e apesar disso... apesar do que veio de encontro ao meu entendimento e apesar do intenso desejo, mesmo após o sexo... eu me sentia constrangida e uma intuição insistia em revelar que a solidão ainda era real, obstinava-se em me alertar que a paixão por Seth era hostil. Eu o vi abrasar e sumir... debilitado e... eu pensava nele. Voltei ao meu aposento e fiquei imersa nas águas frias de uma banheira de porcelana... impassível diante de meu próprio pecado... enquanto a nutrúrnia permanecia fincada, sem permitir esvair uma única gota do meu sangue. Eu via seu caule detrás de minha tez... respirar estava difícil... 

E a estranheza tinha uma presença própria, quase tátil... ela se disseminava no calvário de um sentimento mofino que me pertencia tanto. Eu... eu sentia que era uma traidora... era isso... eu sentia que havia traído Lorrt, mesmo sem amá-lo como um dia amei. 

Rubi Áurea
Áurea Lihran escrevera suas terríficas e fascinantes vivências após despertar em um antigo castelo, o Castelo Drácula. Sem memória alguma de seu passado, ela buscou encontrar respostas e sentidos que guiassem a sua existência, mas, para isso, teve de fazer escolhas sombrias e ainda lidar com a sua estranha sede por sangue e o seu desconhecido poder. Este seu manuscrito foi deixado por ela, como volume único, na biblioteca do Castelo Drácula e, agora, por razões obscuras, ele está em suas mãos. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. No túmulo da sua literatura gótica, a autora entrelaça o terror, horror e mistério com a beleza mélea, o fantástico e o botânico, como em uma valsa mórbida… » leia mais
16ª Edição: Soramithia - Revista Castelo Drácula
Esta obra foi publicada e registrada na 16ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de maio de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa.

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