Escuridão
No porão úmido daquela casa, o aroma mórbido de mofo consumia minhas narinas, mesmo e apesar da máscara sobre meu rosto. O corpo estendido no chão era só mais um, asfixiada por uma corda de juta após ser presa e sedada. Rápido e indolor. “Ela precisa morrer essa noite, caso contrário, eu perco tudo o que conquistei durante todos os últimos vinte anos.” — Foi o que ouvi do contratante. Que vida efêmera. Que vida frágil. A podridão das circunstâncias e o caos do acaso. Setenta mil reais em criptomoedas na minha conta no dia seguinte, sem vestígios, isso é o que me importava.
No entanto, a chuva aumentara de modo estranho naquele momento, demais para um inverno comum. Subi as escadas do porão e a cabana parecia mais escura do que antes. Caminhei em silêncio enquanto observava os arredores; aquela escuridão terrível turvava meus sentidos. Um breu cuja origem só poderia ser o inferno. Quando, pelo tato, encontrei a maçaneta de alguma porta, abri-a de imediato em busca de quaisquer evidências que me sinalizassem o lugar em que eu estava. Sim, eu tinha uma lanterna. Quando você mata pessoas com certa frequência, você evita a luz e busca as sombras, naturalmente.
A porta rangeu como um espírito esquálido. Sua madeira era pesada e seu movimento lento; aquilo era mais bizarro do que pode parecer, pois eu estava em uma cabana e não em um antigo mausoléu. Mais escuridão. Adentrei-a sem hesitar, então vi uma chama vívida e trêmula. Olhei para traz e nenhuma porta encontrei, meu único destino era seguir, embora eu questionasse minha sanidade naquele momento. “Lars…” — Ouvi. Um sussurro anômalo, feminino e lânguido. Segurei meu revólver com uma fugacidade brutal. Seja quem for, se sabe meu nome, deve morrer. — Essa era uma das minhas regras.
Era impossível ouvir meus passos. Apontava a pistola em todas as direções que eu olhava. O silêncio era denso e a escuridão era quase perpétua, pois alcancei a chama frágil em um castiçal sobre uma escrivaninha; isso me permitiu olhar bem para cada detalhe. Eu não estava na cabana. Aquele lugar possuía paredes de pedra bruta, mobiliário antigo, poeira, longos corredores. O castiçal era de bronze. Abri as duas gavetas da escrivaninha e o que encontrei em uma delas fora um livro. “A Divina Comédia”. Então ouvi passos à direita. Longínquos passos. “Que porra é esse lugar?” — Questionei a mim mesmo, talvez em busca de ouvir a minha voz para ter certeza de que eu não estava sonhando.
Liam Hänssler é escritor, nascera em 1981 — destinado à escrita antes de despertar ao mundo humano. Seu estilo narrativo combina elementos de terror psicológico com erotismo e fantasia sombria, levando seus leitores a emoções dúbias e colocando à prova as suas crenças mais enraizadas. Hänssler publicou…
Leia mais de As Crônicas do Castelo Drácula:
Segui as noites na companhia de Ameritt, sempre auxiliando em tudo que ela precisasse que fosse feito para abastecer e alimentar os hóspedes do castelo…
Finalmente comecei a ter boas noites de sono; fazia tempo que eu não dormia bem. Os chás que tomei com Ameritt…
Voltei a me encontrar com Ameritt, a convite dela e por motivos que ela mesma garantiu me mostrar. Estava em meu quarto, ocupado com a leitura e busca…
Enquanto eu me afasto da biblioteca, as sombras parecem se fechar atrás de mim, como se o lugar estivesse lamentando a minha partida. No entanto, não há…
A noite pairava densa sobre Fortaleza, as luzes artificiais competindo com o brilho distante das estrelas. Velian, em sua forma mais recente, caminhava pelas…
Suas palavras parecem distantes, mas a memória de nossas jornadas no campo de batalha ecoa mais forte do que qualquer outra lembrança…
Os olhos de Ameritt me estudavam com uma certa fascinação, como se o véu que escondia minha natureza fosse rasgado, expondo o vazio e o negrume do meu ser…
Na densa floresta verdinegra, ouvi pequenos grilos ao longínquo; o horizonte era um mistério verdejante enquanto a única luz ambiente...
26 de junho —Ainda tenho essa lembrança.Pareceu-me que haviam se passado horas desde que fui barrado em Séttimor. Ioam era uma figura imponente...
Diante de mim está o altíssimo e longínquo corredor em forma de arco. Seu comprimento é imensurável, tal qual o colossal monstro bíblico Leviatã...
854 D.C. A tempestade torrencial açoitava a pele exposta de Mericus na escuridão da noite enquanto ele fazia o caminho para seu casebre...
O jardim estava envolto em uma tranquilidade quase palpável, o ar estava fresco e carregado do aroma que as flores exalavam. A mulher, que a cada dia trazia...
Pela primeira vez, em muitos dias, resolvi caminhar pelo ambiente exterior do castelo. Estranhamente animado, de alguma forma seguro após...
O homem ao qual me assemelhava não pronunciava sequer uma palavra, e também senti que ele não era dali; não me parecia que dividíamos a...
A noite embeleza ainda mais a atmosfera deste lugar e a lua grandiosa em tom fúlvido parece brilhar na umidade da minha pele. Sorrio de maneira leve, mas...
Enquanto exploro um pouco os corredores do castelo, para esquecer os acontecimentos estranhos por aqui, sinto o frio do mármore sob meus pés...
— Nauärah? A palavra, o nome, simplesmente escorre pela minha boca, soando o mais natural e simples possível. Tenho certeza de que jamais...
No porão úmido daquela casa, o aroma mórbido de mofo consumia minhas narinas, mesmo e apesar da máscara sobre meu rosto. O corpo estendido no chão era só mais um…
O céu era de uma profunda escuridão estrelada. Eu estava próxima de um arvoredo denso cujo negrume das copas, banhadas pelo caráter do infinito acima…
31 de dezembro? — Antes que começasse a me ensinar algo, a criança de cabelos escuros veio até mim com um tecido de…
O céu estava negro e denso como minha alma, mas uma estrela de esplendor singular havia me cativado. Brilhava alheia à escuridão que a cercava…
Morte. É isso que verte pelas paredes do Castelo. […] Após escrever a carta para a minha família, deixo-a em uma espécie de escrivaninha…
Desde o fatídico dia… ou melhor dizendo, desde a fatídica noite, aquela em que fui atacado, envolvido pela estranha e irrecusável aproximação da…
Minhas mãos suadas permanecem estáticas segurando a maçaneta de ferro, enquanto meus olhos castanhos brilham perante a insondável nívea…
Meu caro amigo, te envio notícias da capital. Além desta carta, somam-se alguns jornais nossos….
Às margens de um rio próximo à sua aldeia, Nauärah brinca com uma coroa de flores ao redor da sua cabeça, quando seu pequeno amigo Tupiará se aproxima…
31 de dezembro? - Um tremular doloroso e frio me consumia, a criatura continuou lá me acalentando e esperando paciente…
Lancei-me contra as sombras do corredor, apressei cada um de meus passos enquanto minha mente atordoada se alimentava de sua própria angústia…
As sombras eram solecismos factuais; um ruído medrava-se horrífico. Algo físico entre nós inibia-nos, impedindo quaisquer aproximações; uma divisão vítrea, perceptível…