Às vezes, o cotidiano parece inclinar-se em direções obscuras, como se uma mão translúcida o reordenasse em padrões estranhos e irreconhecíveis. Coisas que deveriam ser apenas isso — coisas — passam a nos encarar com um sutil desconforto, como se guardassem algo sob suas superfícies polidas e familiares. Aqui, no tema “Anomalias,” mergulhamos no absurdo, no tortuoso e no inquietante. Trata-se de revelar o que é mundano, mas que, ao toque de mórbida falha, distorce-se e se torna uma ameaça quieta.

As anomalias podem brotar de qualquer canto: em espelhos que devolvem reflexos ligeiramente distorcidos, em sorrisos que se alongam por segundos a mais, em objetos que se movem sem testemunha, mas revelam uma nova posição que ninguém ousaria questionar. Pense no conhecido que, de súbito, vira desconhecido, naquilo que nos provoca uma dúvida lenta e corrosiva. Uma canção, talvez, que ecoa sem origem; ou uma casa, outrora acolhedora, que passa a exalar um ar de abandono, um odor úmido que se instala sob a pele.

Crie com as Anomalias o terror do detalhe, do desvio pequeno, mas perturbador. Deixe o leitor à beira da incerteza, sentindo-se como alguém que cruza o limiar entre o real e o impossível, entre a banalidade e o pavor inominável. Conduza-o a ver as rachaduras onde ninguém mais ousaria olhar. As anomalias estarão sempre ali, prontas para tecer nossa realidade com fiapos de pesadelos, deixando perguntas que não se respondem, apenas ressoam em silêncio.

Imagens criadas por Sara Melissa de Azevedo. Tema e premissa escritos por Sara Melissa de Azevedo.

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