Marcolongo Ricardo
Ricardo Marcolongo Melo (Marcolongo Ricardo), natural e residente em Suzano/SP. Formado em Sociologia, Antropologia e Política, atualmente cursando o último semestre da faculdade de Direito.
Começou a escrever poesias por volta dos 09 (nove) anos de idade, após assistir uma reportagem no Jornal Nacional ao lado dos pais sobe a morte do Poeta Carlos Drummond de Andrade, a narração na voz por apresentador Cid Moreira narrando dentre muitos o poema “No meio do caminho” o encantou, na manhã seguinte, pegou um pequeno caderno e começo a escrever pequenos poemas, sobre seu cachorro, gaivotas, navios, marinheiros e tudo que uma mente infantil deseja-se. Participou de alguns concursos incentivado por professores e seus pais.
Escreveu centenas de poesias em mais de 03 (três) décadas, mas nunca desejou publicá-las, apesar que, por volta de 2005 disponibilizou algumas em um blog. A partir de 2023 passou a participar de algumas dezenas de antologias, e hoje já é um nome consolidado em diversas publicações.
O estilo de Marcolongo Ricardo é noturno, introspectivo e atravessado pela tensão entre beleza e ruína. Sua escrita traduz o silêncio em linguagem e recolhe os fragmentos de um espelho partido para reconstruir uma nova imagem. A sua literatura transita entre o gótico, o ultrarromantismo, o existencialismo, o pós-modernismo, o simbolista e o decadentista, mas não se limita a escolas: absorve o confessional da modernidade, a angústia metafísica do romantismo e o tom sombrio da dor transformada em estética.
Trabalha com imagens densas, metáforas vigorosas e atmosferas de espera, perda e resistência. Em sua obra, a palavra é ferida e canto, máscara e revelação. Seus textos erguem catedrais de vento ou descrevem a ruína de um coração, sempre em busca da centelha que resiste mesmo nas sombras.
Pode-se definir sua escrita como um romantismo sombrio renovado: poética, melancólica, às vezes brutal, outras vezes delicada, mas sempre voltada ao que permanece quando tudo o mais se desfaz. Suas obras não oferecem respostas fáceis; nascem mais das perguntas do que das certezas, abrindo fissuras no silêncio, no tempo e na memória.
Quem entra em seus textos encontra um território de sombras e centelhas, onde a noite, as ruínas e o vento retornam como símbolos do drama de existir e da esperança de resistir. Sua literatura é híbrida, navegando entre poesia e narrativa, filosofia e confissão e nasce do íntimo para alcançar o universal: a fragilidade, a ausência, o desejo e o medo.
Para Marcolongo Ricardo, escrever é um ato de resistência contra o esquecimento. Sua obra busca guardar o que o tempo tenta apagar, dar voz ao que é silenciado e transformar em canto a dor, como testemunho de uma tentativa: fazer da escuridão uma forma de luz.
Entrevista
Nasci e vivo até hoje na cidade de Suzano, São Paulo
Possuo graduação em Sociologia, Antropologia e Política, atualmente estou no último semestre da Faculdade de Direito.
O que me atrai na Literatura Sombria é a sua capacidade de revelar aquilo que se oculta sob a superfície da existência. Ela não mascara a dor nem disfarça a ruína; ao contrário, dá voz ao silêncio, nomeia o indizível e permite que o vazio respire dentro da palavra. No território sombrio da literatura, descubro que o abismo não é apenas queda, mas também uma metáfora, um espelho onde o ser se reconhece em sua fragilidade e impermanência.
A sombra é, paradoxalmente, o espaço da mais profunda sinceridade. É nela que o riso se mostra ferido, que o amor se revela em sua condição de perda, que o tempo se expõe como corrosão inevitável. O fascínio não nasce do culto ao horror, mas da possibilidade de converter em arte o que seria apenas desespero. Ao escrever, transfiguro a morte em linguagem, a espera em ritmo, o fracasso em beleza.
A Literatura Sombria me atrai porque nela a vida se mostra inteira, sem o verniz das ilusões. O que parece lúgubre é, na verdade, um gesto de coragem: encarar a finitude, o silêncio e a ausência, mas também reconhecer que, mesmo nas trevas, há clarões que iluminam, não para dissipar a noite, mas sim para revelar o essencial que nela se esconde.
Comecei a escrever aos 9 anos de idade, após assistir no Jornal Nacional a notícia da morte do poeta Carlos Drummond de Andrade. A narração do poema “No meio do caminho tinha uma pedra” me encantou profundamente. No dia seguinte, peguei um caderno e comecei a escrever pequenas poesias sobre meu cachorro, gaivotas, navios e outros temas do imaginário infantil. Tive a sorte de contar com o apoio dos meus pais e de algumas professoras, que chegaram a me inscrever em um concurso municipal de poesias.
Ao longo dos anos, continuei com esse vício da escrita, embora muitas vezes tenha parado por alguns períodos para depois retomar. Naquela época, utilizava uma máquina de escrever que ganhei do meu pai quando concluí o curso de datilografia e a conservo até hoje.
Escrevi também em agendas, cadernos, guardanapos, apostilas… sei também que muita coisa se perdeu, e muita eu mesmo destruí em momentos de fúria. Gosto especialmente dos textos que produzi durante um período de depressão profunda, talvez a escrita mais pura e sincera que já tive.
Confesso que nunca tive grande vontade de publicar. Apesar de ter compartilhado alguns textos em um blog, acreditava que meus escritos só seriam publicados, de fato, após minha morte.
No entanto, há cerca de três anos, ao navegar por postagens aleatórias, encontrei o chamado para uma antologia intitulada Sangue e Versos, da Editora Arama Farpado. Na hora, lembrei-me de um poema que escrevi por volta de 2005, Réquiem para um Pesadelo, que até hoje considero o meu favorito. Enviei o texto e fui aceito. Desde então, surgiram convites, conheci outros escritores e, em pouco tempo, já participava de mais de 80 antologias.
Como tenho algumas centenas de poesias prontas estou selecionando para dois livros iniciais, sendo um de poesias gerais e outro voltado ao universo gótico e sombrio.
Gosto de pintura digital abstrata. Costumo dizer que no abstrato encontro minha realidade. Em 2022 tive uma das obras exposta em uma Galeria em Lisboa/Portugal.
Minha escrita nasce no cruzamento de muitas vozes. Em minhas raízes estão Shakespeare, com sua profundidade dramática, e Goethe, que elevou o espírito humano ao confronto com o infinito. Carrego o lirismo sombrio de Lord Byron e a chama romântica de Álvares de Azevedo, assim como o gesto fundador de John Polidori, Mary Shelley e Bram Stoker, que deram ao imaginário gótico sua carne e seu sangue. A eles se soma Edgar Allan Poe, mestre das trevas psicológicas, da obsessão e do abismo.
Minha poesia também se deixa atravessar por Baudelaire, com sua melancolia lúcida e decadentista, por Mallarmé e sua música rarefeita, por Cruz e Sousa com seu simbolismo febril e intenso. De Novalis e Hölderlin herdo a noite e o misticismo do romantismo alemão; de Nerval, a vertigem entre sonho e loucura; de Sylvia Plath, a confissão trágica que sangra beleza; de Pessoa, a multiplicidade do ser. Paul Celan me oferece o silêncio como linguagem, enquanto Bataille, Bukowski e Leminski me conduzem entre a transgressão e a nudez do cotidiano.
Na música, encontro ecos em Bowie e sua teatralidade visionária, no existencialismo sonoro do Pink Floyd, na espiritualidade ritual de Dead Can Dance, na visceralidade sagrada de Nick Cave. Piazzolla me ensina o tango trágico que pulsa em meus versos, e a ópera rock do Queen e The Who me oferece a grandiosidade dramática que se harmoniza com minha voz poética. Mas também ressoam em mim as sombras de Joy Division, Bauhaus, Siouxsie & The Banshees e The Cure, que transformaram melancolia em culto; o lirismo melódico de The Smiths e Morrissey; a delicadeza melancólica de Belle & Sebastian; a aura fantasmática de Nico e o experimentalismo de The Velvet Underground. Bob Dylan me traz a poesia do canto errante, enquanto no Brasil reconheço a herança de Legião Urbana e Cazuza, a ousadia de Rita Lee e a Tropicália, a teatralidade de Ney Mato Grosso, a poesia de Belchior, a sensibilidade lírica de Guilherme Arantes. Cada um desses artistas é um espelho onde encontro fragmentos do que escrevo: música feita de dor, esperança e rebeldia.
Na pintura, reconheço-me nos delírios sombrios de Goya, na angústia expressionista de Munch, no ouro e na decomposição de Klimt, na teatralidade da luz de Caravaggio, nas paisagens apocalípticas de Beksiński, a estética única de Andy Warhol, a angústia existencial e sofrimento psicológico de Van Gogh entre outros.
Na filosofia e psicologia, sigo o caminho de Nietzsche e seu desafio ao vazio, de Jung com sua sombra que se revela poesia, e de Benjamin, que enxergou na ruína o testemunho mais profundo da modernidade, os jogos metafóricos de Lacan.
Sou, portanto, herdeiro e continuador dessa constelação: um poeta que se move entre o romantismo sombrio e o decadentismo, entre o gótico e o simbolismo, entre a confissão e o silêncio, entre a dor e a beleza. Minha escrita é o ponto de convergência de séculos de vozes uma tentativa de transformar a noite em palavra viva e o abismo em poesia.
Ainda não possuo uma obra publicada, mas tenho participação nas antologias a seguir – Poema Requiem para um Pesadelo na Antologia Sangue e Versos pela Editora Arame Farpado, pela editora Helden na Antologia Versos Sujos Copos Vazios tenho seis poesias e um conto e pelo Projeto Sombrio na Antologia Poetas Vampiros tenho uma poesia publicada. Além disso tenho mais algumas dezenas de participações.
A literatura no Brasil é feita de contrários. De um lado, carrega a força dos mitos, a oralidade das ruas, a paixão das margens, a herança de poetas como Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Cecília Meireles, Drummond, Clarice Lispector. É uma literatura que sangra e floresce na mesma página, que transforma dor em resistência e silêncio em metáfora. O Brasil sempre teve escritores que souberam ouvir as vozes soterradas, sejam as do povo, sejam as da alma.
Mas, ao mesmo tempo, é uma literatura muitas vezes negligenciada em sua própria casa. Vivemos num país onde o mercado prefere a novidade efêmera, onde o livro, tantas vezes, não chega às mãos de quem mais precisa dele. A literatura aqui luta contra o esquecimento, seja o esquecimento cultural, seja o esquecimento político.
Vejo na literatura brasileira uma potência de abismo e beleza. Potência porque sempre que mergulhamos em suas raízes, nos cantos populares, nos modernistas, nos poetas marginais, nos românticos, nos simbolistas, encontramos universos vastos. Abismo porque, mesmo diante de tanto talento, ela ainda é tratada como luxo, não como necessidade vital.
Para mim, a literatura brasileira é espelho e ferida: reflete nossa diversidade e nossa dor, e ao mesmo tempo denuncia a falta de espaço dado a ela numa terra que ainda não aprendeu a ouvir plenamente seus poetas. Talvez por isso ela seja tão urgente porque nasce de uma carência, mas floresce como resistência.
Sim, uso referências do Brasil em minhas obras, mas não de maneira direta ou folclórica. Elas entram como ecos subterrâneos, vozes que atravessam minha escrita. O Brasil me aparece nas ruínas de uma cidade que se desfaz sob o concreto, nos bares enfumaçados onde ainda ressoam guitarras e poemas, no carnaval que mistura festa e melancolia, nos cantos de Belchior, Cazuza, Legião Urbana ou Ney Mato Grosso onde o amor, a solidão e a revolta se fazem canção.
Costumo inserir essas referências como sinais encobertos, símbolos que carregam tanto a beleza quanto a tragédia de viver aqui: uma rua de São Paulo ao entardecer, um bairro esquecido que guarda histórias, um personagem que traz na pele a memória de um país desigual. Às vezes é apenas uma palavra, um sotaque, um ritmo que escorre nos versos; outras vezes é um silêncio, uma ausência, que já diz mais sobre o Brasil do que qualquer descrição direta.
Minha relação com essas referências é sempre paradoxal: amo e denuncio, celebro e lamento. Como se cada metáfora carregasse também um espelho partido, onde vejo o país e a mim mesmo refletidos. O Brasil, em minha escrita, é tanto cenário quanto personagem: é o vento quente que entra pelas frestas do poema, é a ruína e o canto, é a promessa e a frustração.
E, nas minhas referências internacionais, recorro a Londres como cidade-espectro, palco da modernidade e da neblina que engole memórias, e a Berlim do pós-guerra, decadente e fragmentada, onde as ruínas se tornam metáforas de um mundo que insiste em recomeçar sobre as próprias cinzas.
O estilo das minhas obras é noturno, introspectivo e marcado pela tensão entre beleza e ruína. Escrevo como quem traduz o silêncio em linguagem, como quem recolhe os fragmentos de um espelho partido para construir uma imagem nova. Há sempre uma dimensão existencial, um olhar que atravessa o abismo sem negar o medo, mas transformando-o em matéria poética.
Minha escrita transita entre o gótico, o simbolista e o decadentista, mas sem se limitar a escolas literárias: absorvo o confessional da modernidade, a angústia metafísica do romantismo e o tom sombrio da literatura que faz da dor uma estética. Trabalho com imagens fortes, metáforas densas, atmosferas de espera e perda. Muitas vezes, os meus textos caminham como quem carrega um peso, mas buscam ao mesmo tempo a centelha que persiste mesmo dentro da sombra.
É um estilo que mistura lirismo e densidade filosófica, música e silêncio. A palavra, para mim, é ferida e é canto, é máscara e revelação. Posso escrever como quem confessa um segredo, como quem ergue uma catedral feita de vento ou como quem descreve a ruína de um coração, mas sempre com a intenção de deixar na linguagem o rastro de algo que ultrapassa a própria experiência pessoal.
Se tivesse que resumir, diria que o estilo das minhas obras é o de um romantismo sombrio renovado: poético, melancólico, às vezes brutal, outras vezes delicado, mas sempre em busca daquilo que permanece quando tudo o mais se desfaz.
Sim. Talvez a principal coisa que eu diria a quem ainda não conhece minha literatura é que ela não busca respostas fáceis. O que escrevo nasce mais das perguntas do que das certezas. Minhas obras não são feitas para oferecer conforto, mas para abrir fissuras: no silêncio, no tempo, na memória.
Quem entra nos meus textos encontra um território de sombras, mas também de centelhas. A noite, as ruínas, o vento, o espelho partido, o coração em espera são imagens que voltam sempre porque carregam algo essencial: o drama de existir e, ao mesmo tempo, a esperança de resistir.
Minha literatura é híbrida. Transita entre poesia e narrativa, entre filosofia e confissão, entre o íntimo e o universal. Eu escrevo a partir de mim, mas o que busco é tocar no que existe em todos: a fragilidade, a ausência, o desejo, o medo.
Não espero que meus leitores apenas leiam: quero que se encontrem, ou se percam, nas entrelinhas. Quero que sintam que a palavra pode ser tanto ferida quanto cura.
E, talvez, o mais relevante: escrevo porque acredito que a literatura é uma forma de resistência contra o esquecimento. Ela guarda o que o tempo tenta apagar, dá voz ao que é silenciado e transforma em canto aquilo que parecia só dor. Minha obra é o testemunho disso: a tentativa de fazer da escuridão uma forma de luz.
Obras do Autor
Ainda não possui textos publicados no Castelo Drácula.
Foi aprovado pela Comissão das Trevas do Castelo Drácula.