Pesadelo
Os gritos histéricos e o agoniante ranger da cama ecoavam por toda a casa. Sob o lençol branco, seu corpo se contorcia num medonho frenesi. Ele acorda aterrorizado: a cama encharcada, os olhos quase saltando das órbitas, os braços estendidos implorando por alguma intervenção. Amedrontado, Pedro senta-se na cama, atordoado. Ele tenta buscar respostas para esse terrível pesadelo e sussurra:
— Isto foi tão assustador, e tão tangível quanto as paredes dessa casa.
Ofegante, ele fita a janela à frente da cama. Ouve o soprar dos ventos, que soam como o arrepiante uivo de lobos em plena lua cheia, e ouve também as flores do jardim e as altas gramas movendo-se de forma estranha. Enquanto encara a janela, uma terrível sensação de estar sendo observado toma conta dele. Munido de coragem, ele se levanta, e, ao acender a luz do quarto, nota algo estranho: o piso parecia maleável, prestes a ceder a qualquer momento. Ele caminha com cautela e acende as luzes o mais rápido que pode. As alterações pioram severamente. Ele podia ouvir o horrível ranger da estrutura da casa; a tinta das paredes parecia derreter. Seus olhos percorrem, apavorados, todo o lugar. Viu também que os móveis da sala haviam duplicado, adquirindo um indescritível aspecto.
— Não pode ser... Isto é loucura! Será que acordei, ou ainda estou dormindo?
Após cruzar a sala, Pedro chegou à porta que dava acesso ao jardim. Ao abrir, ele contemplou o inimaginável ganhando vida diante dos seus olhos: o jardim que outrora era gracioso e belo sofrera também as anomalias. As altas gramas transformaram-se em horrendos e viscosos tentáculos que dançavam sob o temível luar. O som era repugnante. A terra adquirira um aspecto lamacento, como um pântano. O limoeiro fora tomado pelo lamaçal.
Pedro eleva as mãos até a cabeça, e, tomado pelo terror, vocifera perante o inconcebível:
— Isto não é real!! Estou dormindo ainda!
Enquanto ele grita, os tentáculos partem ao seu encontro, deixando um rastro negro pelo chão. Ele corre para dentro de casa e, num piscar de olhos, está de volta em sua cama, apavorado, aliviado por ter amanhecido e pela luz brilhante do sol que invade o quarto. Levanta-se rapidamente, mas não consegue acreditar no que vê: as anomalias continuam lá.
Texto publicado no Desafio Sombrio 2024 do Castelo Drácula. Em outubro de 2024. → Ler o desafio completo
Pablo é um escritor nascido no Nordeste do Brasil, em João Pessoa. Possui uma escrita bastante carregada em angústia, com a essência do terror, horror e ultrarromantismo. Sua paixão pela Literatura Gótica começou na infância. Algumas de suas referências literárias são: Mary Shelley…
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