Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Observo da janela o vazio lá fora; tudo está abandonado, assim como eu aqui dentro. O silêncio é preenchido apenas pelo sussurro do vento. Sinto que é a minha última noite... eu sei que é. Do lado de fora, todos estavam desaparecendo, levados por uma figura luminosa ou uma luz destruidora. Isso me atraía; não havia esperança para mim, o fim era iminente. Eu sentia o medo rastejar em minhas veias, entorpecendo-me e pressionando meu coração, e ainda assim, em algum lugar dentro de mim, havia algo que acolhia esse fim. 

Eu tinha sido uma pessoa cercada de expectativas — um emprego estável, uma vida bem-sucedida, metas que nunca saberei se poderei alcançar — naquela sociedade que esmagava minha alma. Agora tudo é irrelevante; o fim está próximo, sem pressão nem o medo de fracassar. Logo o meu fim há de chegar. Senti um arrepio atravessar meu corpo sem nenhum motivo: era a hora. 

Fui para a rua. Parte de mim queria gritar, correr, fazer algo normal, mas o cansaço me paralisava; o alívio do fim me fez permanecer. Senti lágrimas escorrerem, mas não de tristeza: era libertação. Tudo que me aprisionava estava caindo junto com meu mundo; não haveria amanhã para mim. Finalmente, a liberdade. O medo visceral de perder tudo ainda persistia, mas não havia mais nada a perder, nada mais a fazer. Era o fim de tudo, o fim das minhas obrigações. 

Olhei para o céu, e a luz lentamente descia, vindo em meu socorro, talvez como danação ou salvação. O medo finalmente cedeu, e o alívio me envolveu. Não haveria mais amanhãs para se preocupar, nem fardos para carregar, nenhum espelho para refletir o que eu não poderia ser. Sem decepções e, pela primeira vez, eu senti a paz. 

Texto publicado no Desafio Sombrio 2024 do Castelo Drácula. Em outubro de 2024. → Ler o desafio completo

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