Retrato Final

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

No salão de velhas sombras, onde o tempo não mais há,
Sentam-se os que vivos ficam, a tristeza a ocultar.
E ali, no centro imóvel, repousa a jovem que partiu,
Com seus olhos castanhos claros, de brilho já fugiu.

Seus longos cabelos, ondulantes, caem como véu de marfim,
Sua pele fria e pálida, tão serena, sem um fim.
Seu corpo magro descansa, tal figura singular,
De uma mente outrora ímpar, que cedo deixou de pulsar.

A câmera, cúmplice antiga, se demora a capturar,
Os vivos que a ladeiam, sem coragem de chorar.
A bela moça, inabalável, é a única que não treme,
Seu retrato se faz claro, como se a morte a não teme.

Que segredos seus olhos guardam, que jamais irão dizer?
Que pensamentos brilhantes, a morte foi apagar?
Será que, em seu semblante, há um sussurro a se ouvir,
De alguém que tanto sabia, e tão cedo viu partir?

O tempo se esvai em sombras, a imagem é imortal,
Mas a moça que repousa, guarda um mistério fatal.
Quem ousaria hoje, tal retrato eternizar,
E na fotografia da morte, a beleza congelar?

Pois, na caixa envelhecida, onde a foto repousar,
Os olhos castanhos claros ainda podem te fitar.
E ao encarar a jovem morta, tão serena em seu lugar,
Talvez ouças no silêncio o que ela nunca pôde falar.

Texto publicado no Desafio Sombrio 2024 do Castelo Drácula. Em outubro de 2024. → Ler o desafio completo

 
 

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