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Caminhava eu, cautelosamente, sobre os paralelepípedos ainda úmidos da decrepita rua. Se tratava de um trajeto bastante íngreme. Notei, também, a presença de limo por todo o percurso que era iluminado por puídos postes, emissores de uma oscilante luz em tons de amarelo.

Era uma plácida e refrescante noite de outono, eu trajava uma blusa verde musgo, calças e botas pretas, além de uma jaqueta jeans azul marinho, roupas que foram maculadas e manchadas de escarlate, assim como minha alma. O gosto ferruginoso permanecia na minha língua. Afasto meus cachos ruivos que insistiam em cair sobre minha pálida testa, vislumbro o firmamento, onde a tímida lua minguante brilhava palidamente por detrás das nuvens pintadas de grafite, a sutil brisa noturna passara por mim, quase imperceptivelmente, espalhando o pútrido lixo por toda a extensão da rua, proveniente de sacos rasgados por gatos arteiros.

Enquanto meus olhos passeiam pela noite, meus aguçados ouvidos escutam sons familiares, como risadas de crianças, conversas, e até mesmo o fechar de portas. Conforme eu caminho, sinto um cheiro que me faz parar, era um apetitoso jantar, um pernil assado com batatas coradas, servidos com arroz de especiarias. Por mais suculento que fosse, deixou-me enjoada, então, apoiei os braços em meus joelhos, respirei e andei o mais rápido possível.

Nunca desejei tal destino, tudo o que eu queria era seguir minha vida tranquila, porém, meus planos e sonhos foram usurpados por aqueles belos e vazios par de olhos. Enquanto caminho mergulhada em uma espécie de catalepsia, penso o quão fui tola em aceitar o convite para aquela festa, praguejo a mim mesma, imersa em pensamentos sombrios, sinto a culpa me consumindo como um verme de insaciável fome. Então me deparo com o final da rua, porém, algo me perturba, elevo meus olhos e noto uma imensa ladeira bastante íngreme. Instigada pela minha curiosidade, início mais uma jornada.

A rua era completamente diferente da outra, a ausência de casas me chamou a atenção, como se fosse um caminho para o desconhecido, ela assemelhava-se a um verdadeiro conto horrífico. Notei, também, que ela era feita de terra, ornamentadas de grandiosos pinheiros, ocupando toda a extensão, formando um interminável túnel, impedindo, assim, que o lânguido luar iluminasse aquele lugar. Seria um caminho que a grande maioria evitaria, devido a sua atmosfera soturna, mas algo dentro das minhas entranhas clamava para que eu caminhasse por aquelas terras, e assim segui. Em determinado trecho, percebi que o soprar do vento se tornou mais intenso, trazendo um cheiro pungente, inspirei, um forte arrepio abraça meu corpo, sentia em minhas entranhas que precisava chegar ao final da rua. Enquanto isso, as árvores bailavam ao som de uma canção desconhecida, o som dos galhos reverberava na escuridão. Novamente me encontro refém dos meus pensamentos, ao olhar para traz, vejo a rua desaparecendo, sendo tragada pela escuridão. Ando mais alguns metros, mas paro imediatamente, eis que vejo uma construção magnifica, um colossal castelo, com os mais belos adornos presentes na arquitetura gótica, meus olhos não alcançam o cume, os vitrais brilham lindamente na escuridão. Em êxtase, subo alguns degraus empoeirados e sou recebida pela imensa porta de madeira, em tons brilhantes de escarlate, por fim, uma grande aldrava de ferro fundido completa aquela obra de arte.

— Será que ouso bater na porta?

Texto publicado na 3ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datada de março de 2024. → Ler edição completa

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