Descrença


Imagine
Com as mãos trêmulas, levo mais um copo de whisky à boca. O sabor forte afoga minha língua e anestesia a sensação de desespero e pavor que toma conta do meu ser.
Sou incapaz de descrever o medo visceral que sinto. Estou congelado, petrificado em frente ao computador, com uma tela de busca aberta. Facilmente eu seria tido como tolo por qualquer ser existente neste mundo, mas as coordenadas que recebi durante meus sonhos apontam para um local real. É anti-natural acreditar que isso seja verdade, mas assim o é!
Já há alguns meses tenho tido sonhos cada vez mais vívidos. Um anfitrião (ou anfitriã?) me convoca a sua casa, ao seu Castelo, onde devo produzir uma grande obra em sua homenagem. Durante os primeiros sonhos a figura se mostrava distante, observadora, mas aos poucos passou a ficar cada vez mais próxima, chegando ao ponto de me estender as mãos pálidas e esguias. Pude ver a pele cinza, pútrida, com ossos quase aparentes, que causou uma repulsa intrínseca ao meu ser.
Durante o último sonho, recebi ordens concretas de me dirigir a sua residência sem maiores delongas. Inclusive a figura agora vestia um grande manto negro e surrado. Por uma pequeníssima fração de segundo, pude ver seus olhos de cor púrpura, tão profundos e famintos quanto o próprio inferno. Fora me informado as coordenadas, com exatidão. Acordei em sobressalto e resolvi escrever os números antes que acabasse esquecendo.
Agora, pela manhã, me propus a pesquisar, por mera curiosidade e para poder, finalmente, dormir em paz.
Estou em estado de choque, como nunca estive antes. O local é real, o Castelo é real, ele existe tal como meu computador, minhas anotações, minha casa… Ele reside lá, no topo da montanha, com sua majestade brutal e melancólica. O musgo em seus muros como seu manto. As torres como sua coroa.
Já tive que lutar contra meu café da manhã para que continuasse onde está, além de dividir espaço com as três ou quatro doses de whisky que tomei.
Nada reduz o tremor, o espanto, a amargura, a angústia… Desejo ao mesmo tempo tanto me esconder quanto ir até lá!
Bem, deixarei aqui este registro, para que saibam que resgatei minhas economias, reuni tudo que pude e partir para aferir se é possível existir alguma verdade em tal abismo de descrença e loucura.
Ser soterrada por minha desumanidade fez emergir no meu peito um vazio inominável que despertou algo que outrora nunca houvera..
Amo os clássicos, porque vemos que as mesmas inquietações reverberam na atualidade. Ao mesmo tempo que tudo mudou, nada mudou.
Permaneci parada como se os deuses estivessem parados os ponteiros do infindável tempo, porém aquele ritmo cadenciado do relógio permanecia ressoando…
Abracei o teu convite e vim prestigiar a ópera. A Vida, a Morte e o Tempo estarão presentes no teatro das sombras. Abram vossas mentes para as experiências que…
Sangro em silêncio, e a vida me devora, | sou mais ausência do que corpo, um fardo. | A cada passo o abismo me implora, | mas visto a máscara do riso pardo…
As expectativas do público funesto eram altas. Os presentes, aos poucos, preenchiam os assentos do teatro, que se encontrava sob a penumbra diante…
O licor havia se impregnado em minhas papilas gustativas. Meus dedos agitados fazem o líquido viscoso balançar com inquietação dentro da taça…
Sussurros de uma antífona elegia percorriam aquelas terras intricadas. E, por trás deles, um som denso, contínuo e tátil arrastava-se como…
No céu, a Lua pairava sobre as torres alongadas do castelo tenebroso como um farol prateado. Sua esfera irradiava um cintilar frio e cristalino…
Onde estou? Qual o objetivo de tudo isso? Pelo que estou lutando realmente? Sinto no âmago do meu peito este chamado tão incinerante…
Voltava do Rio de Janeiro, onde estivera com Cassandra — e, embora não quisesse nomear a saudade, ela se insinuava, discreta, como aquele…
Estás aí, ó grande Rei dos reis, | entre as paredes deste castelo sepulcral? | Tua infinita sabedoria, ó Cientista do Universo, | penetra as muralhas…
Fui convocada para uma missão, irmã Teodora me entregou um pergaminho com um nome, não me deu nenhuma explicação, nenhuma justificativa…
Leonardo Garbossa nasceu em São Paulo, em 1995. Desde jovem é um leitor apaixonado e grande fã das obras romancistas. Sentimentalista por natureza, iniciou sua vida acadêmica na área das ciências exatas, migrando em seguida para psicologia, que estuda atualmente. Teve a infância conturbada após perder o pai para o suicídio, tema que se tornou seu foco nos estudos acadêmicos. Foi criado pela avó, que fez o máximo possível para ensinar…
Leia mais deste autor:
No ventre palestino o prometido, um dia, | Nasceu de uma virgem, sob luz de profecia. | Filho de Josué, do Espírito gerado, | Foi pelo rei temido, em berço arado…
Uma dolorosa despedida | Veja! Lágrima seca pela dor | Oh, uma face tão abatida! | Os poéticos últimos momentos de uma flor…
O universo cyberpunk é apaixonante e cruel, assustadoramente amplo e confuso, subjetivo e brutal, crítico e revolucionário, dentre muitas outras coisas…
Na fria balada da noite, sob o manto da neblina | Surge figura soturna, felina. | Com sorriso aberto, nova vítima procura. | Caçada furiosa empreende…
Ádito aos templos, me detenho. | Corpo gravado com feitiços e magias, contemplo. | Lisonjeira mãe, que na escuridão oculta a todos | com garras soturnas…
— Nauärah? A palavra, o nome, simplesmente escorre pela minha boca, soando o mais natural e simples possível. Tenho certeza de que jamais...
Morte. É isso que verte pelas paredes do Castelo. […] Após escrever a carta para a minha família, deixo-a em uma espécie de escrivaninha…
Ao entrar pelos umbrais do castelo, fui tomado pela sensação lúgubre da morte […] A atmosfera deste Castelo é sutil e todo ruído da porta principal, o mínimo que seja, é possível ser ouvido…
Condenados aos trilhos de ferro, com olhares cansados, | Cabelos bagunçados | Dentre almas sem esperança | Viajando em enganoso momento de bonança…
Parece que nunca amanhece aqui. Onde estão os raios de […] | Descrença e desconfiança. Foram esses os princípios que me trouxeram aqui […]
Que tipo de presa seria, oh nobre e cruel rainha, se me entregasse por completo aos teus lascivos caprichos? Que tipo de serva seria se buscasse tua boca…
Dentro dos domínios pungentes da sanidade, me perco por inteiro. A eterna precipitação das cinzas assenta-se em camadas cada vez mais grossas sobre o solo,…
Novamente sinto o sabor pecaminoso em seus lábios vitrais. Como um beijo seco recebo em meu âmago a doçura ébria que somente teu…
Com as mãos trêmulas, levo mais um copo de whisky à boca. O sabor forte afoga minha língua e anestesia a sensação…
As mulheres e crianças liberdade receberam | Podendo viver, livres, sem receio; | Pedra seus corações se tornaram, | Na cidade onde os homens nada falam…

Leonardo Garbossa nasceu em São Paulo, em 1995. Desde jovem é um leitor apaixonado e grande fã das obras romancistas. Sentimentalista por natureza, iniciou sua vida acadêmica na área das ciências exatas, migrando em seguida para psicologia, que estuda atualmente. Teve a infância conturbada após perder o pai para o suicídio, tema que se tornou seu foco nos estudos acadêmicos. Foi criado pela avó, que fez o máximo possível para ensinar a ele a importância da excelência nos estudos e na cultura. Em Dezembro de 2020, percebeu que a escrita poderia ser uma ferramenta adicional à terapia. Desde então, passou a escrever quase diariamente. Após dois anos, e muito trabalho depois, resolveu publicar os melhores textos, todos inspirados em pensamentos, sentimentos e emoções pessoais, para que outras pessoas possam se sentir acolhidas em suas palavras.
Data incerta – Saímos da caverna em silêncio, como alguém que abandona um templo. Siehiffar nos acompanhou até a saída, onde a floresta retornava…