Descrença
Com as mãos trêmulas, levo mais um copo de whisky à boca. O sabor forte afoga minha língua e anestesia a sensação de desespero e pavor que toma conta do meu ser.
Sou incapaz de descrever o medo visceral que sinto. Estou congelado, petrificado em frente ao computador, com uma tela de busca aberta. Facilmente eu seria tido como tolo por qualquer ser existente neste mundo, mas as coordenadas que recebi durante meus sonhos apontam para um local real. É anti-natural acreditar que isso seja verdade, mas assim o é!
Já há alguns meses tenho tido sonhos cada vez mais vívidos. Um anfitrião (ou anfitriã?) me convoca a sua casa, ao seu Castelo, onde devo produzir uma grande obra em sua homenagem. Durante os primeiros sonhos a figura se mostrava distante, observadora, mas aos poucos passou a ficar cada vez mais próxima, chegando ao ponto de me estender as mãos pálidas e esguias. Pude ver a pele cinza, pútrida, com ossos quase aparentes, que causou uma repulsa intrínseca ao meu ser.
Durante o último sonho, recebi ordens concretas de me dirigir a sua residência sem maiores delongas. Inclusive a figura agora vestia um grande manto negro e surrado. Por uma pequeníssima fração de segundo, pude ver seus olhos de cor púrpura, tão profundos e famintos quanto o próprio inferno. Fora me informado as coordenadas, com exatidão. Acordei em sobressalto e resolvi escrever os números antes que acabasse esquecendo.
Agora, pela manhã, me propus a pesquisar, por mera curiosidade e para poder, finalmente, dormir em paz.
Estou em estado de choque, como nunca estive antes. O local é real, o Castelo é real, ele existe tal como meu computador, minhas anotações, minha casa… Ele reside lá, no topo da montanha, com sua majestade brutal e melancólica. O musgo em seus muros como seu manto. As torres como sua coroa.
Já tive que lutar contra meu café da manhã para que continuasse onde está, além de dividir espaço com as três ou quatro doses de whisky que tomei.
Nada reduz o tremor, o espanto, a amargura, a angústia… Desejo ao mesmo tempo tanto me esconder quanto ir até lá!
Bem, deixarei aqui este registro, para que saibam que resgatei minhas economias, reuni tudo que pude e partir para aferir se é possível existir alguma verdade em tal abismo de descrença e loucura.
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Leonardo Garbossa nasceu em São Paulo, em 1995. Desde jovem é um leitor apaixonado e grande fã das obras romancistas. Sentimentalista por natureza, iniciou sua vida acadêmica na área das ciências exatas, migrando em seguida para psicologia, que estuda atualmente. Teve a infância conturbada após perder o pai para o suicídio, tema que se tornou seu foco nos estudos acadêmicos. Foi criado pela avó, que fez o máximo possível para ensinar a ele a importância da excelência nos estudos e na cultura. Em Dezembro de 2020, percebeu que a escrita poderia ser uma ferramenta adicional à terapia. Desde então, passou a escrever quase diariamente. Após dois anos, e muito trabalho depois, resolveu publicar os melhores textos, todos inspirados em pensamentos, sentimentos e emoções pessoais, para que outras pessoas possam se sentir acolhidas em suas palavras.
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