Púrpura Espectral
Ainda não havia encontrado Malus, mas muito me foi oferecido no Castelo Drácula. Fui instalada em um suntuoso quarto vitoriano. Nunca tive tanto à minha disposição. A atmosfera sombria e gélida do castelo adentra a minha alcova e sinto paz. A tapeçaria em tons de púrpura é um deleite, sendo eu tão apaixonado por esta cor rara no vilarejo de onde vim.
A cama é de uma beleza e conforto inenarráveis, me delicio com o toque da ceda pura em minha pele. Reparo que toda a mobília mantém os mesmos ornamentos. Me distraio com apetrechos específicos em cima da penteadeira, mas a escrivaninha me chama ainda mais a atenção.
Ao me aproximar, uma vela de chama roxa acende sozinha. Pego a flor negra solitária que repousava em cima de um envelope, dentro havia uma carta com os seguintes dizeres:
Ane, sinto por não estar presente durante sua chegada, pois foram-me designadas ocupações para além do castelo. Você está segura aos cuidados do Conde.
Há um baú, você deve ter notado, nele encontrará o traje para a noite de hoje. Sim, se a chama violeta acendeu para você, é hora de se aprontar, minha cara.
Anseio pelo nosso reencontro.
Malus.
Um longo, mas não muito volumoso, vestido de um roxo tão escuro quanto o céu que eu podia ver por detrás das cortinas das janelas entreabertas, me deslumbrou. Suas delicadas rendas me fizeram lembrar das roupas simples que outrora usava, mas agora era diferente. Não mais me parecia com a frágil camponesa que fitava a lua. Eu sinto o poder que emana de mim, e embora tudo pareça tão fantástico, sinto-me despertar para a vida.
Ouvi o badalar das 7 horas. Não tinha certeza de qual parte do castelo o som saiu, mas sem alguém para me acompanhar ou impedir, caminhei até o jardim. Um vulto com roupas em tons violáceos me chamou a atenção. Segui-o. Suponho que estava perdido, pois, mesmo eu estando ali pela primeira vez, percebia que seus passos não eram seguros de si.
Estava obcecada. Não poderia desejar nada mais do que perfurar suas veias e beber de seu sangue, gota a gota. Quando finalmente me aproximei o suficiente para realizar tal ato de luxúria, fui abordada por uma voz cavernosa.
— Apreciando a noite, senhora?
— Muito mais me alegra apreciar você.
Uma névoa lilás translúcida nos envolveu. Malus tocou meu rosto e me beijou. Olhou por trás de mim e sorriu maliciosamente.
— Você estava caçando? Pois bem, faremos juntos.
De um modo o qual não compreendia, aquela figura, que antes me parecia perdida, caminhou para o nosso encontro. Pude ver que se tratava de um homem. Meu companheiro beijou sutilmente minha mão direita e a segurou. Mordeu o pescoço que eu tanto ansiava e, se voltou a mim. De suas presas enormes escorria um líquido roxo. Consentiu com a cabeça e me entregou o ser.
Indescritível o êxtase que me foi fornecido. O sangue púrpura se apoderou de mim e me arrebatou em uma explosão de sentimentos. Sensações nunca antes experimentadas me deixaram atônita. Tudo ao meu redor agora era de um esplendor violeta.
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Ana Kelly, natural de São Paulo (SP), é poeta, escritora, contista e artesã, sócia-proprietária da loja de acessórios e artigos alternativos, Ivory Fairy. Tem poemas e contos publicados como co-autora em diferentes antologias. No ano de 2009 recebeu o prêmio de 1º lugar, em um concurso…
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