Sábios e sensatos, incrédulos e indignos.
Dia 2
Não registrarei a data, pois nãos disponho mais deste conhecimento, deixo aqui o horário estipulado por mim com base no astro solar e sua posição na abóboda celeste.
10:00
Querido diário.
Reconheço-me como uma criatura infeliz, não mais tenho a inteligência como uma dádiva, uma vez que a intelectualidade sabota meu ato racional no momento em que necessito de atenção. Compreendes minha indignação diante do confinamento? Estava prestes a conquistar o mundo, por duas vezes interromperam minha jornada, por agora vivo à mercê da hospitalidade masculina, a qual pouco dirige-se a minha presença e contribui para a instrução de conhecimento. O conhecimento vinha a ser tudo para mim.
O tempo dispara no decorrer do confinamento, vejo meu amadurecimento psicológico evoluir e eu ao menos compreendo o motivo deste fenômeno desconhecido. Independente de minha aparência jovial e genérica, atribuída a uma senhorita de dezessete anos, sinto-me amadurecida e equilibrada, porém, embora perceba a vida deixo-me deslumbrar diante de pequenos momentos, como caminhar sentido ao pátio central e em direção ao terraço, onde por vezes fui impedida de maravilhar-me pela revelação montanhosa e verde, proveniente dos vales.
Não duvido da existência de outros confinados sob o mesmo teto, não estou só, digo, além de mim, do Lorde e seu subordinado o qual aparece esporadicamente. Ouço vozes e passos, e por vezes questiono a veracidade de suas existências. Devo procurá-las? Questionei-me pela madrugada, evidente que o fiz, afinal nego-me a permanecer às sombras, alheia ao reconhecimento de meu esconderijo e os mistérios que o cercam, ‘‘Nada é escondido dos sábios e sensatos, enquanto aos incrédulos e indignos não é possível aprender os segredos’’, como diria Cornelius Agrippa.
Ao retornar após a expulsão do terraço em minha vã tentativa sentir o vento da noite sob o terraço, adentrei em meus aposentos pronta para iniciar aos rituais noturnos, porém, o momento em que trajei minha chemise e desarrumei minha cabeleira encaracolada, percebi uma misteriosa chama púrpura movimentar-se no cadeeiro, em uma agitação jamais percebida por mim, logo, todas as demais chamas ao redor, como a cálida flama no interior da lareira replicava a coloração, tomada por fim como espectral, tornando o entardecer retratado no afresco sob a lareira o mais purpúreo concebível.
As chamas deixavam escapar faíscas igualmente dançantes, as quais flutuavam através do ar em direção ao limiar convocando-me a segui-la. E eu o fiz, atravessando os corredores estreitos em direção a um cômodo de tonalidade semelhante à das chamas, adornado de forma antiquada, ostentando a mais bela e rara tapeçaria violeta estendida ao chão e sob um leito majestoso, talhado em madeira maciça, ornada por um dossel integrado a estrutura, o qual representava os contornos de uma catedral. Embora escurecida, a madeira refletia o roxo, condizente ao forro do tecido da cobertura em seu interior.
Ao lado da majestosa obra de arte, meus olhos seguiram o brilho oriundo a um relógio encrustado em ametistas repousado sobre o leito. Delicadamente o toquei na esperança de alcançá-lo, quiçá apanhá-lo tencionando esmiuçar seus segredos, porém, ao invés de fazê-lo, retornei ao quarto por intermédio de uma passagem secreta a qual conecta os andares, sentindo-me indigna de obter tal conhecimento, uma vez que fora ridicularizada e enxotada do único local capaz de ceder-me conhecimento, ainda que pouco comparado aos livros que li ao passar dos anos.
Finalizo o relato em prantos, ainda incrédula de minha ação e desconhecendo em mim o amadurecimento constatado anteriormente.
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Não registrarei a data, pois nãos disponho mais deste conhecimento, deixo aqui o horário…
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