O que saber antes de ler Drácula?
Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula
Atualmente, não há quem não conheça Drácula, o icônico vampiro que, desde a sua publicação em 1897, vem servindo de inspiração para outras obras literárias, filmes e músicas, moldando para sempre a imagem do vampiro. Mas antes de mergulhar em suas páginas sombrias, é interessante conhecer o contexto em que ele foi criado.
Drácula foi escrito nos últimos anos da década de 1890, em pleno apogeu da era Vitoriana, um período marcado por grandes avanços tecnológicos e industriais, expansão do Império Britânico e profundas transformações sociais, especialmente o crescimento da classe média. Mas, ao lado desse progresso, emergiam medos e ansiedades: fascínio pelo oculto, espiritismo e uma sensação de decadência moral. Obras literárias desse século frequentemente expressam esse choque entre modernidade e tradição.
Sabemos que antes de escrever o famoso romance, Stoker viajou por vários países, o que possibilitou suas pesquisas sobre o folclore europeu e as histórias mitológicas dos vampiros. Em Drácula, temas como o medo do “outro” (representado pela invasão estrangeira) — provavelmente fruto da própria experiência do autor como estrangeiro em diferentes países — é simbolizado pela figura do próprio vampiro, que no romance vive nos Cárpatos e pretende invadir Londres para contaminar o Império e conseguir um exército.
Outros temas polêmicos permeiam a obra; um dos mais discutidos pelos críticos é a repressão sexual e o tabu do desejo feminino, conectando o sobrenatural às tensões culturais da época. No clássico, as mulheres ocupam papel de destaque, não ocupam um lugar de submissão em relação à figura masculina. Mina Harker traduz as ambições intelectuais femininas da época: ocupando um cargo de professora, dona de uma mente aguçada e conhecedora da taquigrafia. Não se pode deixar de mencionar que, dos cinco vampiros presentes no romance, quatro são mulheres: agressivas, sedentas por sangue e ousadas sexualmente.
É interessante notar que, antes da obra de Stoker, os vampiros eram retratados como criaturas grotescas que saíam das sepulturas para aterrorizar vilas. Foi Stoker quem, a partir de suas pesquisas sobre o folclore do leste europeu — onde encontrou inclusive o termo ‘nosferatu’ —, uniu essa tradição à aristocracia vitoriana, transformando o vampiro em uma figura sedutora e carregada de inquietações sobre a sexualidade da época. Alguns teóricos ponderam, inclusive, que o próprio Stoker seria homossexual. Talia Schaffer, membro da Associação Norte-Americana de Estudos Vitorianos, aponta cartas intensamente homoeróticas escritas pelo autor e enviadas ao poeta americano Walt Whitman. Além disso, Stoker iniciou a escrita um mês após a prisão de seu amigo Oscar Wilde por homossexualidade.
Mas o que torna a leitura de Drácula mais fascinante é o uso do romance epistolar. A narrativa não se desenvolve de forma linear; os fatos são apresentados ao leitor por meio de cartas, telegramas, recortes de jornal e trechos de diário. Esse recurso confere verossimilhança ao que está sendo contado e obriga o leitor a unir fragmentos da história através das diferentes perspectivas dos personagens. O resultado é uma tensão constante que alimenta a curiosidade a cada página.
Já comentei um pouco sobre Mina Harker, mas há outros personagens igualmente fascinantes que compõem a trama. Entre eles, destaca-se o próprio Conde Drácula: um aristocrata sedutor e monstruoso, que combina ameaça e charme em uma personalidade única. Lucy Westenra é vítima do próprio desejo reprimido e da corrupção vampírica, ao passo que Van Helsing faz o papel de herói, servindo de ponte entre a ciência e a superstição.
Por fim, recomendo veementemente a leitura deste clássico do horror gótico, não por seu status canônico, mas sim por ser a obra que originou a figura do vampiro moderno. Com mais de 30 adaptações cinematográficas, Drácula permanece uma obra poderosa, que ilustrou com brilhantismo os temores e dilemas políticos e sociais de sua época, mas que continuam a ressoar com força até os dias atuais.
Aryane Braun
Aryane Braun é curitibana por nascimento, amor e dor. Formou-se em Letras pela UFPR e possui duas graduações na área da educação. Atualmente, trabalha em uma biblioteca de um colégio público em Curitiba e adora o que faz, pois ama o ambiente que os locais de ensino proporcionam. Afinal, que lugar melhor para trabalhar do que uma biblioteca para alguém que sempre gostou de literatura, antes mesmo de compreender o que ela representa em seu intelecto?... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa
                        
            
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
Atualmente, não há quem não conheça Drácula, o icônico vampiro que, desde a sua publicação em 1897, vem servindo de inspiração para outras obras literárias…