Criaturas que Carregam o Nome de Drácula

Imagem: Eric Hunt

Desde que Bram Stoker publicou Drácula em 1897, o conde da Transilvânia deixou de ser apenas um personagem literário para se tornar um ícone cultural. Sua aura sombria atravessou as páginas, o cinema e o teatro, infiltrando-se também na ciência natural. Naturalistas e biólogos, inspirados por seu caráter sinistro, batizaram diversas espécies com o nome de Drácula ou do próprio Stoker. Assim, o vampiro literário ganhou vida no mundo real, fazendo parte da flora, da fauna e até da paleontologia.

Orquídeas do gênero Dracula

As orquídeas Dracula formam um gênero vasto, com cerca de 146 espécies diferentes. Algumas espécies de Drácula são conhecidas por lembrarem o rosto de primatas, como exemplo temos a Dracula simia. Nascem, em sua maioria, nas montanhas úmidas da Colômbia e do Equador, embora algumas espécies tenham sido registradas no Peru, México e em outros países da América Central. Preferem regiões mais escuras das montanhas, com sombra, onde a umidade é bem alta, dificilmente vão estar expostas à luz solar. Cada Dracula possui nomes bem específicos e alguns exemplos incluem: D. diabola, D. nosferatu, D. vampira e D. vlad-tepes.

Papagaio-Drácula (Psittrichas fulgidus)

No norte da Nova Guiné vive o papagaio-Drácula (Psittrichas fulgidus). Diferente dos papagaios tropicais coloridos, este pássaro possui penas negras que recobrem corpo e asas, enquanto o peito e o ventre brilham em vermelho intenso. Em voo, parece um conde emplumado, trajando uma capa de veludo rubro e negro. Apesar do nome, não é um predador sanguinário, ele se alimenta principalmente de figos, outras frutas, flores e néctar. O rosto nu, sem penas, aumenta sua aparência sinistra, mas também facilita a sua alimentação, evitando que resíduos se acumulem.

Imagem: Greg Hume

De cauda curta e porte imponente, mede cerca de 50 cm, e vive entre 20 e 40 anos. Endêmico da Nova Guiné, é alvo do tráfico por suas penas negras e vermelhas, usadas em adornos tradicionais. Desde 2017, está na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza), classificado como vulnerável.

Morcego-vampiro-gigante (Desmodus draculae)

Entre mais de 1.500 espécies de morcegos, apenas três se alimentam de sangue, todas da América Central e América do Sul e México. O morcego-vampiro-comum (Desmodus rotundus), espécie que se alimenta de mamíferos. O morcego-vampiro-de-asas-brancas (Diaemus youngii), que tem preferência por aves. E o morcego-vampiro-de-pernas-peludas (Diphylla ecaudata), que também tem preferência por aves.

No passado, porém, existiu um vampiro mais imponente: o Desmodus draculae, ou morcego-vampiro-gigante. Com 50 cm de uma asa a outra, viveu entre 2,5 milhões e 3 mil anos atrás, compartilhando cavernas com preguiças gigantes. Nomeado em homenagem a Drácula, ele se alimentava de mamíferos de grande porte, como um predador noturno da megafauna hoje extinta. Hoje o que resta dele são apenas fósseis, apenas lembranças de que, em eras passadas, até o morcego-vampiro teve representantes grandiosos.

Peixe-Drácula (Danionella dracula)

No sul da Ásia vive o Danionella dracula, um peixe minúsculo onde apenas os machos exibem presas afiadas, usadas não para se alimentar de sangue, mas para duelar por território. Sua anatomia é igualmente estranha: metade do esqueleto de um peixe adulto que nunca se desenvolveu, mantendo-o em estado larval. É como se seu desenvolvimento tivesse sido incompleto, um desvio evolutivo que suspende o corpo no tempo. Assim, o peixe-Drácula vive eternamente jovem, incompleto e estranho, carregando presas afiadas.

Formiga-Drácula (Mystrium camillae)

Imagine uma mordida disparada a 320 km/h, cinco mil vezes mais rápida que um piscar de olhos humano. Essa é a arma da formiga-drácula (Mystrium camillae), do Sudeste Asiático e da Oceania. Suas mandíbulas funcionam como mola, trinco e alavanca combinados, produzindo o movimento mais rápido já registrado no reino animal. Pequenos artrópodes são atordoados, esmagados e levados ao ninho como alimento das larvas. Essas formigas mostram que o vampirismo não se restringe ao sangue, mas também à velocidade letal que devora a vida em frações de segundo.

Aracnídeos das cavernas do gênero Draculoides

No noroeste árido da Austrália, longe da luz, rastejam os Draculoides, aracnídeos que habitam exclusivamente as cavernas. Caminham sobre seis patas, usando duas como antenas sensoriais, e seus pedipalpos (segundo par de apêndices articulados localizados próximos à boca) lembram presas de vampiros. Com eles, capturam pequenos invertebrados, despedaçando-os e sugando seus fluidos vitais. Entre as espécies mais conhecidas estão: D. bramstokeri, D. carmillae, D. belalugosii, D. nosferatu, D. immortalis. Esses aracnídeos perpetuam na biologia o legado do conde e prosperam no escuro das cavernas se alimentando do que resta da vida.

Da orquídea das montanhas ao peixe eternamente jovem, do papagaio rubro ao morcego extinto, da formiga super-rápida ao aracnídeo das cavernas, todos esses são Dráculas da natureza, pois o conde nunca morreu, seu nome apenas se multiplicou em flores, aves, insetos e fósseis, espalhando sua sombra pelo mundo real, provando que a literatura e a ciência compartilham o objetivo de compreender a experiência humana e podem inspirar-se mutuamente para gerar novas ideias e descobertas.

Referências:

COSTA, Maria Clara Nascimento; COSTA, Henrique Caldeira. Drácula pré-histórico. [S. l.]: Ciência Hoje das Crianças, 10 jan. 2020. Disponível em: https://chc.org.br/artigo/dracula-pre-historico/. Acesso em: 27 set. 2025.

HSU, Jeremy. New 'Dracula Fish' Has Fake Fangs. [S. l.]: Live Science, 9 abr. 2009. Disponível em: https://www.livescience.com/3471-dracula-fish-fake-fangs.html. Acesso em: 27 set. 2025.

HUME, Greg. Papagaio-Drácula: conheça essa ave de aparência soturna que remete ao famoso vampiro. [S. l.]: National Geographic Brasil, 28 out. 2024. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2024/10/papagaio-dracula-conheca-essa-ave-de-aparencia-soturna-que-remete-ao-famoso-vampiro. Acesso em: 27 set. 2025.

PERRELLA, Flora. Researchers count 13 new species of fanged arachnids in the Pilbara. [S. l.]: Western Australian Museum, 28 out. 2020. Disponível em: https://visit.museum.wa.gov.au/learn/news-stories/researchers-count-13-new-species-fanged-arachnids-pilbara. Acesso em: 27 set. 2025.

ROYAL BOTANIC GARDENS. Board of Trustees of the Royal Botanic Gardens. Orchidaceae Dracula. [S. l.]: Royal Botanic Gardens, . ?. Disponível em: https://powo.science.kew.org/taxon/urn:lsid:ipni.org:names:30001158-2#other-data. Acesso em: 27 set. 2025.

VEIGA, Edison. A incrível formiga drácula, que tem as mandíbulas mais potentes do mundo animal. [S. l.]: BBC News Brasil, 12 dez. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-46531170. Acesso em: 27 set. 2025.


Escrito por:
Valesca Afrodite

Valesca nasceu no Rio de Janeiro (RJ), formada em Ciências Biológicas, encontra-se no último período. Tem paixão por ciências, subcultura gótica, livros, seres sobrenaturais, ficção científica, cemitérios, igrejas e morcegos, ela também é voluntária em um projeto de divulgação científica chamado "Morcegos na Praça". Escrevia com frequência, mas afastou-se da prática ao... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa

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