Exício que me assombra de seu castelo pontiagudo, tem a noite como o encanto vislumbrando-me a agonia. Encontramo-nos no agouro de um súbito e sôfrego impulso, quando sob a nova era humana de vínculo à energia de Archsoa, éramos norteados por horrores mentais cujo alívio aparentava estar, tão somente, no fim eterno. Lá nos encontramos. Exício assemelhava-se a um semi-deus, com força e poder, no entanto, soube pelos jazidos de seu reino, que a aparência de Exício é uma ilusão. Não sei se posso acreditar, contudo, crer ou não é inútil agora.

Afogada no rio, fui resgatada por Exício. Sua presença foi tão marcante, que meu pranto verteu como o de uma criança recém-nascida. Mas ele estava incólume. Não proferia um único verbo, guiava-me na escuridão; todavia eu o podia ouvir narrar em meu âmago a verdade sobre o tempo. Que o tempo é uma pequena fração da existência em sua infinitude. Assim como a vida terrestre, é como um sonho e nada mais. Além disso, Exício entregou-me uma pedra, a pedra da morte. A minha era azul-escuro, reluzia uma aura negra, representava a forma com que tirei a minha vida, afogando-me no oceano.

Pouco antes de adentrarmos ao seu reino, sob tormento, alívio e tristura abismal, notei Exício estático. Parei logo atrás. Andávamos por uma longa estrada de trevas álgidas, assim como eram os olhos de Exício que, logo após a parada, olharam-me a alma. Finalmente pude ouvir sua voz impactante e grave, apenas inenarrável em sua grandiosidade. “Ainda que o Espírito da Morte vague pela Terra, mesmo aprisionado pela estupidez humana, forçar o nosso encontro é o pior dos erros” — ele disse, austero, no meu idioma nativo, mas com palavras que nunca ouvi. Senti-me culpada pelo que fiz, a culpa exalava de seu proferir e encontrava em meu peito um vazio a qual habitar.

“A vida, ainda que os homens a tenham deturbado, é a dádiva qual nasceu para ser; por esta razão tu ficarás em meu reino até que eu considere que tu estás pronta para viver outra vez.” — decidiu. À princípio, não compreendi o significado de tal sentença, mas agora eu sei; Exício que me assombra de seu castelo pontiagudo, tem a noite como o encanto vislumbrando-me a agonia, a cada novo despertar, ao lado de almas atormentadas, Espíritos de Morte e outras criaturas que residem neste inferno. O peso mental da dor insondável. Convivo com o mais verossímil horror, onde a sensação é de ter minhas mãos estão atadas e meus lábios costurados. Nada é mais cruel do que o reino de Exício, nem a vida cingida por torturas e desprazeres.

Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.

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