O sopro da noite frígida é sempre o mesmo. Reconheça que a noite advém às dezoito e morre às cinco da manhã. Nada súbito bate em nossas janelas durante este período. De fato, raramente somos vítimas de surpresas no decorrer da vida, no entanto, a certeza do amanhecer é, mesmo assim, um erro. Eu sempre pensei nisso. Hoje eu sei que, não se trata só de um erro, é ignorância. O que se revela a nós, logo mudará toda essa cegueira induzida pela estupidez humana. Não podemos mais nos ver como o centro do universo. Nós queríamos desvendar os mistérios mais obscuros e, conseguimos. Lidaremos com as consequências dessa descoberta? Eu duvido.

Eles possuíam tentáculos e olhos de cobra, centenas deles. Eram rubros como sangue humano, moviam-se como orangotangos, rastejavam se preciso e se assim desejassem; eles expeliam um vapor fétido dos poros de suas peles enrugadas. Alastrado pelos corpos estavam as fissuras e fendas negrume que se moviam como brânquias. Este tipo era mais animalesco e bizarro; no entanto, havia os mestres, os quais eram humanoides e, pelo que sei, eram até mesmo humanos sequestrados pelas criaturas e modificado sem suas constituições. Questiono-me, inclusive, se não se tratava de cruzamento. Exatamente. Raças mescladas, os alienígenas escarlates com os humanos. Presumo essa depravação, embora biologicamente seja impossível.

Entendam com o que lidaremos. Eles já vieram à terra, os relatos súbitos nos mais afastados povoados contam a mesma história. Eles buscavam lugares distantes, pois o intuito de suas mentes perversas era, justamente, essa macabra experiência que vincularia o DNA humano com o DNA deles. Eram abomináveis! No entanto, possuíam tecnologias únicas que não se assemelhavam em nada com a nossa. Duvido que o coito tenha se realizado por meios “naturais”, inclusive, porque tudo se baseava em experimentos e, destes, criaturas ainda mais horrendas emergiam.

Os alienígenas eram capazes de manipular a vida de tal modo que podiam criar seus Frankensteins sem muito esforço. Como sei de tanto? Sou Escritora Investigativa da N. E. E. A. e estive na tribo Antãquitã junto com meu superior, o qual é um Solene do Núcleo. A tribo foi a primeira vítima das criaturas, ficamos meses estudando a linguagem nativa para conduzir um bom diálogo com eles. Reconheciam os Aliens pelo nome de Uanáguêré — facilmente traduzido por “vaga-lumes de sangue”. Segundo o ancião, as criaturas “tinham olhos brilhantes de víbora” e pele “cor de morte” — isto é, vermelho vivo; além disso, “desciam dos céus nas noites sombrias com suas asas ramificadas exalando tormenta”. O relato do ancião de Antãquitã foi o primeiro relato dos seres malditos que está reconhecido como verdadeiro pela N. E. E. A. em suas análises minuciosas. Em tributo à tribo extinta, dedico este artigorum.

Encontramo-nos com A'akue, após colhero a narrativa do ancião. A’akue era um homem robusto e violento, não por suas atitudes, mas pelas promessas, isto é, ele fomentava uma aguda sede de vingança, suas filhas e esposa haviam sido levadas pelos Uanáguêré assim como todas as demais mulheres da tribo. O relato de A'akue ascendeu novas perspectivas para nós, pois, segundo ele, as criaturas eram “homens brancos do rosto preto com asas ramificadas” e alguns tinham “cabelos longos de urucum”. Isso nos indicava existir dois tipos, em suma, a besta infernal e os humanoides — talvez frutos da modificação genética, dado que Toriba, também integrante dos Antãquitã, afirma ter recebido a visita Aiyara, uma das mulheres da tribo, contudo, ela estava “com um demônio feito de asas ramificadas aflorando de suas costas e braços enquanto seus olhos dependurados reluziam vívidos”. Toriba nos informou que Aiyara o reconheceu, chamou-o para se unir “ao poder eterno dos deuses de Hhuaer”. Entramos no consenso de que eles eram os Hhuaer — tais signos foram os mais adequados para designar a pronúncia de Toriba.

Deixamos a tribo no mesmo dia, com o intuito de analisar certas evidências biológicas colhidas no arvoredo circundante à tribo; infelizmente, a tribo havia desaparecido quando retornamos três dias depois, com exceção de Toiba e o ancião, o quais estavam presos a estacas afiadas, mortos bruscamente, com seus órgãos expostos no centro de onde ficamos instalados com nossos equipamentos. Era, sem dúvida, um aviso. Eles sabiam do nosso intuito, eles perceberam nossos esforços para descobrir suas fraquezas enquanto estavam usando nossas mulheres indígenas como ratos de laboratório. Cinco anos após este traumático evento; novos relatos de avistamentos e desaparecimentos bizarros começaram a chegar até nosso Núcleo. E agora mais do que nunca. Eles estão à espreita e as suas aberrações geneticamente modificadas estão mais poderosas.

Sara Melissa de Azevedo

Diga-me, apreciaste esta obra? Conta-me nos comentários abaixo ou escreva-me, será fascinante poder saber mais detalhes da tua apreciação. Eu criei esta obra com profundo e inestimável amor, portanto, obrigada por valorizá-la com tua leitura atenta e inestimável. Meu nome é Sara Melissa de Azevedo. Sou Escritora, Poetisa e Sonurista. Formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial. Sou a Anfitriã dos projetos literários Castelo Drácula e Lasciven. Autora dos livros “Sete Abismos” e “Sonetos Múrmuros”. SAIBA MAIS

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