Cartas de sangue — "In The Air Tonight II"
Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula
Escrevo-te tal epístola sanguínea com esta pena que se banha no meu próprio tormento.
Cada sílaba que deixo aqui é um fio de minha vida, e, no entanto, não cesso, porque és tu, sombra de safira, quem devora o que me resta.
Sei que não me lerás ou talvez apenas em sonho, entre véus de lua, mas minha desgraça é a certeza de que, mesmo sem tua presença, continuo a escrever-te, minha amada bruxa. Sou mais obcecado por ti do que pelo sangue das estrelas que me consomem, a poesia que me envenena...
Não há mundo senão este abismo: eu sangrando em silêncio, tu ardendo em feitiço, nenhuma ponte entre nós.
A bruxa recebe tal epístola de um corvo espectral.
Ela conjura um feitiço inscrito em véus de névoa.
Somos almas antigas e artistas do sangue, artesãos do acaso e corações.
Eu sinto teu sangue em minha pele, mesmo nunca o tendo tocado.
Quando a tinta verte de teus dedos, meu coração arde como se fosse lâmpada votiva em templo interdito.
Quisera quebrar a muralha que nos aparta, mas meus encantos se desfazem no vento.
Sou condenada a olhar a distância — teus versos são minhas algemas.
Amo-te, mas esse amor não me liberta: me acorrenta mais fundo.
Ele ouve no peito seu sussurro da noite e lhe responde uivante.
Escrevo além do tempo em páginas que estão quase ilegíveis, corroídas pelo sangue coagulado...
Estou cansado, cara mia.
Não de ti — jamais de ti — mas deste corpo que não mais suporta a poesia sem tua pele, tua carne em êxtase e magia e entrega...
Minhas noites são alucinadas, enlouquecido.
Cada verso é lâmina, cada metáfora, estaca.
Mas se morrer, ao menos morrerei no ato de pronunciar-te.
Talvez tu me invoques em tua noite,
talvez teu feitiço me preserve na memória dos séculos.
Talvez sejamos apenas ausência,
talvez sejamos mito, talvez apenas uma dor que se reconta.
Se houver eternidade, eu te buscarei outra vez.
Não me perdoe, apenas me recorde.
Entoado em língua esquecida, dissolvido no vento...
Vós que escreveste tua vida em meu nome, eu te carrego em minha noite como ferida sagrada.
Poeta,
Nunca nos vimos, e ainda assim tu és meu.
Não no corpo, esse já tombou na maldição que deixaste em minha alma.
Que os séculos nos neguem, que os deuses nos zombem,
nada importa, somos eternos porque nunca fomos. Este é o verdadeiro martírio do amor: nossas cartas e feitiços não se encontram.
Pairam em dimensões diferentes, orbitando-se como astros que jamais colidem. Na distância, nasce uma eternidade de dois corpos que não se tocam, mas que ardem, incessantemente, no mesmo fogo que jamais consome.
Seu sangue se dissipa na noite, ele mergulha na fogueira dos lábios dela.
Marcos Mancini
Marcos Mancini é um escritor, artista e criador cujo trabalho transcende as fronteiras da literatura convencional, mergulhando nas profundezas da psique humana e explorando as complexidades da condição existencial. Sua obra reflete uma busca incessante por significado, através de uma escrita visceral que combina poesia, filosofia e uma rica variedade de estilos literários... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa
                        
            
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
Balão festivo, alegra o entardecer! | Refulge níveo e vai no sopro-vento; | Menina que o observa a perceber | Que o escuro vem estranho e nevoento…