Cântico da Luxúria Noturna
Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula
Ó noite sem mácula, mãe da luxúria e do pecado,
abre o teu ventre de trevas sobre meu corpo acorrentado,
pois não há cárcere que baste, não há corrente que contenha
o desejo que em mim nasce e em minha própria dor se banha.
Sou mais que presa: sou riso e sou gozo,
sou vício que arde em um gesto piedoso
da mão que me fere pensando em punir-me,
mas encontra na carne apenas o convite de possuir-me.
Ó caçador, frágil em tua ânsia de domínio,
não percebes que és servo de meu desatino?
Quanto mais tu me prendes, mais livre me torno,
e quanto mais me negas, mais em teu peito retorno.
Na vertigem do êxtase, os grilhões são coroas,
as feridas são flores, e as sombras, pessoas.
De meus lábios escorre um riso soturno,
que faz da agonia um cântico noturno.
Ah! O aço que corta não é espada, é um beijo,
e a mordaça que cala me entrega ao desejo,
cada nó da corda é um caminho secreto
para o altar oculto de um amor inquieto.
E tu, que acreditas deter a minha essência,
aprendes no rito da mais dura ciência
que o prazer é abismo e a dor é vertente,
e que em mim o suplício floresce contente.
Sou vampira, sou chama, sou veneno, sou delírio,
sou templo erguido sobre o meu próprio martírio,
sou carne que arde, sou uma sombra que brilha,
sou gozo que nasce de minha própria partilha.
E quando enfim tombares, rendido aos meus pés,
ouvirás ao fundo belos hinos, sons cruéis,
e em meio ao crepúsculo, rubro e profano,
serei tua amante, teu inferno e teu engano.
Assim é o êxtase: um precipício em chamas,
um véu que devora, um abismo que inflama,
na noite absoluta, sou riso sacrílego e dor,
sou litania profana, sou luxúria e sou terror.
Cláudio Borba
Residente de Dom Pedrito/RS, Cláudio Borba formou-se em Contabilidade e escreve contos de terror e poemas geralmente melancólicos. Ele faz parte de diversas antologias de contos e poéticas de diversas editoras. E atualmente trabalha para lançar seus livros de contos e poemas. Cláudio se inspira em Stephen King e Clive Barker em seus contos, e é um grande fã de Bukowski. A escrita do autor é direta, rápida e de fácil leitura... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa
                        
            
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
Balão festivo, alegra o entardecer! | Refulge níveo e vai no sopro-vento; | Menina que o observa a perceber | Que o escuro vem estranho e nevoento…