Ékstasis
Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula
Transcenda, desloca-te...
Para um estado de intensa alegria, prazer, admiração ou arrebatamento, no qual a pessoa se sente transportada para fora de si mesma, do mundo sensível e da rotina diária, seja por exaltação mística, seja por sentimentos intensos.
Histanai, Histanai, Histanai.
Eu sinto o vento gélido batendo nas janelas da minha alma.
Eu sinto o frio da maresia molhando as fechaduras do meu espírito.
O verbo da areia, a noite chega, e com ela suas línguas de estrelas em que cravejo no seio da feitiçaria o sopro do mar em combustão pela alquimia inexplicável deste êxtase vulcânico, sou uma lâmpada na orelha que falta em Van Gogh, sou uma mariposa sendo incinerada em um quadro de Dali que derrete em sua paixão violenta e louca, e rugi para a madrugada até me tornar um animal despedaçado pelas próprias unhas, de tanto arranhar-me a face e masturbar-me pela poesia de sangue que consagra este voluptuoso obcecado desejo de cópula frenética à matinal sucção do clitóris da pintura que emana a chama na noite, e torno-me a chama na noite e o olho triste da máscara rachada no para-brisa que bate violento enquanto a neve cai e se cocriam amor dentro daquele carro cósmico.
E não culpo minha fraqueza, sem poder dar palavras à minha sombra que se incinera em dezenas de páginas de papel que sobrevoam a minha mente em combustão por teu desejo, por desejar-te minha, misteriosa musa, chama gêmea de meu ser em entropia, que fico doente nesse sino que emana ecos de tesão, gritos de trovão, quero lamber-te a carne magística, oráculo da natureza viva, lábaro da minha consciência melada, e domá-la em minha cama de pregos e rosas, e fazê-la impura e pura, liberta e enclausurada, viva, alucinada, minha escrava sexual, e enlouquecer-te, despetrificando esta física em faíscas e brasas, em um rugido na animalesca vontade de rasgar-te, e em teu véu me acidifico, em tua fissura, ao vosso pompoarismo me comprimir e me engasgar, de tanto me saciar em teu fluído que a preciosa vulva escorre, pois minha penetração poética é um invólucro da ideia e da ação, um terror doloroso e saboroso.
Jamais senti algo tão excitante que entorpecesse todos os meus sentidos, diariamente, constantemente, despertaste meu demônio sexual e devo conceder a ele todos os desejos e vontades e ordens pois as correntes do desejo estão em seus pulsos, minhas telepáticas mãos pressionam seu pescoço enquanto enxergo a luxúria em seus olhos de safira.
Uma sádica redenção seria o máximo de meu êxtase, quero sentir em meu tímpano abismático a sinfonia de seus gemidos eclodindo em meu mastro endurecido como carvalho, lhe entrego a torrencial da via láctea quero que se lambuze com o que eu ordenar e seu corpo entregue e nua de alma-mente, conectada, acoplada ao meu órgão sexual giraremos pela loucura desenfreada de meus desejos em conexão com todos os espirais cósmicos de nossa alma é capaz de atingir, o supra-sumo dos chakras, a kundalini acasalando com Ouroboros, a verticalização de nosso animus e anima em uma vertigem de fusão, como uma radiação nuclear, uma supernova de poesia e magia, ao sagrado masculino e ao sagrado feminino, fractais sexuais do verdadeiro poder.
É assim que me sinto, na pele, no osso, no meu átimo, quando lhe imagino nua, quando lhe imagino o gosto de teu beijo, quando lhe lambo por inteira em meus sonhos quando enxergo seu sutiã caído ao chão, quando retiras tua calcinha delicadamente com esses pés de rainha das trevas e então meu lupino íncubo incorpora e o amor fático encontra sua súcubo gulosa em meu membro fálico.
Somos o choque do caos e a loucura,
o sangue e o êxtase, o arrepio e o verbo.
Um trovão ecoa dentro do peito — não o céu, mas o coração em combustão.
Sou a carne que se rasga para deixar sair a chuva.
Não escrevo versos, sou dissolvido neles,
sou a tinta que não dorme, o rio que desagua no mar de teus olhos feiticeira de íris azuis, abismo salgado, onde o meu naufrágio se converte em êxtase.
Meu coração frenético pulsa, minha razão ri em silêncio no meu ombro: a metamorfose já começou, meu corpo se converte em páginas — voam, sangram, rasgam o vento —
cada folha um gemido, cada palavra um osso, bruxa, recolhes minhas sílabas como quem colhe cicatrizes.
Sou livro desmembrado, arremessado à noite, fazendo amor com a névoa como quem deseja a penetração selvagem do invisível e minha sanidade sussurra: a fome é o gozo mais puro,
e eu, dilacerado, aceito, suplico, que tua boca seja a guilhotina do meu pecado, que teu sangue escorra na minha língua como evangelho herético.
Erguei o digno martelo, e em minha fronte despedaça os ídolos:
sou além-homem perdido, mas em teus lábios encontro a vontade de potência transformada em saliva, em carne que lateja, em espírito que arde.
A voz de meu desejo uiva em meu ventre:
"sangue! carne! olhos! êxtase!"
Eu grito contigo, grito contra Deus, contra o nada, contra mim mesmo, até que o grito se converta em silêncio, um silêncio tão vasto que apenas Van Gogh poderia pintar, um silêncio de girassóis rasgados pela navalha da lua.
Dali derrete minha face na ampulheta da paixão, sou tempo líquido, escorrendo pelo teu corpo, formando lagos onde teu reflexo dança, ali me perco, me encontro, me desfaço, me torno.
Quero ser o instante em que teu olhar fere a madrugada com a lâmina azul da loucura,
quero ser o arrepio que transpassa tua coluna, o arrebatamento visceral que rasga a pele e chega à medula, até que não haja distinção entre o que é teu e o que é meu.
Vida-labirinto, caminho nu pelas paredes de fogo, queimando-me em cada curva, em cada espelho, sabendo que o chão não existe — apenas o céu me sustenta, o céu és tu, feiticeira, céu de tempestade, ventre de relâmpagos, tua risada é raio, tua lágrima é maré.
Não busco redenção.
Quero a perdição absoluta, a fusão da carne e do espírito,
quero beber teu riso como vinho negro, quero me abrir em tuas mãos como um corte,
quero ser devorado pelo teu feitiço até que reste apenas cinza e orgasmo,
palavra e silêncio, poeta e sombra,
eu e tu — ou melhor, o nada — porque no nada, amor, somos infinitos.
Marcos Mancini
Marcos Mancini é um escritor, artista e criador cujo trabalho transcende as fronteiras da literatura convencional, mergulhando nas profundezas da psique humana e explorando as complexidades da condição existencial. Sua obra reflete uma busca incessante por significado, através de uma escrita visceral que combina poesia, filosofia e uma rica variedade de estilos literários... » leia mais
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa
                        
            
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
  
  
    
    
    
Balão festivo, alegra o entardecer! | Refulge níveo e vai no sopro-vento; | Menina que o observa a perceber | Que o escuro vem estranho e nevoento…