Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Na calada da noite, Arale Fa’yax se viu diante de um pergaminho envelhecido, encontrado casualmente próximo à cenoura do jardim do Castelo Dracula. O pergaminho, em suas mãos delicadas, parecia pulsar com uma energia antiga, como se carregasse o peso de mil segredos esquecidos. Ela o desenrolou e leu, recitando as palavras enigmáticas que dançavam entre as linhas. 

"Fluideco sangvinen en Esperanto..." 

Aquelas palavras antigas e sombrias reverberaram em sua mente, atravessando o véu entre mundos. O chão abaixo de seus pés cedeu, e ela caiu em um abismo profundo, onde os ecos de sua própria respiração eram a única companhia. Quando finalmente abriu os olhos, não estava mais no jardim, mas em uma terra estranha e perturbadora. 

Diante de Arale, uma vila festiva celebrava a Páscoa, com danças e risos. Mas havia algo errado — as máscaras, o brilho nascendo da dor, os olhares vazios. Tudo era uma fachada. Ela não entendia ainda, mas sabia que estava diante de algo terrível. A sensação de pesadelo era palpável entre as sombras. 

Surgiu um ser: Laparus, o coelho amaldiçoado, com seus olhos de ébano refletindo a escuridão do próprio universo. Ele a encarava — a foice em suas patas trêmulas, pronta para a batalha. 

A luta foi brutal, sangrenta. Laparus avançou com fúria, os golpes de sua foice cortando o ar com um som metálico. Arale, com reflexos rápidos, desviava, esquivando-se das lâminas afiadas que quase a rasgavam. Cada golpe de Laparus era uma explosão de fúria primal, enquanto Arale, com seus movimentos ágeis e mortais, procurava um ponto fraco, defendendo-se com seu machado. O solo estava coberto de sangue, a atmosfera saturada com o cheiro da morte. 

— Você não me conhece! — gritou Laparus, sua voz um eco de sofrimento. 

— Não pode me entender! 

Mas Arale não recuou. Ela sabia que aquela luta não era apenas sobre vencer, mas sobre quebrar as correntes que prendiam os dois. O combate se tornou uma dança de pura violência, um turbilhão de raios e sombras. Laparus, exausto e ferido, começou a vacilar. Sua foice, antes certeira, perdeu o ritmo. 

Foi quando a verdade se revelou: o espólio de suas almas entrelaçadas, como destinos torturados, tornou-se claro — não eram inimigos, mas vítimas de um mesmo ciclo de sofrimento, maldição e dor. 

Elyni, a guardiã dos láparos, apareceu nas sombras. De semblante sério, porém gentil, olhou para Arale e Laparus com um misto de tristeza e entendimento. 

Ela estendeu a mão, e os dois, exaustos e sujos de sangue, a olharam sem palavras. 

— A verdadeira luta não é entre vocês — disse Elyni, sua voz suave como o vento. 
— É contra o mal que corrompe este lugar. O Ovo Cósmico, aquele que vocês estão lutando para encontrar, é a chave. A criatura que o protege, Azgalor, devorador de almas, não será vencida em batalha, mas com união e compreensão. 

Arale e Laparus trocaram olhares de dúvida, mas algo os uniu — algo que foi além do instinto de luta. Avançaram em direção à caverna de ametista, onde a criatura diabólica os aguardava. Ali, um abismo se abria diante deles — tão profundo que a escuridão parecia devorar até a luz das estrelas. 

Dentro da caverna de ametista, Azgalor os aguardava. Sua forma monstruosa era retorcida, uma amalgama de sombras, ossos e olhos vermelhos como brasas, que brilhavam com um ódio imensurável. A batalha foi feroz, a terra tremendo sob seus pés enquanto Azgalor os atacava com garras afiadas como lâminas de aço. 

Mas Arale, Elyni e Laparus — unidos por um vínculo de destino — enfrentaram o monstro com força renovada. Cada golpe, cada movimento, era um passo em direção à liberdade. Eles perceberam que, ao trabalharem juntos, suas habilidades e forças se complementavam de maneira perfeita: Laparus com sua foice, Arale com seus rápidos reflexos, e Elyni com suas garras e sabedoria ancestral. 

Finalmente, após uma luta sangrenta e desesperada, o Devorador de Almas foi derrotado. Azgalor caiu, seu corpo se desfazendo em poeira negra — e, com ele, a maldição que aprisionava a vila. A realidade desmanchou todas as correntes daquela sofrida vila desértica. 

Elyni, Arale e Laparus, exaustos mas vitoriosos, se abraçaram, compartilhando um momento de silêncio profundo. A realidade ao seu redor começou a mudar — as máscaras caíam, e a vila era iluminada pela verdadeira luz do renascimento. 

Quando a batalha acabou, Arale, com uma expressão de paz no rosto, olhou para o céu. 

Após a batalha, quando o último vestígio da escuridão foi dissipado, uma luz suave e radiante envolveu os três heróis — Arale, Elyni e Laparus. O céu, antes opaco e sombrio, se abriu em tons dourados, e uma figura imponente apareceu diante deles, flutuando acima da terra agora purificada. Era Ostara, a Deusa da Primavera, da Fertilidade, do Renascimento e do Amor. 

Ela surgiu como um raio de luz divina, com cabelos dourados que pareciam capturar os primeiros raios de sol da estação que nascia. Ostara, com seu manto verde e florido, simbolizava a renovação da vida, a abundância da terra e a promessa de que, após a morte e o sofrimento, sempre viria o florescer. 

Seus olhos, azuis como o céu de um amanhecer primaveril, se fixaram nos três heróis que, embora exaustos, ainda estavam imersos no poder da vitória. 

Ostara levantou suas mãos, e do solo brotaram flores, árvores frutíferas e riachos frescos, como uma bênção direta para o povo da vila. O aroma doce das flores invadiu o ar, misturando-se à brisa suave que espalhava a promessa de uma nova era. 

— Vocês, que lutaram contra a escuridão e a tirania, agora têm a minha bênção — disse Ostara, com voz suave e cheia de poder. — Eu sou a Deusa que celebra o equinócio da primavera, o equilíbrio entre luz e sombra, e a ascensão da vida. Através de vocês, a liberdade foi trazida àqueles que sofriam. Agora, meus filhos, tomem o meu presente. 

Em suas mãos, Ostara segurava um ovo brilhante, ornamentado com símbolos de fertilidade e ressurreição. O ovo foi oferecido a Arale, que o recebeu com reverência. Ela sabia que aquele ovo era mais do que um simples símbolo — ele carregava o poder da deusa, capaz de regenerar e restaurar a vida para aqueles que mais precisavam. 

— Este ovo — continuou Ostara — é a chave para a fertilização das terras e dos corações daqueles que estavam sob a tirania. Ele trará uma nova era de prosperidade, liberdade e abundância para o povo desta vila. Que a primavera floresça onde antes havia fome e escuridão! 

A vila, antes desolada e oprimida pela fome e pela escravidão, começou a mudar diante dos olhos dos heróis. Os campos de terra árida começaram a florescer, os rios que haviam secado voltaram a se encher, e os habitantes da vila, libertos do jugo da opressão, se reuniram em festa, celebrando o milagre que acontecia diante deles. Rios de alegria e gratidão se derramaram por toda a vila, enquanto danças e cânticos se espalhavam pelos campos agora verdes. Havia, sobre um tronco ao lado da deusa, uma coroa de espinhos sobre o altar. 

Ostara, com um sorriso terno e acolhedor, tocou as cabeças de Arale, Elyni e Laparus, e uma luz cálida os envolveu. 

— Que sua jornada continue com coragem e sabedoria, e que a primavera sempre os acompanhe. 

E, como se a própria terra tivesse absorvido a bênção da Deusa, Arale, Elyni e Laparus sentiram uma renovada energia interior. Eles sabiam que não estavam mais sozinhos. A Deusa Ostara os havia marcado com sua bênção, guiando-os para novos desafios, para novas lutas — mas sempre com a certeza de que, após a escuridão, a luz sempre retorna. 

Assim, com o ovo em mãos, Arale retornou ao jardim do Castelo Dracula, sabendo que o verdadeiro renascimento não era apenas sobre florescer na primavera, mas sobre transformar a terra onde pisamos e as almas que tocamos. 

Ela observava o ovo, ainda quente com o poder da Deusa, refletindo sobre a luta, a amizade e a força do renascimento. Era a promessa de que, como Ostara, a vida sempre encontraria um caminho para florescer, mesmo nos lugares mais sombrios. 

Ela sabia que a luta contra as sombras nunca terminaria, mas, naquele momento, no silêncio da noite, ela tinha vencido. Tinha encontrado a força — não em sua luta sozinha, mas na amizade, na confiança e na união. 

E o ovo de chocolate que ela segurava, doce e perfeito, era a promessa de que, apesar da dor, sempre haveria renascimento. 

Lembrando que, no epicentro da festividade onde antes havia trevas, agora surgia uma aura de esperança: uma chama azul e violeta brilhava, e ela tinha em mãos um ovo de chocolate — o símbolo do ciclo de vida e renascimento. O vilarejo estava a salvo, e a realidade restaurada. 

Mas o caminho de Arale ainda não estava concluído. Ela retornou ao jardim do Castelo Dracula, o pergaminho em suas mãos, o ovo de chocolate como prova de sua jornada. Seu coração batia com a mesma energia da vida que fluía através de suas veias — pronta para o que viria a seguir, selando mais um pergaminho em sua máquina de escrever de ossos. 

Codex Sangria
Arale Fa’yax, de uma realidade cibernética, atravessa o tempo e encontra-se no Castelo Drácula. Em sua busca por vingança e por pergaminhos esquecidos, ela se depara com horrores proféticos através de sua máquina de escrever feita de ossos. Arale registra cada descoberta e cada revelação que a aproxima de sua verdade. Em meio a memórias fragmentadas e mistérios mórbidos, ela enfrenta confrontos épicos, determinada a vingar-se e a libertar-se, embora, talvez, sua condenação seja a única certeza. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Marcos Mancini

Marcos Mancini é um escritor, artista e criador cujo trabalho transcende as fronteiras da literatura convencional, mergulhando nas profundezas da psique humana e explorando as complexidades da condição existencial. Sua obra reflete uma busca incessante por significado, através de uma escrita visceral que combina poesia, filosofia e uma rica variedade de estilos literários... » leia mais
15ª Edição: Aesttera - Revista Castelo Drácula
Esta obra foi publicada e registrada na 15ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de abril de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa.

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