Atenção! Esta obra pode conter cenas sexuais explícitas e linguagem sexual.

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

I – O Silêncio

O silêncio é um corpo que respira no escuro,
pele de sombra colada à alma da noite.
Ele pulsa como ferida não dita,
como promessa trancada em lábios de ferro.

Há nele o peso de cem catedrais desertas,
onde cada eco é oração abortada.
O desejo se deita nele, invisível,
como fera à espreita no ventre da escuridão.

Nenhuma palavra se atreve a nascer,
mas os olhos gritam em febre clandestina.
Entre duas bocas suspensas,
o ar é um véu que treme, mas não se rompe.

O silêncio é punhal e é véu,
é cruz e é carne.
Não consola, não acolhe,
apenas incendeia o que tenta ocultar.

A respiração é oração contida,
rosário de gemidos que se negam a existir.
Mas o corpo, traidor da alma,
curva-se ao chamado de sua própria vertigem.

Quem toca o silêncio abre portais,
como quem pisa em solo sagrado profanado.
A quietude é apenas disfarce,
máscara da fúria que quer ser revelada.

O instante é prelúdio,
e o prelúdio já é queda.
Não há inocência no mutismo:
há apenas desejo coagulado.

Quando o silêncio enfim se rompe,
não há volta.
O grito é nascimento e sentença,
e quem o pronuncia já não se pertence.


II – O Sangue

O sangue é a língua do êxtase.
Ele escorre como vinho sacrílego,
rubro sagrado que consagra o instante
em que dor e prazer se entrelaçam.

Cada gota é pacto selado,
palavra gravada em carne viva.
É comunhão obscura
onde dois se tornam um abismo único.

A mordida é rito e coroação,
incisiva coroa feita de dentes e vertigem.
Ela não fere: ela liberta,
abre a porta para o gozo sem nome.

O rubro é banquete dos amantes da noite,
melodia de artérias em festa secreta.
Não há saciedade, apenas mais sede,
e cada sorvo é eternidade roubada.

Vampiros sabem: o sangue é oráculo.
Ele canta segredos nas veias,
ele revela a nudez da alma
no instante em que se mistura ao desejo.

Não há corpo sem ferida.
Não há prazer sem cicatriz.
A dor é oferenda,
e o êxtase, sua colheita.

Quando o rubro desce pela língua,
é mais que carne é universo.
O beijo sangrento é sacramento,
e a eternidade se escreve em veias abertas.

O sangue não mente.
Ele é a assinatura do prazer.
Quem o prova jamais retorna,
pois já pertence ao abismo.


III – A Luxúria

O corpo é templo profanado.
Cada curva, altar; cada sombra, labirinto.
A luxúria dança em sua nave,
chama que devora, mas não se extingue.

O prazer nasce na ruína.
Gemidos quebram muros internos,
suor é chuva que batiza o pecado,
e a carne se faz escritura viva.

O desejo não pede, exige.
Ele ordena como tirano amado,
e o súdito, em delírio,
oferece a própria ruína como trono.

Cada toque é incêndio.
Cada suspiro, queda.
Não há ternura:
há apenas a fome dos que sabem da morte.

O gozo não consola,
ele fere, ele abre, ele consome.
Mas a ferida é cântico,
e o cântico é mais doce que salvação.

A luxúria é caminho sem volta.
Um labirinto sem saída,
onde quem entra nunca retorna
pois aprende a amar a própria perdição.

O corpo não é cárcere:
é catedral em ruínas
onde anjos caídos ainda rezam
em idioma de gemidos.

Luxúria é divindade noturna.
Não julga, não absolve.
Apenas recebe como altar insaciável
todas as oferendas da carne ardente.


IV – A Transcendência

Após o gozo, não há descanso.
Há queda mais funda.
Há voo invertido
de quem toca o inferno para ver o divino.

O êxtase é um dos Deuses sem rosto,
que exige adoração em lágrimas.
Não é amor, não é pecado:
é a fusão febril dos dois.

O coração, crucificado,
pulsa como altar em chamas.
Cada batida é prece e maldição,
cada suspiro, ascensão pelo abismo.

Não há céu depois da vertigem,
apenas outro mergulho.
O prazer é espiral infinita,
onde cada fim já anuncia novo começo.
Quem goza morre.
Quem morre renasce no desejo.
Esta é a lei secreta:
morrer sempre mais para viver sempre mais.

A transcendência não é luz.
É treva que acolhe como mãe,
é sombra que alimenta,
é eternidade que se confunde com delírio.

O corpo exausto despenca,
mas a alma desperta em febre.
Descobre que o abismo é também escada,
que a vertigem é também voo.

O êxtase não se esgota.
Ele recomeça em cada olhar,
em cada silêncio, em cada gota de sangue.
O eterno é isto: morrer e renascer no desejo em silêncio.


Escrito por:
Marcolongo Ricardo

Ricardo Marcolongo Melo (MARCOLONGO Ricardo) nasceu em Suzano, São Paulo, e desde cedo aprendeu a olhar o mundo pelas frestas. Formado em Sociologia, Antropologia e Ciência Política, e atualmente bacharelando em Direito, encontrou na escrita a forma de transformar silêncio em linguagem e inquietude em criação… » leia mais...
19ª Edição: Revista Castelo Drácula®
Esta obra foi publicada e registrada na 19ª Edição da Revista Castelo Drácula®, datada de outubro de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula®. Todos os direitos reservados ©. » Visite a Edição completa

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