Sussurros da Meia-Noite & Profecia do Ovo Cósmico

Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Nas sombras da meia-noite ecoa o véu,
Sussurros antigos de um segredo perdido,
O ovo cósmico, de poder contido,
Revela o destino que à morte é fiel.

Nas danças febris, o tempo se desfaz,
O sangue flui, misturado à agonia,
Em cada passo, a dor é melodia,
No ciclo eterno que a vida refaz.

Sob as estrelas, a profecia se tece,
Em línguas antigas, um eco a brilhar,
Os láparos dançam e a terra padece.

O ovo aguarda o momento de se abrir,
A escuridão, seu ventre a dilatar,
No destino final, a morte vai existir.

Sob o véu do Outono, em festa sombria,
Danças e máscaras tecem o destino,
Homens e mulheres, num rito divino,
Clamam pela luz que o inverno desvia.

O vinho da Maçã Sangrenta, escarlate,
Inunda as taças com doce agonia,
Lábios se embriagam de tal melodia,
Enquanto a terra exala seu combate.

Crianças colhem flores de sorte incerta,
Ovaeren ocultas em campos de dor,
Promessa de vida, renovo e calor.

Mas o vento sussurra em porta entreaberta:
A renovação carrega um alto preço,
Pois toda colheita tem seu fim em apreço,
O ovo do pecado cósmico,
No âmago sombrio da antiga floresta,
Onde o vento sussurra um canto profano,
De um ovo escorre o sangue insano,
Derrama o destino que o mundo detesta.

No breu do líquido doce e ferrugem,
Uma máscara surge em madeira maldita,
Sussurrando promessas de dor infinita,
Selando o destino de quem dela se aproxime.

Laparus era seu nome, outrora homem,
Mas a maldição do ovo o fez bestial.
Em olhos negros, um abismo mortal,
E em suas patas, a foice que consome.
A Foice do Juízo Laranja,

Sussurro da máscara de suco da vida,
Na penumbra das catedrais esquecidas,
Onde os vitrais choram sombras e dor,
Laparus, com sua foice ceifador,
Caça os daemons, almas corrompidas.

A máscara sussurra em voz de trovão,
Promessas de poder e eterna vingança,
Mas cobra um preço: da alma, a esperança,
Tornando o coelho a própria escuridão.

Cada golpe que desfere em corpos profanos
Faz brotar chocolate e sangue impuro,
Doce ironia de um destino obscuro,
Redenção tingida de gritos insanos.

Nos ecos do templo, os padres apodrecem,
Enquanto os demônios na morte florescem.
O bispo das mil línguas,
Ao vilarejo perdido e profanado,
Onde a névoa é profana,

E os sinos ecoam em tons de lamento,
Surge um bispo horrendo, vil tormento,
Com mil línguas cuspindo praga insana. 

Seus coroinhas, mortos em servidão,
Arrastam-se em filas, esqueléticas sombras,
Cantando hinos que a carne desonra,
Uma liturgia de pura corrupção.

Laparus avança, foice em punho,
O chão retumba sob suas patas ligeiras,
A máscara o guia com promessas traiçoeiras,
Enquanto a noite revela o último punho.
Nas alturas, onde o céu toca o abismo,
Uma deusa vigia o destino das eras,
Zorya Polunochnaya, guardiã das esferas,
Tecendo segredos em véus de mutismo.

Laparus escala montanhas de sombras,
O vento cortando sua pele de ébano,
A máscara arde com brilho insano,
Enquanto a meia-noite as trevas assombra.

Zorya, em um manto de estrelas brilhantes,
Ergue a mão, o tempo parece estancar,
Seu olhar atravessa o coelho errante,
Do ovo brota a vida e a morte a pairar,
Pois teu fado, Laparus, é o fio constante,
Que tece e corta mundos a se revelar.

Elyni adentra a caverna do devorador
Na beira do abismo, onde o ar é mortal,
Elyni surge, de rosto impassível,
Seu semblante, embora sereno e sensível,
Revela segredos de dor ancestral.

 “Laparus,” murmura, sua voz como vento,
“Teu fado é sombrio, mas não estás só.
Conheço o pesar que te marca com nó,
Pois já vi tantos láparos ao tormento.”

Com mãos cuidadosas, ela o consola,
Seus dedos tocando a máscara fria,
E no coelho, um lampejo de agonia,
Enquanto descem à caverna que imola.
Azgalor os aguarda em seu covil profundo,
Um monstro que devora o fio do mundo.
Sob galhos vermelhos, em cinza envoltos,
Encapuzados dançam em rito profano,
Máscaras frias ocultam o arcano,
Com olhos de coelho, vorazes, revoltos.

O vento sussurra segredos do além,
Folhas cruas estalam no chão apodrecido,
E cânticos fluem em tom proibido,
Como se os mortos clamassem também.

O néctar sangrento nas taças fumega,
Mistura de vida e dor que embriaga,
O aroma de ferro no ar se propaga,
E o vinho, ao descer, como fogo me cega.
Em torno das chamas, os passos em trilha,
Um presságio pulsando nas mãos que partilham.

Por entre danças, máscaras se erguem,
Sussurros brotam do chão revolvido,
Segredos no vinho, o cântico perdido,
Sombras que o olhar mais atento perseguem.

O néctar das flores encharca as bocas,
E os passos em círculos formam o selo,
No vento, palavras que roçam o pelo,
De Laparus e Elyni, em verdades ocas.

As velas vacilam; o chão se abre lento,
Um portal oculta-se sob os encapuzados,
Seu brilho vermelho, um eco sangrento.

Elyni percebe os láparos usados,
Sacrificados ao rito profético,
E grita ao coelho, num tom cético:

“Esse ciclo é mais antigo que teus erros;
A dança marca o retorno dos destroços,
Pois o Ovo Cósmico guardava terrores,
E as máscaras são os seus olhos atrozes!”

No véu da dança, o temor é desejo,
O vinho embriaga a alma supersticiosa,
Sob máscaras mórbidas, voz sinuosa,
Chama à comunhão num ritual ensejo.

Os passos, febris, ressoam no chão,
E as máscaras tornam-se faces reais,
Coelhos soturnos, dos mundos astrais,
Testemunhas de uma oculta criação.

O frio murmura promessas no vento,
O sacrifício, preço de fertilidade,
Sangue e canto fundem-se em dualidade.

O inverno se ergue em um vago lamento,
Mas Aesttera grita contra o destino,
Renovar na morte o ciclo divino.

Codex Sangria
Arale Fa’yax, de uma realidade cibernética, atravessa o tempo e encontra-se no Castelo Drácula. Em sua busca por vingança e por pergaminhos esquecidos, ela se depara com horrores proféticos através de sua máquina de escrever feita de ossos. Arale registra cada descoberta e cada revelação que a aproxima de sua verdade. Em meio a memórias fragmentadas e mistérios mórbidos, ela enfrenta confrontos épicos, determinada a vingar-se e a libertar-se, embora, talvez, sua condenação seja a única certeza. » Leia todos os capítulos.

Escrito por:
Marcos Mancini

Marcos Mancini é um escritor, artista e criador cujo trabalho transcende as fronteiras da literatura convencional, mergulhando nas profundezas da psique humana e explorando as complexidades da condição existencial. Sua obra reflete uma busca incessante por significado, através de uma escrita visceral que combina poesia, filosofia e uma rica variedade de estilos literários... » leia mais
15ª Edição: Aesttera - Revista Castelo Drácula
Esta obra foi publicada e registrada na 15ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de abril de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa.

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