Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

A pressão rompe o silêncio na madrugada 
Vibra o éter como música e ressoa 
Reverbera no acetato, ainda longe da alvorada  
Cadente, nos ouvidos desta pessoa  

Aos poucos me vem memoráveis momentos 
Que longe vai o meu pensar 
Reavive voraz a figura e me revira o intento 
Faltava a substância de alucinar  

Aquela do verde frasco deixado na prateleira 
Insiste, ainda que eu queira, 
No convite para expirar os vapores novamente 
Doces ilusões inspiradas na mente…  

Tão logo nas minhas mãos impregnaram seu cheiro, 
Contra a janela fumaça e nevoeiro, 
E o perfume se expande neste cômodo lugar 
Como se arrebentasse um vidro de perfume inteiro 
E subitamente se espalhasse pelo ar  

Descomedido, fui além do que posso aguentar 
Oito taças me arrisquei ingerir 
Insistindo por várias horas sobre a mesa do jantar 
Para no último gole então descobrir  

Materializava um corpo bem onde eu estava 
A forma feminina a dançar em minha fronte 
Mais derretido e sombrio eu ficava  
Como se um riacho desaguasse no aqueronte 
Sufocado eu pedia uma fonte de água 
Depois, eletrificado, perdi de vez o sentido 
Nesta hora era o tempo de ter me arrependido 
Restou apenas um misto de todos os sentimentos 
De todos os vapores, emplastros e unguentos 
A rolar na minha pele como um óleo qualquer.  
Algo então se rompeu em mim, algo que eu não saberia bem como explicar. Era uma lembrança talvez, ou talvez fosse um tipo de vontade (mais certo que era). Culpei o álcool e o exagero, mas a vida contigo foi um exagero em dobro, uma embriaguez de tantos anos que me assombravam naquele momento e se fixavam naquela forma perdida e naquele movimento.  

Era um ideal, enfim entendi 
Algo que estava em mim, mas não em você 
E deixei-me jogado naquela cadeira 
Sem me preocupar se havia um porquê 
Fiquei contemplando o corpo despido 
Por baixo da transparência daquele vestido 
Eu dançava com os olhos, da minha maneira   

Será que é sólida para que eu a abrace firmemente? 
Não lembro ocasião de ter visto um ser todo verde  
Mas sim com o rosto corado num tom de rosé 
Tem forma, tem corpo e tem face 
E todos eles pertencem a você. 

Texto publicado na 9ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de setembro de 2024. → Ler edição completa

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