Artemísia
A pressão rompe o silêncio na madrugada
Vibra o éter como música e ressoa
Reverbera no acetato, ainda longe da alvorada
Cadente, nos ouvidos desta pessoa
Aos poucos me vem memoráveis momentos
Que longe vai o meu pensar
Reavive voraz a figura e me revira o intento
Faltava a substância de alucinar
Aquela do verde frasco deixado na prateleira
Insiste, ainda que eu queira,
No convite para expirar os vapores novamente
Doces ilusões inspiradas na mente…
Tão logo nas minhas mãos impregnaram seu cheiro,
Contra a janela fumaça e nevoeiro,
E o perfume se expande neste cômodo lugar
Como se arrebentasse um vidro de perfume inteiro
E subitamente se espalhasse pelo ar
Descomedido, fui além do que posso aguentar
Oito taças me arrisquei ingerir
Insistindo por várias horas sobre a mesa do jantar
Para no último gole então descobrir
Materializava um corpo bem onde eu estava
A forma feminina a dançar em minha fronte
Mais derretido e sombrio eu ficava
Como se um riacho desaguasse no aqueronte
Sufocado eu pedia uma fonte de água
Depois, eletrificado, perdi de vez o sentido
Nesta hora era o tempo de ter me arrependido
Restou apenas um misto de todos os sentimentos
De todos os vapores, emplastros e unguentos
A rolar na minha pele como um óleo qualquer.
Algo então se rompeu em mim, algo que eu não saberia bem como explicar. Era uma lembrança talvez, ou talvez fosse um tipo de vontade (mais certo que era). Culpei o álcool e o exagero, mas a vida contigo foi um exagero em dobro, uma embriaguez de tantos anos que me assombravam naquele momento e se fixavam naquela forma perdida e naquele movimento.
Era um ideal, enfim entendi
Algo que estava em mim, mas não em você
E deixei-me jogado naquela cadeira
Sem me preocupar se havia um porquê
Fiquei contemplando o corpo despido
Por baixo da transparência daquele vestido
Eu dançava com os olhos, da minha maneira
Será que é sólida para que eu a abrace firmemente?
Não lembro ocasião de ter visto um ser todo verde
Mas sim com o rosto corado num tom de rosé
Tem forma, tem corpo e tem face
E todos eles pertencem a você.
Residente de São José do Rio Pardo, Henrique Siviero formou-se em Física e escreve sobre o que lhe desperta na vida, de experiências particulares às fantasias e tradições. Trabalha atualmente na revisão de seu Romance, possui contos e poemas publicados pela Amazon, dentre eles, estão os títulos "Cruiz Credo" e "Meia Dúzia de Poemas". Henrique se inspira nos clássicos, nos roaring twenties, em sua lista de preferidos estão os nomes de Fitzgeralt e Hemingway…
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