Mãe

José Uría y Uría (1861–1937) - Lope de Vega en el cementerio (1884)

Tu que colhes os ermos deste cemitério,
vem colher a víscera deste corpo,
louco e desvairado, carne do fracasso...
Tu que amamentas um feto menino,
derrama o teu leite num leito de flores,
vem, entrega-te ao arroio...
Tu que andas nesta noite,
vem visitar-me, estou a sete palmos,
ó ser excomungado pela lua...
Tu que choras nesta tumba,
deixa que o teu pranto invoque estes restos,
esses pútridos esquecidos pela vida...
Tu que a saudade é quem guia,
nunca me esqueças!
Busque-me algum dia...
Tu que os sonhos acompanham,
nunca te esqueças,
dos dias em que éramos um só...
Tu que levas esta carcaça depressiva,
vem dar-me o último beijo,
o abraço do adeus...
Tu que és musa de um desgraçado,
feio, morto e sepultado,
traz-me o teu colo, ó mãe querida.

Poesia publicada na 1ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2024. → Ler edição completa

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