Permaneça
Teu amor trouxera-me a escuridão; querido, o teu inferno cativou-me o peito cuja vida efêmera protege. Os sigilos do teu corpo enfermo, cicatrizaram-se aos meus cuidados enquanto, em pesadelos, tive teu toque no meu mais íntimo anseio. Ouvi tua gravíssima voz em desabafos perniciosos, olhei-te com temor e alento; ouvi-te, também, na lamúria e nos brados de mórbido pesar. Não hei de beijar os lábios do arrependimento, meu Dom. Amorttam é traiçoeira tal como Lilith, mas não eu; deita-te em meu torso, amado, descansa-te sentindo este perfume que me possui na natureza do que sou; deixe-me alimentá-lo ao teu deleite, pela fé, pelo amor. Tornaste-me uma apaixonada inominável! Aquela que adormece somente após o teu sono nuvial, plácido.
Tua noite verdejara-se aos meus olhos, tua alma permitira o vindouro florescer dos meus lírios brancos; agora, esqueci tudo por ti, para manter-te amado enquanto a vida perfura-me a carne com as agulhas da morte, lentamente. E assim, lembro d’água doce que me deras e da tua atenção quando lacrimei aos pés da noite verdinegra; mesmo o medo que me fizeras sentir no belvedere, amor, jamais duvidei da tua inócua essência — desvelava-me a tua íris, uma genuinidade inexorável… ó, sim… tua íris-noite… teu semblante, amante, de calvário; viste em mim, eu sei, a tua fuga e te levei comigo, mesmo presos na Mansão Negra, éramos lá uma pulcra luz nas frestas dos umbrais silenciosos, éramos um segredo e aprendi amar o teu universo frígido, aprendi a acalorá-lo com afeto…
“Permita-me amar-te…” — Sussurraras. E eu permiti… assim te rogo, permaneças. Não te cinjas à vingança — olvides os males e banhe as tuas fissuras com azeite de ternura. Estou aqui por ti, tal como estive desde o início.
Por favor…
Com ardor,
Saeeri
Teu amor trouxera-me a escuridão; querido, o teu inferno cativou-me o peito cuja vida efêmera protege. Os sigilos do teu corpo enfermo, cicatrizaram-se…