Balada Vampiresca

MidjourneyAI

“Despair has its own calms.”

— Drácula, Bram Stoker

 

Uma sombra a cavalo se movia 
Sob as chuvas torrenciais de agosto,
Uma capa escura o protegia
Enquanto um chapéu ocultava seu rosto.
Aquela silhueta de animal e cavaleiro
Negrume cobria a forma por inteiro;
A luz dos raios azuis o guiava,
Trovões ecoavam como chamados,
Na escuridão estes clangores ressoavam.
A parede branca de uma casa avistara
Com a pouca luz que ainda perdurava
Do cair da tarde com as nuvens escuras.
Pelo caminho enlameado, as pedras duras,
E a casa ainda ao longe se encontrava.
Se havia hora de chegar, já passara o tempo,
Pra quê se apressar? Anteciparia o lamento
Ou então era um equívoco, mas só tinha uma maneira
Para saber qual o destino: passar pela soleira.
Atingiu já bem tarde a construção abandonada
No horário que vira a data, hora malfalada,
Quando acontecem as coisas pavorosas,
Ainda mais nestas sinistras noites chuvosas.
E, no volume de uma nova enxurrada, 
A água pingava daquela capa encharcada,
O mato tomava algumas paredes caídas, 
Um muro se estendia adiante das vigas,
O casarão imponente da época colonial,
Uma casa grande há muito esquecida
Afogada nos novos tempos e no temporal.
Era certeza de ali haver nenhum vivente,
Nisso nenhuma alma esteve impelida,
A certeza não era uma sensação querida,
As ruínas ocultavam algum ar comovente
Cercadas de mato, espinhos e árvores mortas;
À frente um grande portão de ferragens tortas
Subia entre as pedras, um caminho desgastado,
Um túmulo, então, surdo de um esplendor sepultado
Trazia, na decadência, a escuridão conservada
Como as grutas sinistras na beira da estrada.
Assim, desceu da sela, frente à entrada,
Desembainhou uma lâmina, revelou seu fio,
Checou a extensão do corte e a escada subiu,
Não há o que duvidar, era prata, por certo,
Reluzia e fulgurava aquela língua triangular 
Contrastando a extrema escuridão do lugar.
Foi entrando prudente no salão deserto,
A adaga à frente e a garrucha por perto,
Foi penetrando na ameaçadora escuridão
Procurando um aposento naqueles destroços,
O escuro e o medo causaram um tremor;
Ele não percebeu, mas pisava em ossos
Enquanto caminhava pelo corredor.
Viu uma claridade e uma porta aberta
E um mal pressentimento o desperta,
Adentrou o cômodo na procura ávida,
E uma mulher morta estava ali deitada,
O corpo estendido e a pele pálida.
Reconheceu a feição no rosto da amada...
O breve luto deu lugar ao desespero,
Pudesse ter passado por tal desterro
Em perder quem mais amou,
Mas o amor não vai tão cedo
Mesmo apesar do pavor e do medo.
A lágrima cadente, o sangue não compensou...
Se por sangue, derramado em vão,
Exigido frente à face da morte,
Mais exigente é, então, o perdão
E mais violento que o preciso corte.
Este outro sangue, a fúria incendeia,
Efervescido, corre o furor nas veias,
Chora como a chuva lá fora...
Torrencial desespero que vela a sepultura,
Seu olhar vermelho apavora;
Para esta perda não há nenhuma cura,
Mas, eis que o inesperado acontece!
Abre os olhos a mulher que está deitada,
Mas, tem algo de errado, olhando parece
Que ela jamais esteve acordada;
Não se move como a um corpo convém
E, mesmo serena, seu olho é vermelho também;
Se ergue do leito contrariando a Osíris
E o vermelho nos olhos está nas suas íris;
Estalam-se estes olhos como se ofuscados,
Mas, no escuro, sem luz para serem incomodados,
Vagarosamente ela começa a acordar
De um modo desconjuntado, sem calor interno,
Seus movimentos são como o espreguiçar
Só que de quem acorda no inferno,
Ele, que chora por ela derramando lágrimas,
Não sabe a que prece ou atitude recorrer,
Mas não são lágrimas que ela deseja ter...
Impediu seus avanços nas últimas lástimas,
A força de um animal toma o corpo feminino,
Retorce seus membros sem nenhuma dor causar
Como um tenebroso desenho do império bizantino.
O rosto inocente já não é mais familiar,
Transfigurava a face e a musculatura
E de uma bela mulher tornou-se horrenda criatura,
Não há espaço para dúvida, era a maldição otomana,
A vê-la assim, preferiria vê-la sob as chamas,
Era algo terrível que ele não poderia suportar,
Os horrores que aquele olhar voraz revela
Toma seu corpo nos braços, naquele relutar,
A ponta da adaga mirada no peito dela.

Texto publicado na 3ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datada de março de 2024. → Ler edição completa

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