A Verdade sobre o mundo: Nemonium
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Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula
No limiar onde o tempo se parte,
e o azul-cinza sangra o real,
trovões sussurram em fendas abertas,
dançando na pele do imortal.
Ninguém escapa. Ninguém se esconde.
O frio arrasta as eras perdidas,
neve e vento beijam ruínas,
e sombras nascem onde o tempo morre.
Esferas se chocam, mundos se dobram,
gritos dissolvem-se no denso véu.
Seres sem nome rasgam a trama,
e o Nada expande seu negro céu.
Monm observa. Olga esquece.
O castelo dança na eterna espiral.
Realocado, despedaçado,
flutua em névoa espectral.
Pois aqui jaz a verdade oculta,
a forma real do que é e sempre foi.
Além do véu das horas vazias,
onde a razão se desfaz e se dói.
E quando tudo enfim se aquieta,
quando o caos engole sua própria cor,
o limiar respira, silente,
pronto para outro torpor.
Ninguém escapa. Ninguém se esconde.
Nem a carne. Nem a alma. Nem o horror.
Tekeli-li, sussurram os ventos,
num idioma que só o abismo ouviu.
Texto publicado na Edição 13 da Revista Castelo Drácula. Datado de fevereiro de 2025. → Ler edição completa
Weslley Cunha é um escritor cuja obra mergulha nas profundezas da existência humana e nos labirintos da mente, explorando temas que dialogam com a filosofia existencial e fenomenológica e psicanálise. Graduado em Letras, especialista em Literatura e mestre em Ciências da Linguagem, ele combina seu conhecimento acadêmico com uma sensibilidade única para a narrativa. Suas paixões literárias incluem a investigação das fronteiras…
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