Imagem criada e editada por Sahra Melihssa para o Castelo Drácula

Cultivada no seu próprio solo, a maldade humana é uma brincadeira de mau-gosto do acaso; uma construção perversa do sistema; uma condição morbígera da vida. Ela é o sopro contrário na natureza que, mesmo criadora da bênção da razão, não se vê livre das suas deficiências excepcionais, entretanto, quando a exceção é mais comum que o anfêmero, os papéis de invertem. 

Posso ousar em dizer que a maldade humana está essencialmente alojada na ignorância — os véus do desconhecimento do que é ser; o manto da insipiência causado pelo circunstancial. Entretanto, a escolha individual ainda tem um papel fundamental e, por vezes, ela não excede seu apedeutismo. Isso me leva a crer que a ignorância é fruto híbrido de duas espécimes putrefatas: decisão subjetiva e influência do meio. 

O ego é outro culpado; necessitar, pois, pertencer a algo além de si, quando não se basta em seu próprio interior. Ser capaz de quaisquer atrocidades para sentir tal dopamina-do-pertencimento — a qual, por sua vez, é sempre uma mentira bem-contada. Ou, ainda pior, ser capaz de horrores por não estar pertencido; buscar vingança e dar sofrimento a outrem por puro ego ferido. O cúmulo da ignorância. 

O conhecimento, a informação e a sabedoria se aliam para dissipar essas tendências doentias, porém, não se resolvem em si mesmos. Do conhecimento, espera-se mentes capazes de assimilá-lo; da informação, espera-se mentes capazes de refutá-la e comprová-la; da sabedoria, espera-se mentes capazes de compreendê-la. Se, para evitar que a maldade floresce em seu cerne, é preciso cultivas tais capacidades — as quais não se igualam a uma tarefa simples tal qual respirar — percebemos que, a cada nova geração, a escassez da maldade parece mais utópica. 

Ainda lidamos com a tendência humana em achar que conhecimento é saber da verdade e defendê-la — quando, na verdade, conhecimento é eterna busca por infindáveis verdades e a quando se começa a defender uma única ideia “perfeita”, torna-se idealismo. Ainda lidamos com a comum ideia de que a informação é tudo aquilo que nos vem de encontro no mundo — quando, na verdade, informação é base de averiguação de fatos. Continuamos erroneamente crentes de que a sabedoria é um estado sublime, religioso ou pertencente apenas aos idosos que viveram demais e sabem muito— quando, na verdade, ser sábio é ser capaz de compreender toda a forma de existência sem o filtro da sua própria vida — crianças são boas nisso e, portanto, têm mais sabedoria do que idosos, adolescentes ou adultos. 

A maldade humana, portanto, floresce onde as certezas adubam a mente; onde os egos são a verdade líquida que rega a terra psíquica. A maldade humana se ascende diante da maldade humana — alimentando-se ad aeternum. Indiferença, inveja e mágoa são o capim d’este jardim imundo e violento. É mais fácil, enfim, deixar que as coisas sigam os caminhos quais já foram trilhados — quão árduo é ser mestre nas três capacidades essenciais contra a maldade humana! Quem está disposto? Quem estaria disposto? Quem ousaria a tal disposição, mesmo sabendo que passará por injustiças, não terá o ego agraciado, sofrerá mais do que os outros e ainda verá a decadência com os olhos bem abertos? Quem resistiria? 

É uma escolha e, como tal, tem o ônus e o bônus. É uma escolha e, como tal, se não for conscientemente tomada, há de ser imposta como uma faísca infernal acesa sem consentimento. Das verdades do mundo humano, eis uma das minhas preferidas: Não duvide da sua capacidade de ser influenciado, muito menos de ser convencido — isso acontece a todo o instante. Não acredite. Sempre pense por si mesmo. Faça suas escolhas e esteja consciente das consequências. E, se me permite, que a prudência e a empatia sejam as únicas certezas da sua vida — as únicas que merecem ser defendidas em uma guerra política


Escrito por:
Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. No túmulo da sua literatura gótica, a autora entrelaça o terror, horror e mistério com a beleza mélea, o fantástico e o botânico, como em uma valsa mórbida… » leia mais
16ª Edição: Soramithia - Revista Castelo Drácula
Esta obra foi publicada e registrada na 16ª Edição da Revista Castelo Drácula, datada de maio de 2025. Registrada na Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Castelo Drácula. © Todos os direitos reservados. » Visite a Edição completa.

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