Imagem criada e editada por Sahra Melihssa, para o Castelo Drácula

O que esperamos da existência efêmera que pertence ao nosso ser? Há muitos sentidos para serem criados e sustentados pelas idealizações e crenças que floresceram em nós sem que, por vezes, pudéssemos perceber. Para a Psicologia, o “dar-sentido” é o valor real do ser que somos; entretanto, ainda sinto que há algo que nunca será amordaçado pelo discurso do ânimo: essa angústia tão familiar, que se manifesta de infindáveis formas.

Na imensidão mórbida do inautêntico, vemos o cansaço ofuscar o lume da angústia, vemos a hiperestimulação construir seu palácio de vidro ao redor do abismo desta aflição muda — o silêncio soturno é ouvido mesmo quando o alarde, dentro e fora de si, é inominável. Mesmo ocupados demais para nos voltarmos a nós mesmos, o poço da nossa constituição faz-se cada vez mais fundo — e não há como impedi-lo.

Mesmo assim, insistimos. E a rolagem infinita, guiada pelo nosso dedo indicador, é o glitter que cega nossos olhos, e vicia. Ora choramos, ora rimos; em frações de segundos, temos uma descarga mental absurda. Ora nos preocupamos com as contas mensais, ora rezamos pelo fim do mundo. A angústia é o pano de fundo de um cotidiano abarrotado de razoabilidade.

Podemos temer uma nova pandemia, a terceira guerra ou, ainda, a revolução das máquinas; a mudez ensurdecedora do espírito continuará perturbando nosso banho de dopamina, deixando um rastro úmido de desalento sôfrego. E, quanto mais o tempo passa, estando cada vez mais soterrada, a angústia, uma hora, torna-se maior do que aquele a quem ela pertence — mesmo oprimida e muda, mesmo tão ínfima como uma farpa.

Uma crítica é apenas uma crítica; uma verdade é sempre mais do que uma verdade. Podemos deixar as redes sociais? Podemos abraçar o tédio? O tempo transfigurado em infinito sem um ecrã luminoso para a bel lascívia psíquica? Não podemos. E os que podem estão mortos — incapazes de lidar com o tamanho de suas angústias ou iludidos pelo ego de suas pseudo-superioridades sobre a massa que consideram ignorante.

Estamos dispostos a discordar e questionar, não estamos dispostos a pensar, quietos.

Há anos — é minha percepção — não escrevo pensamentos e reflexões, tomada pela sensação de que meu pensar trará ódio daqueles que vagam, almas vagantes, na world wide web. Intolerantes por toda parte. E eu mesma, talvez, veja a hipocrisia no espelho. Ornamental e sublime hipocrisia. Pela constância com que me vejo nesse mundo, a Matrix dentro da Matrix, um sonho dentro de um sonho, eu não poderia pensar diferente disso.

Mas o que mais dói no silêncio da minha angústia é o quão alto ela grita e o quão solitária ela faz eu me sentir.

Texto publicado na Edição 14 da Revista Castelo Drácula. Datado de fevereiro de 2025. → Ler edição completa

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Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.

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Capítulo 9 – Perturbadoras Revelações