Lucy

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“Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la.” – Dante Alighieri

Londres – janeiro de 1898

Após ter sofrido toda a dor possível —  e impossível — ao ter revelado meu amor à pessoa amada e não ter sido correspondida, fui indicada pelo Dr. Seward, durante nossas sessões psicoterapêuticas, a me distrair de alguma maneira, a fim de esquecer um pouco as dores do amor e do mundo. Foi quando passava pela Oxford St. no retorno para casa e vi uma espécie de boutique na qual nunca havia reparado que existia ali —  o que era raro, já que mamãe fazia questão que eu soubesse cada nova loja de roupas e cosméticos que Londres pudesse ter. Confesso que fui seduzida a entrar na nova boutique, primeiramente porque o cheiro ambiente que os funcionários mantinham na loja era doce e também porque as cores dos vestidos que estavam na vitrine eram de um colorido que eu nunca havia visto antes. As funcionárias daquela loja eram todas muito atenciosas e apesar da maioria das estampas dos vestidos e roupas de baixo serem bem alegres, o que despertou o meu senso de consumismo fora um vestido cinza escuro. Instintivamente, fui até o vestido, a fim de perguntar a uma das atendentes se eu poderia experimentar, porém, no mesmo momento em que fui em busca da roupa, uma outra mulher, de um loiro quase branco acabou perguntando ao mesmo tempo. Ficamos surpresas ao ver que perguntamos pelo mesmo vestido e percebi que a mulher me olhava – mesmo que discretamente – por todos os lados a fim de analisar se meu gosto poderia ser tão parecido com o dela, já que aparentemente, mesmo que eu venha de uma família de posses, ela possuía um requinte e fineza sem igual, até bem diferente dos habitantes de Londres. Apresentamo-nos e naquele momento descobri que a mulher que aparentava seus 30 e poucos anos se chamava Alexia. Conversamos um pouco e Madame Alexia me informou que era nova ali —  apesar de conseguir falar inglês fluentemente e sem sotaque —  e me disse que vivia há pouco tempo em Londres, que recentemente viera de Bucareste, na Romênia, pais que pouco eu havia escutado falar e tão pouco conhecia os costumes. Ela possuía uma beleza peculiar; a pele e os cabelos muito claros e os olhos de um estonteante tom de azul.

Informalmente, Madame Alexia me convidara para tomar o chá das 5 horas em sua nova residência —  que se localizava na Abbey Road —  , o que não faltava muito, já que eram por volta das 4:30 e como era inverno, Londres já se encontrava completamente escura desde às 3 horas da tarde. Por muita insistência lhe prometi que iríamos juntas em sua carruagem, mas informei que eu não demoraria muito, pois já era noite e eu não queria preocupar minha mãe. Chegando a residência de Madame Alexia, percebi que o ambiente era muito aconchegante, apesar da decoração envolver a temática sobre répteis, sobre tudo ao que dizia respeito às serpentes. Havia um espelho em cima do buffet da sala que possuía uma moldura trabalhada em madeira escura, era muito bonito apesar de ter sido moldado sob a desenho de uma grande cobra. Logo que perceberam que eu havia adentrado a sala, os criados da casa vieram com todo o aparato da cozinha, a fim de não demorarem muito a servir o chá. A mulher parecia estar confortável, pois se encontrava em sua casa, mesmo sendo uma imigrante, parecia que aquele local era o seu reino, que fora transportado juntamente com ela da Romênia, e parecia não sentir falta de nada. Após conversamos mais um pouco e ela ter me dito que estava em Londres e ficaria um longo tempo, pois precisava resolver algumas questões pessoais como problemas com o sogro —  que segundo ela vivia em Londres há algum tempo e agora se encontra com problemas de saúde —  senti que após ter bebido o chá, que me encontrava um pouco cansada e sonolenta e então quando finalizamos nossa conversa, tentei me levantar e caminhar até a porta, porém vacilei e desmaiei.

Quando acordei, o ambiente já não era a sala de estar de Madame Alexia. Estava em um ambiente totalmente desprovido de claridade; não fazia ideia de onde me encontrava. Foi quando o local ganhou um pouco de luz que percebi que estava em uma espécie de calabouço e com a luz percebi que vinham três pessoas em minha direção. Quando as luzes das velas se aproximaram de mim, percebi que ali estavam três mulheres e estas possuíam aparência familiar com a de Madame Alexia; todas eram muito pálidas e os cabelos muito claros. Ao lado da que carregava o candelabro e as velas, uma das mulheres carregava alguma criatura que parecia de grande porte e peçonhenta. Foi quando se aproximaram mais ainda de onde eu estava que percebi que ali encontrava-se uma grande serpente.

Conto publicado na 1ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2024. → Ler edição completa

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Thais Gomes

Thais Gomes é apaixonada pelo universo Gótico da Literatura, sua formação é em Letras Português/Espanhol e sua obra mais recente, ainda está sendo produzida, é Contos Vampirescos, uma releitura de muitos personagens do Drácula de Bram Stoker. Inspirada em clássicos como Edgar Allan Poe, Lord Byron, Álvares de Azevedo, e contemporâneos como André Vianco e Eduardo Spör; a autora explora o universo da literatura gótica com maestria e suas narrativas estão imersas no mais puro mistério. Além de escritora, Thais é produtora de eventos, cantora e musicista.

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