Resenha: Jane Eyre

Foto e Liza Abreu

Jane foi criada praticamente como uma estranha, sem nenhum afeto por parte de sua tutora, sra. Reed, contando apenas com a boa vontade de uma das empregadas de ‘’Gateshead Hall’’, onde vivem. Tempos depois, Jane é enviada à instituição Lowood, um colégio interno com métodos de ensino duros e de situação precária, onde faz uma grande e curta amizade com uma jovem bondosa de nome Helen, e assim aprende sobre si mesma e espiritualidade.

Em sua fase adulta, e perfeitamente educada, Jane decide deixar a instituição a procura de um emprego, e imediatamente recebe uma resposta convocando sua estada na mansão Thornfield Hall, com a finalidade de instruir e educar a pupila do proprietário da mansão, sr. Rochester — personagem esse que chama a atenção de Jane desde o início por sua personalidade enigmática e opiniões controversas. Juntos, preceptora e patrão, desenvolvem uma relação de amizade e paixão devastadora, um relacionamento o qual subverte as opiniões de Jane e toda a sua percepção de moralidade e racionalidade.

Uma obra instigante por apresentar toda a complexidade dos sentimentos humanos, e acompanha particularmente a trajetória de uma jovem mulher da época vitoriana, expondo seus pensamentos e controversas posições a respeito de seu papel como mulher trabalhadora carecida de liberdade e compreensão das regras sociais, uma vez que toda sua sabedoria e independência não lhe permitem os mesmos direitos que os demais indivíduos do sexo masculino. 

De forma sensível, a obra debate a independência feminina e as angústias que enfrentamos ao fugirmos da "normalidade", ou o quão assustador e perigoso pode ser seguir apenas o coração. É comum lermos sobre esses aspectos e naturalmente nos identificamos em como se aplicam à época atual, contudo, me veio a reflexão sobre como tais questões provocaram os leitores do século dezenove, uma vez que pensamentos relacionados ao sentimentalismo, de forma escandalosa para os moldes da sociedade vitoriana, despertaria a reflexão e a relação do comportamento de grande parte da população, homem ou mulher, diante da quebra de padrão imposto em diversas instituições, como exemplo, o casamento.

Destaco também a construção do mistério envolvendo a mansão Thornfield Hall e o suposto fantasma o qual amedronta a protagonista e possivelmente (apesar da explicação lógica impressa no desfecho da trama) representa a preocupação de Jane pela mudança repentina de seus sentimentos e igualmente ao casamento e a responsabilidade que o mesmo representa.

Resenha publicada na 1ª edição de publicações do Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2024. → Ler edição completa

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