Baile de Máscaras
Sob o arco dourado do salão brilhante,
desliza a vida em passos intrigantes.
Um baile onde máscaras não revelam a verdade,
trocando sorrisos por vãs efemeridades.
Os lustres pendem como estrelas à espreita,
clareiam espectros, a cena é perfeita.
Rostos de plástico, esculpidos em dor,
olhos que choram o que fingem ser amor.
Cada giro no chão polido e vazio,
desafia o compasso de um tempo sombrio.
Nesse baile, numa roda incessante,
dançam memórias que soam distantes.
Os violinos gemem notas como um pranto,
um coro feito de sombras se eleva num encanto.
Os pares deslizam, frágeis, quase febris,
cada qual preso a sonhos que são infantis.
Longos vestidos arrastam fantasmas antigos,
pisando em lembranças, relembrando castigos.
O salão se enche de dores trazidas pelo vento,
cada passo dos pares ecoa como um novo lamento.
No canto mais frio do salão, sem brilho ou candura,
há olhos sem máscaras que estão cheio de amargura.
Eles observam calados o mundo que está a girar,
sabendo que um dia o baile irá terminar.
Pois a vida, em sua essência, é uma dança perdida,
um jogo de erros até a inevitável despedida.
E quando a música, enfim, silenciar,
as máscaras irão cair, será a hora de parar.
Então ficaremos no salão desfeito e escuro,
rodeados por sombras, no destino obscuro.
O baile se finda, e a ilusão se consome,
e a escuridão nos devolve o próprio nome.
Texto publicado na Edição 12 da Revista Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2025. → Ler edição completa
Residente de Dom Pedrito/RS, Cláudio Borba formou-se em Contabilidade e escreve contos de terror e poemas geralmente melancólicos. Ele faz parte de diversas antologias de contos e poéticas de diversas editoras. E atualmente trabalha para lançar seus livros de contos e poemas. Cláudio se inspira em Stephen King e Clive Barker em seus contos, e é um grande fã de Bukowski. A escrita do autor é direta, rápida e de fácil leitura. Escreve escutando metal,…
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