Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Abria os relicários das casas em que entrava, remexia fotografias e roubava pedaços de carta. Amaria tanto o mar... e quão bela era a Macedônia! Morria de medo do altar, e ria à virgem, medonha, sempre em vigília no canto do corredor. Morria de medo de alma, corria do escuro à cama e cobria-se de lençol. Lascivo horror...

“Menina travessa, menina ruim!”

Quebrara outra louça de herança... e como lhe odiaria sua avó! Se ao menos conhecesse...

Fervilha a noite, mexe com ela o demônio da indignação... Cansada de ser menina velha, cansada de ser trapo. Miserável e, ainda assim, vestida em tecido de qualidade, pendurada, todo dia, num urso pardo. De pano, é claro!

— Não quero, não, senhor. Tenho medo de ir pro inferno — E deságua a cachoeira, volta de sapato sujo, vestidinho ensopado. Crueldade com a empregada, “menina ruim, criatura da minha raiva.”

Vigia, vigia a janela, Emilinha, que é pra nenhum bicho entrar; vêm lhe buscar, vêm comer os vestidos e rasgar as novelas. Vêm-te punir, pois tu és melindrosa! Vêm buscar-te a alma.

E corria, outra vez, pra debaixo do lençol.

“É a última vez que roubo retrato! É a última, senhor!”

Texto publicado na Edição 13 da Revista Castelo Drácula. Datado de fevereiro de 2025. → Ler edição completa

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