Entre Estações
Na meia estação, entre a primavera e o verão,
há um sussurro quase imperceptível,
talvez seja o respirar das folhas que se preparam
para a chegada do calor,
mas ainda sentem o frio da estação passada.
Nesse limiar, os dias, embora mais longos,
carregam o peso de uma oculta melancolia.
As árvores se vestem de verde
e o céu começa a queimar lentamente,
e desta forma a natureza quase hesitante,
teme o futuro que a aguarda.
Os ventos carregam sussurros de mudança,
e também uma memória que se recusa a morrer.
E assim somos nós,
presos nesse limbo entre a promessa e o esquecimento.
O calor da juventude se esvai
como as flores murchas aos pés de um jardim esquecido,
e, no entanto, ainda há vida,
ainda há esperança, pois, sementes ainda caem,
mesmo sabendo que o ciclo vai se repetir.
A meia estação é a metáfora perfeita para o humano,
para quem vive sempre no limite,
entre o que sonhou e o que alcançou,
entre o sorriso que se foi e as rugas que agora aparecem.
Como a natureza,
somos escravos de ciclos invisíveis,
presos em um tempo que não nos pertence,
mas sim ao eterno agora,
um instante suspenso onde tudo parece estar por vir,
mas onde tudo já começou a desvanecer.
Os campos, antes verdes,
agora são salpicados de tons que prenunciam
o dourado da morte lenta,
e nós, caminhamos por esses campos,
sentindo o peso do que fomos,
o desejo de ainda ser mais,
mas com medo de sucumbir ao calor do destino
que se aproxima com o sol a pino.
O verão que está chegando é o fim de uma era,
um momento de plenitude que traz consigo
o fardo inevitável da decadência.
Cada passo que damos é uma lembrança de que,
assim como a flor que desabrocha,
também murchamos com o tempo,
a beleza dá lugar ao desgaste,
o vigor à fragilidade que nos aguarda.
Na meia estação, nos olhamos no espelho
e vemos os traços de uma primavera que já passou,
mas que nunca nos deixou por completo.
É nesse ponto de transição,
que encontramos nossa verdade,
somos tanto o nascer, quanto o murchar,
tanto a promessa, quanto o fim.
E, mesmo assim, ainda caminhamos,
ainda sentimos o vento suave
que, por um breve momento, nos lembra
que existimos entre o tudo e o nada.
E talvez seja isso que nos define,
a meia estação da vida,
onde não somos totalmente jovens
nem completamente velhos,
onde nossos sonhos ainda florescem,
mesmo sabendo que o verão
não tarda a chegar,
com sua luz e suas sombras profundas.
Texto publicado na Edição 10 - Aborom, do Castelo Drácula. Datado de outubro de 2024. → Ler edição completa
Residente de Dom Pedrito/RS, Cláudio Borba formou-se em Contabilidade e escreve contos de terror e poemas geralmente melancólicos. Ele faz parte de diversas antologias de contos e poéticas de diversas editoras. E atualmente trabalha para lançar seus livros de contos e poemas....
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