Andreas, Luz e Sombra

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula

Entre estantes de saber e livros calados,
Eu a vejo, Andreas, flor que jamais tocarei.
Tão próxima e, ao mesmo tempo, inalcançável,
Caminha entre intelectos e vozes eruditas,
Mas seu silêncio é o que mais ecoa em mim. 

Seus olhos, castanhos claros, são o sol em fuga,
Ora frágeis, brilhando como uma chama tênue,
Ora intensos, como se guardassem segredos ardentes.
Oh, que mistério habita seu olhar,
Que ao cair do dia, brilha como estrelas apagadas?

Sua pele, alva como o mármore dos antigos deuses,
Reluz sob a luz dourada da tarde,
E seu cabelo, meio loiro, meio ruivo,
Ondula como as páginas de um livro que nunca poderei ler.
Sua franja, caindo sobre os olhos, a esconde
E a revela — única, distante, encantadora.

Ah, Andreas, sempre em negro vestida,
Tão introspectiva, afasta-se dos círculos ruidosos,
Busca nas sombras das bibliotecas sua paz,
Enquanto eu, perdido em vãos olhares,
A contemplo como quem deseja o impossível.

No pátio iluminado, entre discussões acaloradas,
Você brilha com uma luz que não é do sol.
Mas nos cantos de penumbra, onde os sábios se retraem,
Seu vulto se funde ao mistério,
E eu, preso à distância, só posso cumprimentá-la
Com a fria formalidade de quem sangra em silêncio.

Que dor é essa que me consome,
De estar tão perto e, ainda assim, exilado de você?
Ah, Andreas, será que jamais saberei
Se teus olhos flamejantes me veem além da saudação?

Em cada encontro, meu coração se esvai,
Pois seus gestos suaves são para todos, menos para mim.
E nas sombras da biblioteca,
Eu escrevo poemas que nunca lerás,
Sonhando com um toque que nunca terei.

Mas, ainda assim, teu nome ecoa em meu ser,
Andreas, Andreas, musa que o destino me nega,
E enquanto existirem livros, enquanto houver luz e sombra,
Eu permanecerei aqui, condenado a contemplá-la,
Silenciosamente, eternamente, sem jamais ser notado.

Texto publicado na Edição 10 - Aborom, do Castelo Drácula. Datado de outubro de 2024. → Ler edição completa

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