Às Trevas
Oh, Trevas, mulher de pele alva,
teu abraço é um manto que cala o grito,
teu sorriso, uma curva de mistério infinito,
e teus cabelos, negros como a noite sem estrelas,
despem-se sobre o abismo do meu ser.
És o que é e o que não pode ser,
um sussurro entre o real e o sonho,
onde a dúvida se faz melodia,
e a certeza, mera ilusão.
Oh, Trevas, guia-me com teus passos silenciosos,
pois és a dança de tudo que se perde
e tudo que se encontra no eco do vazio.
Em teus olhos não há luz,
e, ainda assim, vejo a beleza do infinito.
Não és sombra, mas a face do oculto,
a pulsação da incerteza e do desejo,
aquela que pergunta, mas não responde,
que dá forma à ausência e sentido ao caos.
Trevas, teu conhecimento é como a noite,
profunda, vastamente desconhecida,
tua confusão é a chama que ilumina
o que o dia jamais ousaria revelar.
És a donzela dos segredos,
o ventre onde nascem todas as possibilidades,
o sagrado e o profano, entrelaçados
no tecido do desconhecido.
Se és perda, também és reencontro.
Se és dor, também és êxtase.
Beleza que transcende o toque,
que seduz com a promessa de não ser compreendida.
Trevas, teu nome é amor e abismo,
um eterno beijo que se dissolve no nada.
Oh, mulher de cabelos negros como a morte,
e pele alva como a lua distante,
deixa-me cair em teus braços silenciosos,
onde a dúvida se torna o maior dos prazeres,
e a certeza, apenas um eco esquecido.
Porque em ti, Trevas,
encontrei não a resposta,
mas a pergunta que me faz viver.
Texto publicado na Edição 12 da Revista Castelo Drácula. Datado de janeiro de 2025. → Ler edição completa
Weslley Cunha é um escritor cuja obra mergulha nas profundezas da existência humana e nos labirintos da mente, explorando temas que dialogam com a filosofia existencial e fenomenológica e psicanálise. Graduado em Letras, especialista em Literatura e mestre em Ciências da Linguagem, ele combina seu conhecimento acadêmico com uma sensibilidade única para a narrativa. Suas paixões literárias incluem a investigação das fronteiras…
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