O desejou a vida inteira. Secretamente clamou por sua chegada. Nada no mundo a deixava mais radiante do que a ideia de reencontrar aquele ser com o qual se esbarrou ainda jovem. Entre noites em claro e sonhos profanos, seguia o esperando.
“É um milagre”, diziam. “Quem cruza com criatura tão torpe não sai impune. E a criança nada sofrera.” Em seu íntimo sabia que sua alma fora despida naquela súbita noite.
Agonizando em seus próprios anseios pensou que não resistiria. Mas os ventos de outono a despertaram. O temor invadiu os corações alheios, mas o seu, bombeava devaneios.
E quando o céu escureceu, o chão foi tomado por vermelho carmesim. O horror instaurado era um prelúdio anunciado.
Suas vestes cor de marfim deslizavam pelos rastros de sangue. Cada célula de seu corpo se agitava em deleite. Olhos na escuridão emergiram a seu encontro… era ele!
Como se flutuasse, em segundos já estava em seus braços. O amante secreto a segurava com leveza. Pela primeira vez pôde o olhar com clareza. Não poderia descrever sua face, mas gemeu quando sentiu que lhe perfurava sua carne.
O sangue que escorria de seu pescoço ia de encontro com o sangue que invadia a barra de sua camisola. Em êxtase desfaleceu, mas como noiva da morte, renasceu.
Ana Kelly, natural de São Paulo (SP), é poeta, escritora, contista e artesã, sócia-proprietária da loja de acessórios e artigos alternativos, Ivory Fairy. Tem poemas e contos publicados como co-autora em diferentes antologias. No ano de 2009 recebeu o prêmio de 1º lugar, em um concurso…
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