A Vingança
A Vingança: Envenenamento
Pupila-lua ao céu mui laranjim,
Crepúsculo de lânguido calor,
Servido Funghi ao Creme-Galarim
E à mesa estão os convivas em horror;
“Alguém envenenara Dom Mortez!
Ninguém, este recinto, deixará!
E traga-os, da cozinha, de uma vez!”
— Dissera — “O culpado expor-se-á!”
A noite s'inclinava umedecida;
“Que o réu revele agora o assassinato!”
De súbito — as velas — distorcidas,
A chama pontiaguda, o breu-regato
De mórbido ar regélido e terrível;
Anae Mortez: “Que olor tão putrescível!”
O espírito sibila: “Vizir... rato...”
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A Vingança: Verdades
Um rasgo em sua garganta. Anae, o fim...
Uníssono de assombro enlouquecido,
E Correm todos, gritos e motim,
Enquanto Nohn ofende o seu cupido;
O sangue em flúmen, ela apodrecendo...
“Amava-te, mi'a Anae...” — Silêncio horrente,
O bravo detetive estremecendo...
“Nohn, casa-te comigo...” — a voz pruriente;
Os olhos esgazeados, puro medo;
Anae aos braços dele: decomposta,
Sorrindo lhe revela um vil segredo:
“Vindita aos imorais Mortez, exposta
Está toda a verdade no porão...”
Mil corpos esfolados, que aflição!
O caldo especial da Sopa à Tosta.
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A Vingança: Descoberta
Nohn vira Anae pútrida e possuída,
A morta co'a verdade que confessa
Que a vil família, em peso, era homicida
E o cárcere, o porão… Nohn logo apressa:
“Chamai-vos a polícia… que já basta…
Amá-la foi um erro, e eu sempre soube…
Seus olhos âmbar, doces, alma casta…
À mala, meu ser tolo, mui bem coube”;
Cuidavam das perversas evidências,
Convivas abalados, decadentes…
“Fantasma vingativo? Que ocorrência!” —
Dissera alguém p'ra outrem, pouco descrente,
Até que viram, pois, cadáver-Dinho
“Receita, Sopa à Tosta " em pergaminho.
Virara, o cozinheiro, o ingrediente.
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A Vingança: Razões
“Querido Vizir Dinho, traga a janta!”
— Dissera Luhna — “Há fome a me atingir!”;
“Grã-mestre dos sabores! Anae, canta!”
À mesa pôs-se o pão para cerzir;
“Qoe santhis dorvirmor devatte ziinm”
Cantara enquanto a sopa era servida,
Porém, no degustar, pleno festim,
Mortez, o Dom, presença requerida;
Estranha carta entregue, sugerindo
Que Dinho era um covarde traidor:
Mudara a grã-receita, confundindo.
“Sabia!” — Vociferara o Dom, no agror.
Então desembainhada a adaga — Morte!
Vizir sangrara à sopa, pouca sorte,
“Ó rato! Morra agora, opositor!”.
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A Vingança: Receita (Final)
Colha alguma abóbora vistosa,
Marine ao sangue fresco d'um infante,
Prepare o moedor que, para a Tosta,
Precisa pó de ossos de gestante;
Cuidado para o ponto, ponha sal!
Na massa da torrada vai farinha;
À sopa: um limão, uma dorsal,
Tomates frescos, mel e pimentinha -
Com alho, o creme-queijo, abundante,
Afogue a manjerona e as nove línguas
Enquanto ao forno as tostas. Fascinante!
Polvilhe a seca tez, não tenha mínguas!
E sirva com liquor de olhos castanhos;
Os crânios de bebês têm bom tamanho,
São belas cumbuquinhas ou morínguas.
Aborom! Larajim d’esta manhã | Desponta a quint’essência de meu ser; | O frutossangue: mélica romã | D’arbórea que m’encanta a aquiescer;…