A Vingança

Imagem criada e editada por Sara Melissa de Azevedo para o Castelo Drácula
A Vingança: Envenenamento
Pupila-lua ao céu mui laranjim,
Crepúsculo de lânguido calor,
Servido Funghi ao Creme-Galarim
E à mesa estão os convivas em horror;
“Alguém envenenara Dom Mortez!
Ninguém, este recinto, deixará!
E traga-os, da cozinha, de uma vez!”
— Dissera — “O culpado expor-se-á!”
A noite s'inclinava umedecida;
“Que o réu revele agora o assassinato!”
De súbito — as velas — distorcidas,
A chama pontiaguda, o breu-regato
De mórbido ar regélido e terrível;
Anae Mortez: “Que olor tão putrescível!”
O espírito sibila: “Vizir... rato...”
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A Vingança: Verdades
Um rasgo em sua garganta. Anae, o fim...
Uníssono de assombro enlouquecido,
E Correm todos, gritos e motim,
Enquanto Nohn ofende o seu cupido;
O sangue em flúmen, ela apodrecendo...
“Amava-te, mi'a Anae...” — Silêncio horrente,
O bravo detetive estremecendo...
“Nohn, casa-te comigo...” — a voz pruriente;
Os olhos esgazeados, puro medo;
Anae aos braços dele: decomposta,
Sorrindo lhe revela um vil segredo:
“Vindita aos imorais Mortez, exposta
Está toda a verdade no porão...”
Mil corpos esfolados, que aflição!
O caldo especial da Sopa à Tosta.
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A Vingança: Descoberta
Nohn vira Anae pútrida e possuída,
A morta co'a verdade que confessa
Que a vil família, em peso, era homicida
E o cárcere, o porão… Nohn logo apressa:
“Chamai-vos a polícia… que já basta…
Amá-la foi um erro, e eu sempre soube…
Seus olhos âmbar, doces, alma casta…
À mala, meu ser tolo, mui bem coube”;
Cuidavam das perversas evidências,
Convivas abalados, decadentes…
“Fantasma vingativo? Que ocorrência!” —
Dissera alguém p'ra outrem, pouco descrente,
Até que viram, pois, cadáver-Dinho
“Receita, Sopa à Tosta " em pergaminho.
Virara, o cozinheiro, o ingrediente.
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A Vingança: Razões
“Querido Vizir Dinho, traga a janta!”
— Dissera Luhna — “Há fome a me atingir!”;
“Grã-mestre dos sabores! Anae, canta!”
À mesa pôs-se o pão para cerzir;
“Qoe santhis dorvirmor devatte ziinm”
Cantara enquanto a sopa era servida,
Porém, no degustar, pleno festim,
Mortez, o Dom, presença requerida;
Estranha carta entregue, sugerindo
Que Dinho era um covarde traidor:
Mudara a grã-receita, confundindo.
“Sabia!” — Vociferara o Dom, no agror.
Então desembainhada a adaga — Morte!
Vizir sangrara à sopa, pouca sorte,
“Ó rato! Morra agora, opositor!”.
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A Vingança: Receita (Final)
Colha alguma abóbora vistosa,
Marine ao sangue fresco d'um infante,
Prepare o moedor que, para a Tosta,
Precisa pó de ossos de gestante;
Cuidado para o ponto, ponha sal!
Na massa da torrada vai farinha;
À sopa: um limão, uma dorsal,
Tomates frescos, mel e pimentinha -
Com alho, o creme-queijo, abundante,
Afogue a manjerona e as nove línguas
Enquanto ao forno as tostas. Fascinante!
Polvilhe a seca tez, não tenha mínguas!
E sirva com liquor de olhos castanhos;
Os crânios de bebês têm bom tamanho,
São belas cumbuquinhas ou morínguas.
Texto publicado na Edição 10 - Aborom, do Castelo Drácula. Datado de outubro de 2024. → Ler edição completa
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e criadora de Ars OAN mor — para apreciadores de sua literatura intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. Ars OAN mor é o pertencente recôndito de Sahra e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Leia mais em “Sonuras”:
Melíflua, te entorpeças no sonhar; | Visões de horror e encanto surgirão | E salva na tu’angústia vais estar | Enquanto lamentar teu coração;…
Temer tornar-se póstuma poeta | Amarga-me a ponto d’um malfeito: | Tirar d’um literato a sua costela | E pô-la, ensanguentada, no meu peito…
Mui bela, azulínea, pulcro aroma… | Enflora desolada finitude… | Ó, pétalas de seda! Eis meu sintoma: | Saudade… terra úmida, ataúde…
Somníria lar-origem, perfeição! | D’essência pulcra, nébula d’horror; | Anseios, medos: pulsa o coração, | Conduz à fé e ao morbo-arquitector…
Aborom! Larajim d’esta manhã | Desponta a quint’essência de meu ser; | O frutossangue: mélica romã | D’arbórea que m’encanta a aquiescer;…
Sinopse: Uma morte por envenenamento é causada durante o banquete de Aborom e agora todos os convivas, em especial o Detetive, precisam descobrir quem é o assassino.
Virente arbóreo e úmido arrebol | Intenso verdinegro evanescente… | O fogo à vela é o único bel sol, | Enquanto uma elegia é confidente;...
Virente alfombra, um manto surreal | Curvando nas estantes, relva e flor, | Abaixo d’um solar transcendental, | Um flúmen próprio rega o esplendor; ...
Azul luar, amor d’um vil talvez… | Eterno sussurrar-te, adocicado… | A tua natureza e profundez, | Paixão de meu desejo delicado…
Alguém verá esta noite, que estrelada, | A sós vislumbro em toda a imensidão? | E mesmo que a perceba agraciada | Compreende seu sabor de solidão? …
Estás n’est’alma lôbrega tão minha, | Resides ou, quiçá, no corpo meu? | Silente agora, vens cruzar a linha | Que tênue marca em mim o sangue teu?
Orquídeas negras tecem a ninguém, | Silêncio aveludado no jardim, | Apresso-me temendo vir alguém | Desperto pelo horror do olor carmim;…
Amado, esta invernia quando vem, | Na tua serenidade apaziguante, | Almejo o aconchego que nos tem | Somente em nosso leito lacrimante;…
No dia que o revés lhe bate à porta, | ele escuta a notícia lastimável | e implacável de que ela agora é morta, | que jaz num mausoléu inviolável….
No erguer-se do luar alcantilado | Crocita um corvo enquanto sou lamúria | Assusto-me e o percebo afortunado, | Pois voa contra o vento da penúria;…
“Angústia vil… sou rígida fereza… | A morte lacrimal de teu semblante… | Tormento me convida à tua pureza | Olvidas-me a pensar ser delirante…”
Co’as pálpebras cerradas… eu mui sinto | “Evoque à tua memória em meninez | Ao leito d’uma morte…” — ouço e pressinto | “Brutal que preservei tua languidez…
Atento o meu olhar “Quem és, ó Dom” | Indago n’agonia em mim crescente“ | Herói que salva ou mal que ofende o ambom? | Por que me causas mágoa caulescente…
Ouviu Dama Sonura a lacrimar | Com alma e solidão, preces soturnas, | Ao sopro d’um abismo à chuva-lar | Que dela faz as letras tão noturnas;…

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Adentro no mor lôbrego Castelo | Tal corpo em algor mortis, tão mordaz… | Soturno a mim murmura sobre um elo | Dest’alma condenada que me faz;…