Noites de Vidro
Olhos que me enxergam através do tempo, lamúrias de almas perdidas na cidade dos rejeitados, a floresta grita sob o vento de tempestade, mas você não ouve mais nada. Desenvolva suas desculpas elaboradamente, cuidadosamente, sem negar suas emoções, sem negligenciar suas ações, pois o grande juiz te observa atentamente sobre a pilha de crânios daqueles que foram sentenciados.
Mil formas distorcidas de amor eterno, mil formas retorcidas de amor real, mil formas esquecidas de amor mortal. Não existe caminho sem volta quando o destino não passa de um sonho interrompido no meio da noite, pelo som do choque de um automóvel em alta velocidade contra a parede de uma boate interditada. Carne, sangue e aço. Deite sua cabeça em meu colo e me deixe alisar seus cabelos úmidos.
Abri a caixa de sapatos empoeirada e arranquei o rosto das velhas fotografias que hibernavam em seu interior. Momentos congelados no tempo, memórias aprisionadas em eterna estagnação. Provas irrefutáveis de um pedaço do fluxo constante de pequenas conexões que chamamos vida. A pergunta não formulada ainda vai te matar.
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Toda fotografia é uma imagem que carrega o espectral: a morte. O instante fotografado jamais será vivido novamente; assim jaz um tempo que passou…
Ando pelo único caminho que se atravessa na neblina cinza. Preciso chegar; devo estar atrasado. Inóspito. Inseguro. Lanço dúzias de preces e continuo…
Observo da janela o vazio lá fora; tudo está abandonado, assim como eu aqui dentro. O silêncio é preenchido apenas pelo sussurro do vento…
Perdida na confusão dos meus pensamentos, me encontro prostrada nas ruínas da minha própria existência. Em um receptáculo onde os raios…
A vida é se jogar de um parapeito sobre um copo d’água para sentir o tamanho do frescor do pomo da discórdia. O mundo parido em infinito vazio…
Caminho hesitante pelo brejo, onde infinitos sons se desprendem e se libertam na atmosfera densa. Consigo distinguir os sapos, que coaxam suas...
Olhos que me enxergam através do tempo, lamúrias de almas perdidas na cidade dos rejeitados, a floresta grita sob o vento de tempestade…
Profundo silêncio entre os vestígios de vida sob o manto da madrugada. Se somente vozes fossem ouvidas, o que elas diriam? Com quem se confessariam?…
Que tipo de presa seria, oh nobre e cruel rainha, se me entregasse por completo aos teus lascivos caprichos? Que tipo de serva seria se buscasse tua boca…
Novamente sinto o sabor pecaminoso em seus lábios vitrais. Como um beijo seco recebo em meu âmago a doçura ébria que somente teu…
Me enclausuro na grande convicção de tais pensamentos. Quão denso meu ser está inerte ao viver?…
Condenei-me a viver entre paredes de concreto e pedra fria, quando minha mente queria fugir para as florestas, admirar a altura das árvores…